domingo, 24 de setembro de 2017

LEONA


Leona era uma criança linda; alta,  de olhos castanhos, corpo mignon, ingênua, não conhecia totalmente as partes ruins e difíceis da vida. Até que do nada começou sentir dores nas mãos, pés e com o passar do tempo, em mais articulações. Ela e seus pais foram a inúmeros médicos, ela fizera diversos exames de todos os tipos e nada era descoberto, mas finalmente, depois de um longo ano de dores; noites sem dormir com a mãe, Laura, do lado; perdendo aulas; o pai, Gregory, tendo que levá-la no colo para não ter tanta falta; sem conseguir andar direito pelas manhãs; uma médica especialista a diagnosticou, como Artrite Reumatóide Juvenil. Somente ela e seus pais sabiam  pelo que passavam, mas impossível descrever aos demais. Toda a família sofria ao vê-la perder peso, tomando vários medicamentos nas crises, sofrendo. Leona muitas vezes pensou em parar de lutar, mas resistira ao máximo, lutava fazendo fisioterapia constantemente por causa dos pais. Ela foi crescendo e suas limitações, deformações,  só aumentavam devido a doença. Ela não suportava a dor ao andar e precisou se render a cadeira de rodas depois de uma certa relutância por parte dela e dos pais, mas ao contrário do que pensavam, foi a melhor atitude que tomaram. Ela começou a ver o que antes não dava para observar através do carro. Antes, até andar em casa era muito doloroso para ela, devido as sequelas deixadas pela doença. Seus pais sacrificavam suas vidas e sofriam escondidos por causa dela, pois ambos sentiam-se impotentes ao verem a filha naquela situação e eles sem saberem o que fazer para acabar o sofrimento. Ela sofria dobrado, pois além das dores havia também o sentimento de peso, de  sentir que só atrapalhava as vidas de quem ela tanto amava.
Na escola não era muito diferente, especialmente quando havia festinhas e via todos dançando e ela ali presa àquela cadeira.
Na vida de Leona também havia muitos momentos alegres com suas amigas; reuniões em familia,  horas de muitas risadas; conversas
 de adolescentes; ela dançava no seu jeito e limite, pois ainda ama dançar.
Chegou a ficar alguns anos sem andar nada após uma cirurgia que infelizmente não deu o resultado esperado e nesse meio tempo, seu pai Gregory adoeceu e quase um ano depois eles perderam-no. Foi muito difícil para ela, já que seu pai era um pai maravilhoso e muito companheiro, mas pior ainda foi para sua mãe, Laura, que teve que tomar conta de Leona e administrar uma casa agora sozinha, lidar com seu outro filho que estava rebelde na adolescência sem aceitar bem a morte do pai. Leona fez várias cirurgias, continuou o tratamento e felizmente voltou a andar e isso deu um pouquinho de independência para ambas, mas só depois de mudar de estado e começar a faculdade de letras tudo melhorou. O tratamento totalmente diferente tem dado ótimo resultado a olhos vistos, pois hoje ela trabalha e faz o que antes não conseguia sozinha, apesar dela querer fazer muito mais, ajudar mais sua mãe, mas sempre que se esforça mais suas dores a vencem. Fez amigos, conheceu muita gente, estuda italiano.  Ela teve muitas paixonites, tanto na vida real, quanto na virtual, mas nenhum se tornou namorado, teve poucos ficantes. Ela não é santa, nem pretende ser, mas também não é qualquer uma e se orgulha disso. Só espera um dia se sentir amada por alguém real, pois de virtual ela já se desiludiu muito. Ela só queria se sentir bonita e interessante como tantas mulheres que ela vê, conhece e que com certeza não pode competir, pois os homens não conseguem vê-la além dos seus limites.
 Como será o fim de  Leona? Arrumará um namorado algum dia? Ela deixará de se sentir um peso para quem ama e um incômodo para as pessoas quando sai para passear nas ruas com sua cadeira?

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