domingo, 24 de setembro de 2017

ROGER


Um dia de muito sol nascia Roger, um menino valente, corajoso, mas frágil fisicamente. Ele nascera com uma má formação na retina, que nem cirurgia resolveria, portanto, o garotinho ficara cego desde o nascimento.
Não foi nada fácil para Michele e André receberem a notícia daquele modo. Houve um certo desespero. O que fazer agora? Como cuidar de uma criança deficiente? De algo eles tinham certeza_ o amariam ainda mais e cuidariam dele, dando o melhor deles, mesmo sem saber se o que estavam fazendo era o certo, mas que pais sabem o que é certo como pais de primeira viagem?
Eles o levaram a um oftalmologista e a uma associação para deficientes visuais para saberem como lidar com ele e ensiná-lo a ter uma vida mais independente, se adaptar.
Os pais não o mimavam em excesso, pois seria prejudicial para a independência dele. Ele era moreno, forte, esperto, sorridente e às vezes bem bravo.
Todos amavam brincar com ele, pois dificilmente estranhava alguém.
Ele já com um ano estava começando querer andar sozinho, era independente, já sabia se arrastar por toda a casa sem  bater em nada.
O tempo passou, ele cresceu e  tornou-se um rapaz bonito e independente. Ia a todos os lugares com sua bengala, às vezes contava com ajuda das pessoas, e fazia até café sozinho.
Ele era brincalhão, e fazia todos rirem a sua volta. Era estudioso, mas não do tipo nerd, era bem sociável.
Seu maior sonho era trabalhar em uma empresa, mas mesmo já tendo se formado em psicologia, não conseguia vaga em nenhum lugar.
Como tinha uma voz forte, marcante, ele procurou por emprego numa rádio da sua cidade de Mineiros, em Goiás e por uma graça grande, eles lhe deram um emprego como radialista, para dar as notícias das dez dá manhã até o meio-dia. Ele não estava mais suportando ficar em casa sem nada para fazer, sentia- se um inútil e às vezes ia a associação para deficientes visuais. Ele já havia aprendido muita coisa, inclusive ler e escrever em braile, na verdade ele só continuava indo para não perder contato com os amigos que fez por lá, especialmente Giovani seu melhor amigo. Eles saiam e divertiam-se juntos, tinham uma afinidade de irmãos.
Ele estava com vinte anos e nunca havia ficado com ninguém.
Um dia ele desabafou com seu amigo, que gostava de uma moça, Alexia, uma adorável ouvinte da rádio. Ela o reconheceu na praça um dia a noite quando o ouviu conversar com Giovani, pois sua voz era inconfundível e logo se aproximou, pediu desculpas por incomodar e se apresentou. Conversaram por um tempo, deram boas risadas e bastou para ele se encantar por ela. Ele mal sabia que ela também se encantou por ele, mas não tinha coragem para dizer-lhe. Neste assunto era muito tímida. Não conseguia ser moderna que chega no homem e já o seduz. Ela não sabia como ser sexy, embora para Roger ela era muito sexy, mesmo sem poder vê-la. A voz rouca e alegre dela quando falava, sua risada escancarada sem vergonha de ser ela mesma. Era mais sexy do que usar uma roupa provocante, da qual ele não podia ver.
Um dia trabalhando na rádio, uma ouvinte liga e pede uma música e pra sua surpresa era Alexia, porque ela fez mais do que pedir uma música atual, sua amada pediu Como é grande o meu amor por você e disse: Roger, essa música é para você, pois descobri que eu te amo. O colega pôs a música para tocar.
Ele simplesmente ficou sem fala, emocionado e conseguiu dizer um eu te amo com a voz embargada com  tamanha emoção.
Seu amigo Giovani e Alexia haviam armado tudo  isso, juntamente com o colega de rádio, Nathan. O programa de Roger saiu do ar e ele saiu para se encontrarem, mal sabendo ele que ela já estava lá esperando-o ansiosa.
Giovani apareceu e o guiou até ela e ele sem entender o porquê de seu amigo estar ali, mas começando adivinhar o que estava acontecendo. Alexia o abraça pela cintura e ele sentindo seu perfume que o inebria sempre também a abraça por um longo tempo e em silêncio ele toca seu rosto e vai beijando-a  até encontrar seus lábios e beija-la suavemente.
Eles começam a namorar e em seis meses se casam. O dia mais feliz de suas vidas. Um casamento bonito, mas simples, sem luxo, pois não tinham dinheiro para gastos supérfluos, apenas compraram uma cama de casal, guarda roupa, pois morariam com os pais de Roger. Ambos não tinham condições de alugar uma casa, comprar móveis e pagar contas básicas, comprar comida, mas ajudariam os pais dele no que fosse possível.
A relação deles era de harmonia, cumplicidade, diálogo, respeito e muito amor. Discussões bobas raramente tinham, mas é normal, nada que uma conversa e uns beijos não resolvam.
Passaram-se alguns anos e ele conseguiu uma bolsa para seu mestrado, quando Alexia o surpreendeu com uma gravidez.
Ele quis desistir, mas ela não deixou. Nunca se deve desistir do sonho, ou deixar passar oportunidades, pois às vezes elas só passam uma vez na vida.
Ganharam Brenda e seis meses após ele conseguiu passar no seu mestrado. Foi uma grande vitória, pois ele e Alexia passavam a noite estudando, ela lendo pra ele.
Roger é um homem valente, pois nunca desistiu de nada e sempre correu atrás e assim será, de sorriso no rosto e esperança no coração. Continua na rádio, pois tem uma família para manter.
Ele nos mostra que uma deficiência não é um monstro, apenas choca no começo, mas nada como o tempo para nos fazer adaptar a realidade, aos limites e levando a vida da melhor forma possível. Às vezes dá vontade de parar no meio do caminho,  porém, sempre existe quem nos encoraje a prosseguir e continuar lutando até o fim.

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