quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

DECISÃO

 

Justine estava sentada à beira de um abismo, onde um córrego corria lá embaixo como uma linha entre muros altos de pedras. Uma paisagem de tirar o fôlego.Enquanto olhava para o horizonte e os pés balançavam no ar, as lágrimas vinham aos seus olhos e deixavam sua visão um pouco turva pelas emoções ali contidas. As memórias da infância e adolescência surgiam como um enxame de abelha a perturbá-la.

Há um ano sua vida não tem feito mais sentido e ela procurou aquele lugar tão lindo como fonte de coragem para fazer o que seria o melhor para ela. Justine estava em um dilema entre tentar mais uma vez e lutar ou dar a chance para si mesma de acabar com todo seu sofrimento que parecia não ter fim.

Justine estava desempregada há uns meses e era humilhada pela família desde que se entende como gente, pois a viam como fracassada; não podia realizar o sonho de ser mãe; não tinha mais amigas, já que o ex-marido a afastou de todas. Ele era um homem violento, muito ciumento e embora ele tivesse todos esses defeitos, ela se via dependente dele. Ele se cansou dela  dela um dia e a deixou em frangalhos.

Que motivação ela teria para querer seguir em frente?Ela pensava consigo mesma; ou ao menos pensava que estes pensamentos vinham dela.

Justine só via a escuridão que tomava conta de sua alma e não suportava mais viver sob o mesmo teto da família. Era como se estivesse em um filme de terror o tempo todo. Eles a faziam de empregada e batiam nela; sua mãe a odiava de forma fulminante. O pai tinha abusado da filha na adolescência e a mãe a fazia usar roupas velhas, feias para o marido não desejá-la mais. A mãe morria de ciúmes do marido. Justine estava muito magra e nem se sentia um ser humano, sentia-se pior do que o lixo que jogava fora pela manhã. O cachorro Bob, seu único amigo, era mais bem tratado do que ela. Aquela jovem já havia pensado em se prostituir para conseguir um dinheiro e sair dali, mas sua mãe dizia que nem para vender o corpo ela servia, um canhão daqueles e ria. Tudo aquilo entrava nela como algo verdadeiro e ali se firmava, enquanto sua alma se afundava mais e mais em algo sombrio. Ela tinha conseguido sair escondida e correu para aquele abismo,  talvez sua única saída.

Entretanto, nada estava perdido. Sempre há um pingo de esperança, por menor que seja. Seu coração ainda pulsava forte quando pensava em fugir da casa, da cidade. Era um resquício de fé, esperança que ali restavam e que a fazia sorrir. Ser livre era seu maior  ou único sonho.

Ela ouviu alguém gritando seu nome, era Jordana, sua melhor amiga na infância e adolescência. Ela soube que Justine tinha sido deixada pelo marido e foi procurá-la em casa, mas a mãe dela disse que a amiga não estava e então foi para o lugar favorito delas para conversarem em paz na adolescência.

Jordana, o que faz aqui? Como me encontrou? Ela olhava para a amiga com cara de espanto e até certo alívio. No fundo, ela não queria fazer aquilo, mas não via jeito de sua vida mudar, então quando Jordana apareceu foi como um pequeno bálsamo e alegria para sua alma. Algo que ela não sentia há um longo tempo.

Elas contou sua vida, então Jordana decidiu levá-la para casa da mãe em outra cidade. A amiga merecia recomeçar a vida e ela ajudaria no que fosse possível. Ela levou Justine até sua casa, onde a fez tomar um  bom banho, deu-lhe algumas peças de roupa que havia separado para doação, que felizmente caiam bem na amiga. Elas então partiram para a casa da mãe de Jordana.

Justine nunca mais voltou, nem olhou para trás. Esperava um novo destino que escreveria com ajuda de Jordana. Ela estava grata a Deus por não ter feito nada contra si mesma e por ter colocado um anjo que a tirou da escuridão em que se encontrava. 

Justine agora parecia uma outra mulher, até ganhou um pouco de peso, arrumou trabalho como faxineira, se cuidava mais. Ela estava feliz e emitia agora uma luz  interior, uma alegria que antes desconhecia. Ela descobriu que tinha valor, é bonita e que não devemos nunca desistir.  Às vezes é muito difícil continuar, tem momentos que é quase impossível, porém sempre tem a esperança de que tudo pode mudar e que não está sozinha(o). 

 

 

 

sábado, 26 de dezembro de 2020

O CAFAJESTE PROFISSIONAL

   


  SEDUTOR


Marcelo morava em Napoli, na Itália, até vir visitar o Brasil, onde apaixonou pelas praias nordestinas, a alegria e calor humano dos brasileiros. Poucos meses depois de resolver sua vida em seu país, lugar onde já não era bem-quisto devido à fama de conquistador, ele vem morar de vez em Recife. Marcelo era marceneiro, porém o que o destacava era o seu jeito de conquistar as pessoas a sua volta, especialmente as mulheres, com seu sotaque charmoso, sua maneira de falar que envolve as pessoas na forma firme e ao mesmo tempo meiga. A verdade era que ele necessita de se sentir amado, aceito por todos. 

Marcelo é um homem atraente, portanto, ele usa a aparência ao seu favor, além de seus outros pontos fortes na arte de conquistar mulheres, especialmente as casadas. Ele tem a sensibilidade de perceber quando uma mulher precisa de se sentir notada e desejada. Aquele homem chega aos poucos, envolve-a com elogios, uma conversa que flui facilmente e um olhar doce. Ela então se lembra que o companheiro não a percebe há um tempo, o relacionamento esfriou, não há mais diálogo ou desejo como no começo e tudo isso mexe verdadeiramente com aquela mulher. Embora ela saiba que está errada e que deveria insistir mais com o  parceiro, ela se sente tão exausta de fazer tudo sozinha, de tomar a maioria das decisões, de ter diálogos sem resultado, que resolveu dar-se uma chance de se sentir mulher de novo - não apenas esposa, mãe e dona de casa. No entanto, ela vive em um conflito interior por dias até que resolve chutar o balde e pensar em si mesma. Isto acontece com a maioria das mulheres que saem com ele. Umas se arrependem depois, outras não e querem mais vezes, entretanto, ele nunca sai com a mesma depois que conseguiu seu objetivo.

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CONFLITOS


Quando chega ao seu apartamento a culpa e o vazio o corroem por dentro. Seduzir é como um vício que  ele queria se livrar.

Marcelo tem noção de como as mulheres ficam destroçadas depois que as deixa, muitas delas apaixonadas; no entanto, para aquele rapaz tudo não passa de um jogo inevitável que ele quer parar, mas não consegue.

Um dia quando atravessava a rua deparou-se com uma das mulheres que em um tom bem baixo, quase que por leitura labial o chamou de cretino e o encarou com um olhar cheio de fúria, decepção, sentimentos dos quais ele já conhecia há muito tempo. Ele reconhece o quanto tem sido cretino com elas, todavia, não consegue desvencilhar-se da sensação de poder ao seduzi-las. O interessante é que não é apenas a beleza da mulher que o faz querer seduzi-la, mas o quanto elas resistem ao seu charme; seja por princípios religiosos, medo de ser descoberta, ou por amor ao parceiro.

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A MUDANÇA DE VIDA E DE CIDADE


Marcelo é o filho mais velho de três irmãos, porém ele foi o único a herdar tal característica. O rapaz já tentou até hipnose para se livrar; entretanto, o tratamento serviu para se autodescobrir e percebeu que tudo tem vantagens e desvantagens.

Ele começou a olhar para si e notou que seu dom de seduzir tornava-o mais próximo das pessoas que convivia e com o passar do tempo, do vínculo que criavam, elas passavam a gostar realmente dele e confiavam a ele segredos íntimos, os quais ele passou a sentir honrado de ser digno e prometeu a si mesmo que nunca os trairia. Marcelo passou a ter uma paz no coração, alívio na alma quando os ajudava. 

Aquele jovem lançou um projeto no bairro onde morava; era um lugar humilde, mas com pessoas boas, corações generosos; ele ensinava a sua profissão de marceneiro para jovens dos quinze aos trinta anos e no fim do ano eles distribuíam os presentes para as crianças mais novas no natal. O gesto para ele era como uma retribuição de carinho e sinônimo de gratidão por recebê-lo tão bem ali. Para ele, as crianças e os jovens são o futuro desse planeta, senão os ensinasse o que realmente importa na vida, tudo o que foi criado antes deles seria em vão, seria destruído.

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O PASSADO DOLOROSO


 O que mais o persegue são os pesadelos contínuos com os seus pais. Um sonho em que o pai olha para eles e a esposa com um olhar de pedido de perdão e sai cabisbaixo com as malas na mão, então o chão de repente se abre e eles caem numa escuridão, uma queda sem fim, onde sua mãe os gritava, mas a voz dele era a única que sua ela não ouvia e o gritava até não haver mais som algum. Ele cai em um lugar cheio de homens bravos perguntando pelo seu pai e que seria igual, que então acabariam com ele no lugar, então Marcelo acorda assustado e suado.

O pai fez  sua mãe chorar inúmeras vezes, pois a deixava sozinha com as crianças e só voltava no outro dia cedo para trabalhar, ele era pintor. Ela sabia que ele a traía e isso a machucava profundamente na alma, pois o amava demais. O pai um dia simplesmente foi embora, mas sem se despedir e deixou uma carta na mesa de jantar, a qual fez o coração de sua mãe se partir de vez e a vida deles mudar completamente. O pai escreveu:

"Mari, sei o quanto sofre por minha causa e por saber que merece uma vida melhor, eu espero que encontre um homem que a ame e que escolha a família ao invés de sair por aí conquistando mulheres,  então eu os deixo. Os meninos merecem um pai atencioso, que os levem para sair, um pai menos egoísta. É mais forte do que eu. Peço perdão a você e às crianças. Adeus. Anthony."

A partir dali Marcelo precisou trabalhar desde os dez anos entregando panfletos de mercados para sustentar a família, cuidar dos irmãos e da mãe que se prostrou na cama de tanta tristeza. A mãe sempre amou o pai dele mais do que os próprios filhos e quando partiu ele levou a vida dela junto, pois a mãe se entregou, não quis tratamento e dizia que sem ele na vida dela era melhor morrer. Ela sequer pensava no que os filhos sentiam ao ouvir uma frase daquela. 

Um dia Marcelo não aguentou aquela angústia no peito ao ver a mãe daquele jeito sofrendo por um homem que não a amava como merecia, então perguntou-lhe porque os teve, já que preferia o pai deles. Ela respondeu que realmente amava o marido mais do que a própria vida e que os teve na esperança de que ele ficasse mais em casa, mas foi em vão. Aquilo doeu em Marcelo como uma facada que atravessava seu coração e sua alma, pois descobriu que eles nunca foram amados pelos pais. Ele nunca perdoou o pai por ter herdado dele o vício de conquistar mulheres, nem de ter feito aquilo com aquela mulher. A partir daquele dia ele nunca mais a chamou de mãe, porém a perdoou quando viu que era apenas uma pobre mulher que nunca se amou o suficiente para ter forcas para lutar por ela e pelos filhos. Três anos após a partida do pai a sua mãe morre de coração partido. Logo após o enterro os levaram para um abrigo onde os irmãos foram adotados poucos meses depois e ele ficou até atingir maioridade e lá ele era o xodó das cuidadoras. Marcelo perdeu o contato com os irmãos, agora precisava cuidar de si mesmo. Ele arrumou emprego com um homem muito generoso, Genaro, numa marcenaria, na qual ele trabalhou por vários anos, aprendeu o ofício e ficava em um quarto aquecido na marcenaria. Ele era muito grato. No entanto, ele não conseguiu resistir e ficou com a filha casada daquele amigo, que se apaixonou, ele então precisou ir embora assim como o pai fez e abandonou o homem que tanto o ajudou. Ele então se mudou de país, na busca de esquecer e deixar para trás seu passado. Marcelo se perguntou se um dia chegaria a se apaixonar por uma mulher. Ele conquistava as solteiras, mas eram as casadas que causavam frisson nele.

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O ENCONTRO


Um dia, já em Recife ele conheceu Vanda, uma mulher com personalidade forte e que lhe disse na lata:

_Eu sei da sua fama de conquistador, Marcelo, mas comigo você não terá nada, pois não faz meu tipo. Aliás, nem casada eu sou. 

Pela primeira vez ele sentiu algo diferente, aquela mulher havia mexido com ele e se desafiou a conquistá-la. No entanto, Vanda não se rendeu aos encantos daquele italiano charmoso. Ele não queria mais outra, porém precisava testar seu poder, pois já começava a duvidar do seu encanto. Realmente ele ainda não havia perdido a prática, porém não lhe deu prazer algum, só culpa e arrependimento. Ele passou a pesquisar sobre seu pai, precisava encontrá-lo para ter algumas respostas, mas ainda não conseguiu rastreá-lo.

Ele a encontrou na rua e contou-lhe que havia decidido ter a amizade dela sem segundas intenções e apesar de ela não acreditar resolveu dar-lhe um voto de confiança. 

Eles começaram a sair, conversar e se conhecerem melhor. Ela passou a ver um Marcelo diferente do que lhe falaram. Ela então passou a entender porque tantas pessoas gostavam dele, Vanda também passou a gostar daquele homem e realmente considerá-lo um amigo. Ele passou a admirá-la ainda mais pela vida que tinha e por não ter largado a toalha.

Vanda ficou órfã logo que nasceu, não conheceu o pai, seus tios não eram os mais carinhosos do mundo, ao contrário, ela apanhou muito enquanto morou com eles e era feita de doméstica para continuar lá. Ela nunca estudou, portanto, não sabia ler; as roupas e sapato que tinha eram tudo doação, logo após a morte dos tios foi trabalhar de doméstica na casa de um casal, onde se apaixonou pelo patrão, que era atencioso com ela, usou-a  e a mandou embora alegando que tinha levado homens para lá na ausência deles, só para a esposa não descobrir a traição dele. Ela não desistia tão fácil e continuou a lutar, seu desejo era aprender a ler e ser alguém na vida. Por ter morado na casa onde trabalhou ela conseguiu juntar um pouco de dinheiro e foi procurar uma pensão. Vanda convenceu a dona a deixá-la usar a cozinha, onde a jovem começou a fazer brigadeiros para vender, olhando as receitas no youtube pelo celular. Ela è muito inteligente. Vanda passou a sair nas ruas vendendo brigadeiro e até conseguia vender um pouco. Tinha dias em que não vendia nada, em outros era surpreendida vendendo tudo, mas precisava pagar a pensão e o ônibus para ir a escola. Ela se matriculou numa escola pública onde tinha aula para adultos durante a noite. Vanda sentia a necessidade de um novo rumo para sua vida. 

Aquela jovem andava sob sol quente  e chuva todos os dias e depois chegava, tomava um banho e ia à escola. Às vezes tinha vontade de desistir, mas ela aprendeu a persistir mesmo cansada, afinal, ela tinha um objetivo. Quando ela percebeu que começou a ler e escrever, seu coração se encheu de alegria, esperança; ela se sentiu capaz pela primeira vez. Quando tudo parecia indo bem, apesar das dificuldades do dia a dia, ela foi notificada pelo fiscal da prefeitura que precisava de autorização para sair vendendo e era caro, além das normas para deixar tudo segundo as normas de higiene e documentação. Ela realmente pensou em parar, mas como pagaria a pensão ou iria estudar? Não poderia desistir agora. Sua determinação, persistência e força são admiráveis. A dona da pensão propôs ajudá-la com a autorização e para deixar tudo nas normas, então ela pagaria um pouco a mais todo mês depois que começasse a vender mais. Vanda nem acreditou e aceitou a proposta. 

Um mês após tudo arrumado ela voltou a vender e seguir sua jornada. Suas vendas felizmente aumentaram e ela cumpria o combinado. Sua vida ia prosperando aos poucos, com muitos sacrifícios.

Marcelo propôs ajudá-la colocando seus brigadeiros no mercadinho do amigo na comunidade, entretanto, o orgulho e o receio de que ele usasse isso para conseguir o que queria dela quase a fez desistir desta oportunidade. No entanto, ele percebeu que algo a incomodava, afinal, ele conhecia as mulheres e perguntou o que aconteceu e ela lhe contou. Sinceridade era uma das características mais marcantes de Vanda Lopes. Ela estava envergonhada, não queria pensar mal do amigo, mas ele tinha uma fama e ela já tinha sido usada antes. No fundo, ela se sentia tão vulnerável, mas ela usava uma armadura que a protegia, pelo menos assim ela pensava.

Ele a abraçou e disse que sua intenção era somente ajudá-la um pouco, pois merecia. Que havia mudado muito, isso graças a ela e que nunca se aproveitaria de uma amiga. Ela enfim aceitou a oferta e sua vida começou realmente a melhorar. A conexão e amizade entre eles ficavam maiores e mais profundas.

Marcelo estava orgulhoso de si mesmo pela mudança e por fazer algo por quem amava sem segundas intenções. Ele nunca mais havia saído com mais ninguém. Mal se reconhecia.

“Será que amar era a solução de seus problemas e só tinha descoberto agora? Ele pensou."

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A BUSCA


Ele voltou a buscar pelo pai e os irmãos, mas era muito difícil, pois certamente mudaram de nome ou sobrenome, não sabia para onde os irmãos foram, mas não desistiria. O pai certamente não havia mudado do país

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AUTOCUIDADO


O projeto crescia e mal tinha tempo para si mesmo ou para ver a amiga, que no fundo de seu coração desejava algo mais romântico.

Um dia ele resolveu colocar instrutores que já tinham aprendido o ofício para ensinar a outros jovens; assim teria um tempo para malhar, correr e voltar ao corpo de antes. Ele agora podia visitar Vanda que vendia no mercadinho e não precisava mais ficar sob o tempo todos os dias. Marcelo também tinha mais tempo para conversar com as pessoas, se reconectar com elas, que há um bom tempo não conversava. Ele voltava a ser quase o homem de antes, mas evoluído.


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MUDANÇA DE SENTIMENTOS


Ela agora estava mais tranquila, pois além de não ficar mais sob o sol, já tinha pagado tudo o que devia a dona da pensão, que era muito grata pela confiança e carinho. Vanda estava cada vez se sentindo mais realizada com suas conquistas, pois estava lendo muito bem e escrevendo também, havia até feito amigos na escola. No entanto, ela não esperava que seu coração fosse fazê-la se apaixonar novamente e por Marcelo, apesar de ter notado a mudança dele no lado mulherengo e conquistador. Ele estava diferente, até esqueceram de sua fama.

O seu medo é que depois que se declarasse para ele, aquele homem a deixasse sozinha, como se fosse apenas mais uma conquista dele. Então deixou o tempo e seu coração dizer-lhe o momento certo

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ENCONTRO DA FAMÍLIA


Marcelo conseguiu encontrar seu pai, que se encontrava na Cicília, região da Toscana, onde começou uma nova profissão de enólogo, um bom entendedor de vinhos e sua produção para conquistar mais mulheres. Apesar de estar velho, seu pai ainda mantinha seu charme e poder sedutor em forma. Ele então viajou para a Itália e encontrar com seu passado a fim de ter respostas.


Seu pai se encontrava com cabelo grisalho e mais calvo, os músculos não estavam tão aparentes como da última vez que o tinha visto, mas o sorriso e olhar ao passar pelas mulheres não mudaram. Ele havia saído raríssimas vezes com o pai na infância e percebeu o quanto eles eram parecidos nos trejeitos. O seu medo de não deixar de ser como o pai veio à tona. O seu conflito interior era intenso, pois sentia que não era o mesmo de antes, mas e se...?

Ele finalmente se deparou com o senhor Antony e o chamou:

_Pai, eu vim até aqui para conversarmos e eu enfim ter muitas respostas das perguntas que não saem da minha cabeça e acabar com os pesadelos.

_Marcelo, meu filho, nunca pensei que o reencontraria. Seu pai o abraçou com alegria pelo reencontro e culpa pelo que fizera aos filhos.

Por mais que aquele homem quisesse abraçar o pai, aquele menino que foi abandonado por ele ressurgiu lá do fundo da sua alma, onde estava escondido há um longo tempo e não o permitiu reagir, pois havia mágoas ainda não curadas em seu coração.  

_Como estão sua mãe e irmãos? Fiquei com receio de procurá-los e atrapalhar suas vidas. Eu vim para cá desde aquela época para tentar uma nova vida, mas resta um remorso profundo aqui dentro.

Ele ainda se encontrava armado de ressalvas, não conseguia se soltar. Eram muitos sentimentos pulsando dentro dele naquela hora... Raiva, ressentimentos, abandono, falta de amor, medo...

_Minha mãe faleceu três anos depois que o senhor nos deixou por tristeza devido a sua partida, pai.  Nós fomos para um abrigo, onde meus irmãos foram adotados em poucos meses e eu fiquei até conseguir a maioridade. Ali eu recebi o que nunca recebi de vocês: amor, carinho e cuidado.  

Assim que o senhor se foi, eu tive que trabalhar e tomar conta de uma mulher que nos teve para prendê-lo em casa, mas que foi em vão, que se entregou à morte e também cuidar de duas crianças menores e sabendo que nunca fomos amados por nossos pais egoístas. Eu fui feliz lá no abrigo sim, apesar das circunstâncias. Eu estou pesquisando para ver se encontro os dois, mas ainda nada.

O coração do seu pai doeu muito e sangrou ao ver como tudo havia desabado com a sua partida. Não esperava por tudo aquilo, muito menos que o sofrimento dos filhos seria tão grande, especialmente de Marcelo, que enfrentou tudo sozinho. Com a voz embargada pelo nó em sua garganta causado pela emoção ele tentou falar.

_Eu te peço perdão, meu filho. Eu realmente não esperava que desse uma reviravolta tão trágica e difícil na vida de todos vocês. Eu lamento de verdade. Minha única intenção foi que a situação de vocês melhorasse com minha partida. Queria que sua mãe encontrasse outro homem e digno, bacana, que os amasse e cuidasse como eu não cuidei. Ela sempre foi muito intensa e apaixonada por mim, porém não esperava que reagisse assim.

Marcelo viu sofrimento, tristeza nos olhos do pai, o que o desarmou e o fez deixar as lágrimas caírem como forma de alívio, por aquele peso que carregava há anos ir embora definitivamente. Eles finalmente se abraçaram como pai e filho. O pai beijava o rosto do filho e pedia perdão inúmeras vezes, até mesmo na intenção de tirar a culpa que o perturbava imensamente.

Eles tiveram uma longa conversa, onde Marcelo contou sobre os pesadelos constantes; a sua vida, incluindo sua mudança para o Brasil; seu projeto social; e principalmente sobre a característica que os ligava _ o vício de seduzir, conquistar mulheres. Ele contou até sobre Vanda, o amor dele por ela e seu medo de fazer o mesmo que o pai tinha feito com a mãe.

Senhor Antony estava orgulhoso do filho, de como havia superado tanta coisa e compreendia o medo dele de fazer o mesmo que havia feito com a mãe deles, mas tinha uma grande e fundamental diferença nas duas histórias; Sr. Antony nunca havia apaixonado por nenhuma mulher, especialmente pelo jeito que o filho estava apaixonado por aquela jovem. 

_Estou muito orgulhoso de você, Marcelo. Você passou por muita coisa, cresceu, mudou, está um homem de verdade, se transformou. Parabéns. Espero que depois de nossa conversa seus pesadelos cessem e vou te contar uma coisa que aliviará seu coração deste medo de deixá-la e fazê-la sofrer. Eu nunca consegui ver essa minha característica como um vicio que eu quisesse me livrar, apesar de quase ser morto pelo marido ou namorado delas algumas vezes. Eu tenho uma sensação de estar vivo, livre e isto me impulsiona a continuar fazendo o que faço. Nunca me apaixonei por sua mãe, ou por qualquer outra mulher. Eu simplesmente não quis me sentir preso a ninguém. Sua mãe me perseguia e quando começou a engravidar eu lhe disse que isso não me faria ficar com ela, porque não a amava, mas ela não acreditou. Ela queria me prender de todas as formas ao seu lado, mas eu me sentia mal, sufocado por estar em um lugar que não me pertencia e um egoísta por estar fazendo aquilo com todos. Então não aguentei mais a pressão de viver numa mentira e parti na intenção de fazer o melhor para vocês. Eu só não imaginava que daria em tudo isso. Eu não acredito que vá deixá-la, pois você a ama muito, eu percebi enquanto falava dela, pois seus olhos brilhavam.

Do coração de Marcelo saiu toda a angústia e o medo que sentia poucos minutos atrás de ser como o pai, como água suja que deságua no esgoto e agora seu peito estava cheio de amor, esperança, luz e gratidão. Ele se sentia renovado. Era um novo homem que lutaria para conquistar o amor de Vanda e para encontrar os irmãos, que seu pai prometeu ajudar.

Depois de vários dias e intensa pesquisa eles encontraram os dois, Lorenzo e Antonella. Felizmente seus primeiros nomes permaneciam os mesmos e apenas os sobrenomes haviam mudado, assim como a mudança para Milão. Quando eles foram para o reencontro não houve a emoção esperada por seu pai ou Marcelo, visto que eles eram bem pequenos quando foram adotados. Os dois mal se lembravam de que não eram filhos biológicos do casal que os adotaram, ou que tivessem um irmão, outro pai.

Antonella era mais velha que Lorenzo, mas tinha apenas quatro anos na época e ele tinha dois aninhos. Vinte anos se passaram desde que a mãe morreu.

Marcelo descobriu que Antonella se lembrava de um menino que dava comida para eles, dava banho, cuidava e de uma mulher que não saia da cama, de um homem grande que saiu com a bolsa na mão e não voltou e Lorenzo nem disso se lembrava. Eles contaram que aquele casal os trata muito bem, dá tudo que precisam, além de muito carinho. Eles fazem faculdade e vivem muito felizes; ela faz Artes e está no ultimo ano, ele Engenharia Civil, no penúltimo. Foi um bom encontro, mas não houve promessa de manterem contato, nem teve afeto de família, apenas contaram fatos sobre a história deles: passado, presente e perspectivas do futuro. Eles eram pessoas que conviveram por algum tempo, entretanto, eles perderam o vínculo familiar há muito tempo.

Eles dois voltaram para Milão sabendo do passado, de suas raízes e ficou nisto, sem ressentimentos com relação àqueles que deixaram na Cicília. As vidas deles seguiram em frente.

Marcelo voltaria ao Brasil no dia seguinte, então prometeu ao pai que manteria contato e o convidou pra conhecer o lugar onde vivia. Seu pai disse que logicamente iria um dia desses. Ambos estavam se sentindo renovados, de corações limpos e aliviados. Ele havia se reconciliado com o pai, obteve as respostas que queria e agora voltaria pronto para sua amada.

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O RETORNO PARA CASA


Marcelo chegou ao Recife, o qual foi recebido no aeroporto por Vanda e vários amigos com faixa de boas vindas. Ele se sentiu tão feliz e emocionado que seus olhos ficaram marejados.

Marcelo voltou a viver sua vida dedicando-se a si mesmo, às pessoas que gostava e em especial seu amor. Ele voltou a dar um pouco mais de atenção ao seu projeto, que crescia e profissionalizava muitos jovens. Isto o deixava muito orgulhoso.

Vanda saiu da pensão e mora em um pequeno apartamento alugado, está fazendo cursinho para passar em gastronomia e mais a frente planeja se especializar em confeitaria, sua verdadeira paixão.  Confeiteiras famosas a inspiram focar no seu sonho. Ela não desistiria. A jovem ficou muito feliz por Marcelo, por estar tão bem e ter se reconciliado com o pai, que no fundo era o desejo dela também. A família era importante para ela e embora tenha atravessado por tantas adversidades, aquela mulher queria construir sua própria família.

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CORAGEM E AMOR

Ela então reuniu toda a coragem, ligou para ele e chamou-o para saírem e conversarem. No barzinho eles comeram uma porção de carne com cheiro verde, batata frita, sem cebola, pois ambos detestavam.

Ela então respirou profundamente e disse-lhe o que estava sentindo com o coração quase saindo pela boca e o rosto corado. Já o coração de Marcelo parecia que ia sair do seu peito de tanta emoção, batia tão forte. Ele segurou as mãos dela com pressa e medo de que ela voltasse atrás. Ele as beijou carinhosamente e o sorriso de ambos estampou em seus rostos. 

_ Vanda, você pode não acreditar, mas eu te amo muito e, portanto, eu mudei. Eu te juro que não trocarei você por nenhuma lá fora, você è quem mexe comigo desde o dia que te vi e só não disse por saber que não acreditaria em mim no início, já que minha fama não era das melhores. Logo, resolvi ser teu amigo para você me conhecer melhor e eu poder te conhecer também.

Os dois se beijaram e resolveram namorar. Eles estavam muito felizes.

 Um ano e meio depois eles se casaram numa pequena capela, onde se encontravam os pais dela e irmãos, o pai dele, amigos, a dona da pensão, enfim... Os que importavam estavam ali para prestigiá-los em uma cerimônia simples, mas cheia de alegria e desejo de felicidades.

Eles tinham discussões pelas diferenças e quando olhava para outra mulher, ele se lembrava remotamente do homem que tinha sido, mas que não existiria mais, não valeria à pena. O casal depois de uns anos teve um casal de gêmeos, Antony Manoel e Giulia. Seu Antony veio ao Brasil para conhecer os netos e ficou lisonjeado pela homenagem do neto ter seu nome. Ele passou uns dias curtindo-os e voltou para sua terra, mas sempre falando com o filho.

Vanda agora tinha que conciliar uma vida de jornada exaustiva de mãe, confeiteira especializada em brigadeiros, entre outros doces nordestinos, esposa e dona de casa, mas estava feliz. Marcelo a ajudava muito com as crianças e as coisas de casa, como: compra no mercado, pagar as contas, lavar roupa... Eles não tinham uma vida perfeita, afinal, ninguém tem.  Porém, eles iam juntos superando as dificuldades que apareciam no casamento, na lida com as crianças, ou administrar uma casa.

Marcelo perdoou a mãe, mas não se lembra dela. Ela faz parte de um passado que não o pertence mais. E os pesadelos se foram logo após a reconciliação com o pai.

Ele e Vanda se amam, estavam juntos e dispostos a ficarem velhinhos assim... Curtindo um churrasco nos fins de semana com a família e amigos; aproveitando o que construíram em paz e felizes.

 

FIM

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

sábado, 19 de dezembro de 2020

FORÇA PARA RESISTIR


 

Dalila estava entediada deitada no sofá às oito da noite assistindo a um filme na TV, então seu celular toca e sua briga interior começou. Atender aquela ligação queria dizer abrir mão de tudo o que acreditava, pois ali estavam seus princípios em jogo; mas e se não o atendesse e perdesse a chance de tê-lo para sempre? Era seu ex-namorado que agora namorava outra, porém, sempre a procurava e ela sempre cedia. Ela já tinha saído algumas vezes com ele, mas estava se sentindo mal consigo mesma, usada e sentia que estava se traindo. Dalila estava tão apaixonada por ele. E agora? O celular não parava de tocar.

Será que ele me ama e está com ela por comodismo ou medo de assumir o que sente por mim? Será que está com saudades? Eu sinto tanta falta dele, mas estou tão cansada disso. Será que ele não vai largar dela para ficar comigo?Tantos pensamentos que não saíam de sua mente e as falas das amigas falando para mandá-lo embora de vez de sua vida, que não valia a pena, que merecia alguém bem melhor, etc. Sua mente fervilhava e o coração batia acelerado ao ouvir o toque insistente. Seu lado racional sabia de tudo aquilo, mas sua paixão mandava ela persistir, que uma hora ele se declararia e voltariam: Vai gata, atende logo esse telefone, se caso ele desistir não conhecerá mais ninguém que goste de você, ou que a deseje.

Ela estava tão confusa, perdida entre a razão e a emoção, entre o certo e o errado. Sua autoestima estava no chão desde que passou a sair com ele. Ela se sentia a pior das criaturas depois que voltava do motel sozinha em um táxi, pois o rapaz sempre tinha uma desculpa, especialmente quando o cobrava sobre tomar uma posição. Aquilo parecia durar uma eternidade, mas não havia passado de cinco minutos e o telefone parou de tocar.

O seu lado sabotador dizia: Agora já era, perdeu sua chance, morrerá solteira, eu avisei para atender. Enquanto que seu lado racional a parabenizou por ter resistido à tentação. Você venceu mais uma batalha, se ele insistir outras vezes continue na sua, ele não merece você. Aquilo a fez se sentir vitoriosa, capaz de dizer não a ele nem que fosse uma vez e ao mesmo tempo estava com medo, bateu quase um desespero. No entanto, não o procurou e chorou até cair no sono ali mesmo no sofá. Ele a procurou algumas outras vezes durante a semana, no entanto, ela não o atendeu mais e o rapaz desistiu. Algumas vezes seus dedos digitaram o número dele para ligar ou uma mensagem de texto para enviar, felizmente ela resistia e apagava. Não era fácil aquilo tudo para ela, mas estava se vencendo a cada dia.

Dalila sentiu que estava se valorizando, se priorizando e aquilo deu a ela outro olhar sobre si mesma e embora a paixão ainda persista, nunca mais disse sim para quem não a merecesse de verdade.

domingo, 29 de novembro de 2020

CALOR DE VERÃO

 


Hoje o céu está limpo e azul, enquanto o sol irradia seu calor intenso nos fazendo suar e desejar por algo refrescante, roupas leves e uma sombra da árvore, ou de um lugar coberto.

Uma brisa suave às vezes aparece e brinca com as folhas da árvore na calçada, sinto também meu cabelo mexer e um arrepio bom passar pela minha coluna.

Um pagode tocando deixa o dia mais animado.

Eu queria tanto mais pessoas aqui para curtirmos juntos um dia como hoje.

Sem pandemia, sem medo, sem máscara.

Ainda estamos na primavera, onde as flores desabrocham coloridas, perfumadas e mostram-nos toda sua beleza.

Enquanto uma flor murcha no fim do dia, a outra está quase pronta para florescer, se abrir para a vida.

Verão está quase chegando com a expectativa de muito calor, mas com a alegria a nos envolver, apesar do cansaço devido a alta temperatura que a estação nos traz.

Cada estação tem sua beleza,porém eu ainda prefiro as cores da primavera e as perspectivas do verão.

 

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

INVERNO SOLITÁRIO

 

Em um sábado de inverno rigoroso eu estava saindo tarde do trabalho; já que saio às dez da noite, e por morar no subúrbio eu não sabia como chegar a minha casa. Eu não tenho carro ou moto e o ônibus não passa mais nesse horário por aqui. Já passou da meia-noite e não sei se ainda tem táxi rodando, mas vou tentar.

Eu liguei e nenhum taxista estava disponível. Então resolvi sair caminhando e o frio fazia os meus lábios tremerem, ficarem roxos. Eu me sentia congelando, embora usasse roupas para me aquecer.

Do nada aparece um carro cinza, com vidros bem escuros; o que tornava impossível eu ver alguém ali dentro. Ele estava andando bem devagar em minha direção, e ao invés de correr, eu simplesmente parei e esperei eles abaixarem o vidro para assim eu ter a chance de pedir uma carona. Eu deveria estar com bastante  medo de morrer de hipotermia ali sozinho.

Um homem alto e muito forte sai do carro encapuzado, todo vestido de preto, e  parecia bem misterioso de cabeça baixa. Pra completar todo o mistério ele segurava um taco de beisebol em uma das mãos enluvadas. Naquela rua escura, com a lâmpada acesa de apenas um poste, um arrepio percorreu toda minha espinha, pois quando aquele homem se dirigiu a mim eu tentei correr, mas era tarde demais...

(Narrador) 

Um rapaz o encontrou caído na calçada, onde se encontrava extremamente machucado e desacordado, porém vivo. Ele então ligou para o SAMU; achou o celular do homem no bolso da calça dele; ligou para o número com o nome de Amor e contou-lhe o que tinha visto. Na carteira encontrou um documento com o nome de Marcos André.  

A mulher de Marcos André já tinha ligado inúmeras vezes e chamava até cair na caixa postal, ela estava desesperada em casa. Quando o moço ligou e contou sobre o marido ela sentiu um pouco de alívio em ter alguma notícia, mesmo que fosse tão ruim. 

Depois de uns vinte minutos a ambulância chegou e o levou para o hospital, com o rapaz o seguindo de carro.

Eu acordei depois de um dia e todo entubado, pelo que me contaram; visto que fiquei inconsciente depois de tanto apanhar, sem saber o porquê daquela violência toda. Os médicos disseram à minha esposa que foi sorte eu ter sobrevivido, pois me bateram demais.

Depois de uns dois dias no hospital eu assisti ao jornal, no qual uma das notícias era sobre um homem grande que saía em um carro cinza procurando pessoas solitárias andando nas ruas com pouca luz para bater até a morte. Havia mais de cinco vítimas hospitalizadas; e as duas outras infelizmente não resistiram. O homem pelo jeito não estava sozinho no veículo, já que estava no banco do passageiro. Só que a polícia ainda não tinha conseguido capturá-los, nem descobrir as identidades deles. 

A pergunta que não quer calar é:Por que eles faziam isso com pessoas que andavam sozinhas nas ruas? Será que teria um mandante por trás disso, além dos que estavam no carro? Várias questões surgiam em minha cabeça e me veio a idéia de me vingar quando saísse daquele leito. Eu não tinha forças sequer para falar; portanto, eu precisava me recuperar bem e fazer o que tinha de ser feito.

No entanto, eu não imaginava o que iria acontecer com a minha vida quando eu saísse dali. Eu descobri que o homem atingiu uma das minhas vértebras e me tornou paraplégico, mas eu já suspeitava que algo estava estranho com o meu corpo.

Uma revolta começou a percorrer todo o meu ser. Não era justo. E perguntava para Deus:

_ Por que eu? Sempre fiz tudo certo; trabalhava que nem burro de carga, mal via meus filhos durante a semana. Eu saía cedo de casa e só voltava a noite, mas não tão tarde como naquele dia. E agora? Será que minha mulher ainda vai me querer? Será que me tornarei um peso para ela, se me aceitar? Como vou satisfazê-la?Será que serei homem de novo?Eram tantas questões em minha mente.E como vou brincar com meus filhos? É um adeus ao futebol com os meus amigos aos sábados?

Quando o médico foi ao meu quarto e estávamos sozinhos, eu falei com ele todas as minhas preocupações. Ele disse que iria me encaminhar para um psicólogo do hospital que estava acostumado com essas questões e que poderia me ajudar.  Eu não queria demonstrar minhas fraquezas para um estranho, mas era melhor do que falar com minha mulher. Aquilo tudo estava me torturando. 

Depois de algumas cirurgias e uma árdua recuperação depois de uns quatro meses eu estava pronto para voltar para casa.

Eu nem acreditava que estava vivo e voltando para casa. Minha mulher tinha mandado tirar os dois degraus e fazer uma rampa para eu poder entrar com a cadeira de rodas. Eu agora já estava conseguindo empurrá-la sozinho. Eu queria o máximo de autonomia que conseguisse. 

A terapia e a reabilitação me ajudaram a aceitar e adaptar a minha nova realidade. Foi muito esforço e suor para estar onde estou; então agora eu preciso fazer academia para não perder o que consegui em força muscular dos braços e pernas. As primeiras rodinhas entraram primeiro na sala e com isso as lágrimas rolaram em meu rosto quando vi a faixa de bem-vindo e meus filhos me esperando ansiosos.  Foi um momento de emoção para todos.

 Foi muito choro de gratidão por estar na nossa casa, com minha família e bem, mesmo depois de tudo que passei. Apesar disso, aquele senso de justiça; ou melhor, sede de vingança ainda corria em minhas veias.

Eu procurei manter contato com as outras duas vítimas, pois os dois homens mais velhos não resistiram aos graves ferimentos. No entanto, os sobreviventes não queriam se vingar, apenas procuravam por paz e viverem como antes. Eles queriam o impossível: esquecer que aquilo aconteceu.

Entretanto, eu não desisti de vingar, eu precisava fazer justiça por mim e por aqueles que morreram. Eu vou procurar a polícia e propor de eu ser a isca deles para pegar aqueles caras. Minha mulher não concorda e morre de medo que eu morra dessa vez. Eu os amo muito, mas preciso fazer isto para sentir paz.

No dia seguinte.

Eu fui até a delegacia e conversei com o investigador do caso, porém ele me chamou de louco e mandou eu ficar fora disso, que resolveriam aquilo de modo profissional e com cautela. Eles tinham descoberto que os caras já tinham feito aquilo em outra cidade, e eram perigosos, que precisavam tomar muito cuidado.  

Eu fui embora e resolvi  cuidar do caso sozinho. Eu contratei um detetive para investigá-los. Eu precisava saber para onde iam depois que batiam nas pessoas. Tirar fotos deles. Eu precisava do maior número de informações possível, antes de tomar qualquer atitude. Eu voltei a trabalhar como serralheiro enquanto o investigador fazia seu trabalho; afinal, eu tinha uma família e precisava pensar noutra coisa.

 Depois de quinze dias ele me trouxe tudo que eu precisava, então resolvi ir ao local informado pelo detetive, e lá havia vários homens armados conversando em frente a um galpão, e esperei até o homem grande sair, então atirei nele com um rifle que atingiu seu braço. Meu primo e eu saímos de lá às pressas e levei as informações até a delegacia, mas antes um dos caras nos seguiu até entrarmos em um beco, o carro tem uns furos de bala que pagarei depois, e o cara nos perdeu de vista. Meu primo disse que foi a maior aventura da vida dele.  Ficamos presos por dois dias por não obedecer as ordens da polícia e querer fazer justiça com as próprias mãos. Eles finalmente prenderam todos e descobrimos que eram pagos porque estavam fazendo caridade em acabar com a solidão daquele povo.

 A verdade era que o chefão deles passou anos vivendo solitário na rua e durante o inverno quase morria de tanto frio, por pouco ele não tirou a própria vida para sair daquela situação,mas mudou de ideia e disse que se um dia fosse rico faria uma caridade tirando a vida de pessoas que eram solitárias como ele nas ruas durante a madrugada. Após ficar rico com o tráfico ele contratou aqueles homens e realizou a sua missão. Eles foram julgados a 20 anos de prisão. 

Eu agora estava em paz e feliz com minha família. Houve justiça. Eles agora estavam onde deveriam estar. 


PEDRA LUNAR MÁGICA

 Há muito anos caiu do céu uma pedra lunar numa praia. Uma pedra bem pequenina e que se confundia com as pedrinhas espalhadas na areia da praia.

No entanto, ela era mágica e somente uma pessoa a encontraria e conseguiria ver sua magia, sua luz brilhar. 

Em uma manhã de domingo, antes do sol nascer, Estevão não conseguia mais dormir, então resolveu ir caminhar na praia próxima a sua casa, onde passava os feriados prolongados. Ele andava na calçada, todavia, resolveu molhar os pés na água com a intenção de relaxar e não pensar no trabalho que o estressava tanto. De repente ele olha para baixo e abaixou-se para pegar a pedra. E advinhem só? Era a pedra lunar. Ela começou a emitir uma luz fraca, mas que brilhava como um diamante sob a luz do sol. Ele ficou encantado com aquela pedra, segurou-a firme na mão e seguiu seu caminho. Naquele momento, todas suas preocupações, tensão desapareceram e ele sentiu uma paz que não sentia há um bom tempo.  Aquele homem olhou para a pedra na sua mão e ela brilhava agora mais forte. De repente Estevão sentiu seus olhos pesarem, ele deitou na areia próximo a uma grande rocha e adormeceu segurando a pedra firmemente em sua mão. Neste momento uma luz o envolveu como uma cúpula o protegendo durante o sono e o sonho surreal que viria a ter em seguida.

Aquele jovem andava sobre um piso gelado de mármore e tudo a sua volta era branco, com umas pedras de cristal brilhando nas pontas e era um silêncio absoluto. Ele não sentia paz ali, nem medo, mas uma sensação estranha que não conseguia descrever. Do nada desce do alto uma pedra igual a que ele segurava, só que enorme, com um brilho ainda mais intenso impedindo-o de enxergar qualquer coisa  e uma voz profunda, grave disse-lhe:

_Estevão, seja bem vindo ao meu mundo. Eu sou uma pedra lunar mágica, que caiu da lua enquanto ela tomava o lugar do sol no céu. Inacreditável, eu sei, mas é real e darei uma guinada na sua vida.Você foi o escolhido, porque apesar de já ser um homem e viver uma jornada estressante, o seu coração ainda é puro, sem maldade,  portanto, vou estar com você enquanto precisar. E quando não precisar de mim, eu peço que me devolva a praia para outra pessoa ter a mesma oportunidade que você. 

_Uau, minha família e amigos não acreditarão. É muito surreal.

_Realmente, é surreal demais e ninguém acreditará em você. Quer ser tachado de louco? Não deve contar a ninguém. Se duvidar, nem para sua própria sombra. 

_Ok. O que devo fazer agora?

_Assim que acordar, guarde-me no bolso e me leve onde for, não me mostre a ninguém e vá pedir demissão na corretora de valores. Aquilo está te matando. 

_ Eu confio em você. Sei que não vai me sacanear.

_Você tem um coração tão bom, puro e confia tanto nas pessoas. Agora você vai acordar e fazer o que  eu disse e verá o resultado.

Ele acordou e a luz em forma de cúpula havia desaparecido. Ele pôs a pedra no bolso, voltou a sua casa, arrumou-se, pegou a pedra e rumou para a corretora. 

Uma hora e meia depois

Chegando lá ele pediu demissão ao seu chefe de plantão, que não entendia a razão daquilo. Ele estava perto de conseguir uma promoção, era um dia melhores ali, porém Estevão não queria mais aquela vida  e após assinar os papéis ele partiu.

Três horas depois seu amigo Luan liga e o convida para ser sub chefe no restaurante em que é dono, o sub-chefe há 2 anos pediu demissão, pois iria trabalhar em Nova Iorque. Estevão tinha paixão pela culinária e Luan percebia sempre que era convidado para jantar na casa do amigo e ele fazia pratos diferentes e deliciosos. Estevão não tinha apenas amor, mas dom para cozinhar e nem todos têm isso. 

_Muito obrigada pelo convite, estou indo aí agora para acertarmos meu salário. Ele riu alto ao telefone.

Eles acertaram tudo, foi apresentado ao chefe de cozinha, que o aprovou no teste. Ele morava sozinho, ou melhor, com sua cachorrinha vira- lata, Suly, que adotou há alguns meses. Ela era sua companhia em casa.

Quando passava na calçada, rumo ao prédio onde mora ele se depara com uma negra linda, os olhares se cruzaram e ambos entraram juntos no prédio. Ela tinha o olhar decidido e tão sedutor, o sorriso era de tirar o fôlego.

 Ele pensou se teria sido a pedra que tinha permitido aquele encontro. Que burro que sou, a voz disse que minha vida daria uma guinada. Estevão sabia que aquilo parecia tão clichê, tão filme de comédia romântica americana, mas ele resolveu arriscar.

Eles subiram o elevador juntos e ele perguntou em que andar ela iria. A moça respondeu o 3 e era o mesmo dele.

 _Legal, eu moro lá. Vai visitar alguém?Desculpe a curiosidade. 

_Não, eu vou morar no apartamento 20. A mudança chegou hoje cedo. 

_Que coincidência, o meu é o 21. Seremos vizinhos e seja bem vinda. Eu vi a mudança chegando pela manhã. Eu sou Estevão e minha cachorrinha é Suly. Ela não é de latir, fique tranquila.

_ Muito obrigada Estevão, eu sou Christine, mas pode me chamar de Chris. E coincidência não existe, mas sim destino. Ela piscou e deu aquele  sorriso novamente. Eu só tenho umas plantinhas, que amo, me relaxa cuidar delas. Espero não atrapalhar quando ensaiar a rumba. Tenho apresentação na próxima semana. Aliás, você está convidado, vai ser no teatro municipal.

_Obrigada pelo convite. Farei o possível para ir, mas você pode me lembrar, por favor?A correria do dia a dia, sabe como é, mas anotarei na agenda do celular. Sei que vai arrasar com seu parceiro e ganharão. Sexto sentido e riu. 

_Mais risos da parte dela. Obrigada Sr. sexto sentido. Achei que isso fosse só coisa de mulher. O papo está bom, mas preciso ir organizar a casa, pedir comida, afinal, preciso comer alguma hora. 

_Se precisar, eu tenho comida que dá para dois. Foi ótimo falar com você, Chris.

_Olha que posso bater na sua porta mais tarde pedindo comida, hein. Não me acostume mal. E riu alto antes entrar no apartamento e fechar a porta.

Ele tinha certeza que era amor a primeira vista. Ele torceu para ela bater em sua porta.

Duas horas depois.

Ela bateu em sua porta e estava com um micro short e top cropped branco. Ele ficou em choque ao vê-la daquele jeito tão sexy e natural. 

Ela percebeu como ele ficou ao vê-la assim, entrou, fechou a porta e ficou parada esperando a reação dele. Ele a abraçou e a beijou sem pensar. Foi uma noite bem quente, o fogo rodeava os dois naquele sofá, porém sem queimar nada. Um fogo mágico, onde as labaredas só cresciam. Aquele fogo ardeu várias vezes naquela noite e nas oportunidades que tinham para aumentá-lo. Eles começaram a namorar, pois não era só desejo carnal. Eles sentiam que eram almas gêmeas. Os dois só lembraram de comer horas depois.

No restaurante tudo ia de vento em polpa e Estevão se sentia realizado como sub-chefe. Ele estava em paz e toda vez que segurava a pedra, ele sentia a paz e a luz irradiar de dentro dele. 

Dois meses depois ele andava pela praia e aconteceu a mesma coisa, ele adormeceu perto da rocha na praia e sonhou mais uma vez.

_Pronto Estevão, minha jornada com você chegou ao fim. Eu fiz tudo por você e agora cabe a você fazer sua parte para manter. A paz está dentro de você. Encontre-a. Agora me põe junto a outras pedras quando acordar.

_Obrigada por tudo. Eu farei como combinado e tornarei tudo ainda melhor. 

Estevão acordou e levou a pedra até onde a encontrou. 

Estevão e Chris casaram, constituíram sua família e eles tinham razão, era destino se encontrarem. Ele permanece como sub-chefe no restaurante do amigo e muito feliz.


Quanto a pedra lunar mágica, ela continuará usando sua magia com as outras pessoas de coração puro enquanto elas existirem.


domingo, 25 de outubro de 2020

SOPHIA


Sophia andava cabisbaixa; um pouco descuidada; se sentindo mal consigo mesma, insegura, com a autoconfiança abalada pelos rapazes que tem encontrado no seu caminho. Ela estava desacreditada de si mesma e dos homens, que eram iguais no jeito cafajeste e machista;  sempre pensava e dizia que eram todos iguais. No seu último relacionamento mais duradouro ela sofreu muito por traições e humilhações. Ela trabalha com e-commerce, mas se sentia tão deprimida que seu trabalho não rendia como antes, e a procura por seus produtos reduziu bastante. Sô vendia roupas íntimas belíssimas; no entanto, não se sentia disposta a pegar umas para si mesma, e se sentir sexy. 

Um dia sua melhor amiga Analiz foi a sua casa chamá-la para sair e ajudou-a a escolher uma roupa que destacasse sua beleza. Sophia não queria ir, pois não se sentia no clima. Entretanto, depois que sua amiga a maquiou e se arrumou, ela se sentiu um mulherão e tirou uma foto com a amiga: “Prontas para celebrarmos a vida aproveitando muito” e postou. Elas tiveram muitas curtidas e comentários. As duas saíram, beberam um pouco, dançaram muito. Aquela garota se sentia feliz e viva novamente.

No dia seguinte ela acordou com uma leve ressaca, pois apesar de ter bebido pouco, não tinha costume com tequila ou whisky; e as pernas estavam doloridas de tanto dançar, mas se sentia mais animada. 

Analiz a convidou para entrar em um curso com ela, contando que teria um grupo para compartilharem coisas do curso sobre autoconhecimento, amor próprio e experiências de vida. Sô achou aquilo besteira, uma tremenda perda de tempo, portanto pediu para pensar.

Ela ligou para a amiga já tarde daquela mesma noite na casa do namorado com olhos inchados de tanto chorar, a voz estava entrecortada por soluços e se sentindo um lixo. A verdade é que ela sentiu que precisava mudar suas atitudes, pois estava cansada de se sentir daquele jeito. Sophia queria ser uma nova mulher e decidiu entrar no curso com a amiga. Seria bom contar uma com a outra, ter alguém para se apoiar,além do grupo. Analiz ficou muito feliz com a decisão de Sô e iniciaram um novo ciclo em suas vidas.

As aulas com áudios, vídeos e tarefas foram acontecendo. Enquanto isto Sophia caía em lágrimas para desafogar tudo o que estava preso dentro dela há muito tempo, e foi mudando com o passar dos dias. Ela foi se redescobrindo, conhecendo a mulher que estava ali escondida e viu que pode fazer tudo o que quiser e ser quem ela quiser.

Aquela mulher começou a mudar de dentro pra fora e as pessoas começaram a notar a diferença. Analiz também teve uma notável mudança. As duas resolveram ir às compras para ressignificarem suas vidas; enfim, resolveram cuidar de si mesmas.

 A autoestima delas estava no auge. No entanto, elas sabiam que se amar e se cuidar é um processo diário; e que recaídas são normais, mas é um dia de cada vez.

 Sophia veio de uma cidade do interior de São Paulo e bem pequena, com pouquíssima possibilidade de crescimento pessoal e profissional. Ela tem um irmão mais velho e seus pais já eram aposentados. Sophia não sabia se a causa era a diferença de gerações, pensamentos, mas ela não conseguia se sentir próxima deles, por mais que quisesse. Era como um bloqueio invisível entre eles. Com seu irmão também não havia proximidade como ela desejava; então se sentia um estranho no ninho. O irmão se achava o mais esperto, e como homem tinha direito a tudo; era a copia de seu pai na questão machismo, inclusive no modo bruto e sistemático. Eles foram contra a decisão dela de se mudar para uma cidade maior e com mais oportunidades de crescimento. No entanto, aquela menina era uma mulher agora e sabia o que queria. Determinação era o seu sobrenome. Ela os amava e sabia que sua vida seria bem difícil no começo, longe de todos e de tudo que estava acostumada, mas precisava sair dali, pois se sentia muitas vezes sufocada por uma vida que não queria para si. Sophia gostava da cidade; das pessoas com quem cresceu convivendo, e já tinha trabalhado como vendedora em uma loja de roupas íntimas e pijamas; o que lhe proporcionou experiência e facilidade em comunicar-se, sabia o que os clientes procuram. Ela amava ler e era bem eclética quanto a suas leituras; isso provavelmente a impulsionou a mudar-se, pois ler ampliou sua mente e visão de mundo; mudou seu jeito de pensar.

No entanto, uma cidade grande tem exigências maiores do que estava habituada, e quando chegou ao seu destino ela logo começou a procurar por emprego em vários lugares, especialmente em lojas. Sô estava exausta no fim do dia, mas procurou por um quarto para alugar nos classificados, e ligou para uns números que encontrou com preço razoável. Ela achou uma pousada para dormir.

No dia seguinte ela encontrou um quarto para dormir e o alugou. Sophia tinha habilidade de convencer as pessoas a fazerem o que ela queria com seus argumentos e voz firme, que sabia do assunto. Ela também conseguiu um emprego em uma loja de roupas infantis e descobriu que precisava dedicar-se mais ali para chegar onde queria. Seu objetivo era ser gerente e conhecer os “bastidores” de uma loja para depois abrir seu próprio negócio. 

Com o passar dos meses ela passou a se destacar, causando inveja nas colegas, mas ela não ligava para aquilo, pois seu intuito era atingir seus objetivos, não de fazer amizades. Sophia não aprendeu que amizades e gentileza são mais valiosas do que dinheiro, e que muitas vezes abrem portas.

Ela se sentia sozinha quando chegava ao seu quarto com uma cama de tubo e colchão fino, uma cômoda velha para por suas roupas, microondas antigo, um tanquinho barulhento para lavar roupas e um banheiro pequeno. Ligava para sua família uma vez por semana e a conexão que já não era boa entre eles parecia diminuir a cada ligação.

Nesse tempo ela ficava com homens que conhecia na internet ou em barzinhos. Uns eram só curtidas de uma noite; outros se tornavam mais sérios, só que nunca a levavam a sério; assim como o irmão fazia com as namoradas. No entanto, quando conheceu Enrico sua vida virou de cabeça para baixo, e ao invés de fazê-la se sentir uma rainha e dominante, ele a fazia se sentir um nada. Antes de conhecê-lo ela era determinada, decidida, dedicada, mas também tinha um ar de superioridade e arrogância que afastavam as pessoas. Eles namoraram por umas semanas até chamá-la para morar com ele e ela muito apaixonada aceitou feliz da vida, mas estava cega para os defeitos dele, e fingia não ver as traições.

No trabalho ela ainda estava focada e como a dona procurava por uma gerente a promoveu, causando ainda mais conversa entre as colegas. Apesar de não ter criado amizades no trabalho ela percebeu que Analiz era boa em vendas, se dedicava. Então Sophia às vezes aumentava sua meta para Ana desafiar-se e conforme ia vencendo as metas, ela se empolgava. Nisso as duas começaram a se aproximar não só no âmbito profissional, mas também pessoal e se tornaram melhores amigas.

Assim que Sophia conheceu tudo o que precisava sobre administrar uma loja ela começou investir em roupas íntimas para vender, e fazer seu site. Ela pediu demissão e sugeriu a gerencia para sua nova amiga. Sô estava seguindo rumo ao seu real objetivo; abrir uma loja online de roupas íntimas e sensuais de jovens mulheres a senhoras, de todos os tamanhos.

A vida amorosa de Sô estava um desastre. Isso a abalou muito e começou interferir nas vendas, na sua disposição para trabalhar, e principalmente na sua autoestima. Ela não era mais a mulher confiante e decidida de antes até começar o curso.

Sophia passou a focar no seu trabalho, procurou melhorar seu site e sentia que estava realmente engajada naquilo, então os resultados com o passar dos meses começaram a melhorar. Ela percebeu que a traição sofrida não foi sua culpa, e sim falta de caráter dele. Apesar de que o curso a ajudou perceber que também teve responsabilidades para o relacionamento ter acabado. Ela ainda sente falta do cheiro e do calor do corpo daquele homem colado ao seu; então quando está prestes a mandar mensagem ela liga para Analiz, ou vai caminhar pela praça próxima a sua casa.

Um dia enquanto bebia um suco refrescante de abacaxi com hortelã e ouvindo suas músicas favoritas, tocou Adoro amar você, de Daniel; a música do primeiro beijo do casal. Ela chorou por causa das lembranças, então não resistiu e mandou mensagem para ele e conversaram por quase uma hora; porém, passou o resto da noite se culpando e ligou para a amiga, que a tranquilizou.

_Calma Sô, é normal ter recaídas, ter saudade dele e mandar mensagem. Você não é de ferro. Um dia de cada vez, lembra? Logo você estará mais forte e com a autoestima mais firme para resistir e até superá-lo. Não seja tão má consigo mesma. Eu estarei sempre aqui, mas você precisa ser sua melhor amiga. Ouça os áudios ou veja os vídeos, miga. Isso vai te ajudar a se animar de novo.

_Obrigada, miga. Não sei o que seria de mim sem você. Tem razão, eu vou ouvir os áudios, me produzir para me sentir melhor e quem sabe até dê uma volta de carro para me distrair.

Ela ouviu os áudios, viu um dos vídeos sobre as conquistas que já teve na vida e se produziu, tirou varias fotos e postou: “Pronta para curtir.” Ela saiu de carro e foi tomar um açaí sozinha. Aquilo foi desafiador e libertador para ela, apesar dos olhares alheios, e Sô estava se sentindo bem melhor.

Sô passou a fazer dança de salão, sua paixão, e estava amando as aulas. Aos poucos a sua autoestima ia se fortalecendo, porque ela resolveu olhar para si mesma; amar-se; cuidar-se e estava se sentindo uma mulher linda e interessante como antes.

No entanto ela precisava resolver algumas coisas para se sentir realmente uma nova versão dela mesma.

Sô saiu da casa de Arnaldo, que a humilhava e a traía. Uma casa na qual passava a maior parte do tempo sozinha, de onde ligava para a amiga chorando e se sentindo péssima. Ela na verdade se sentia muito só, como se fosse solteira sem ele ali.

Aquela mulher cansou de passar por tudo aquilo, enfim seu autovalor aumentou. Então alugou uma kitnet para afastar-de dele. Ela mudou-se e seguiu seu caminho sozinha, mas feliz consigo mesma e comemorou seu feito com a amiga e duas taças de vinho. Ela deixou na casa dele tudo o que ele tinha lhe dado e apagou todas as músicas que a faziam lembrar-se dele. Sô fez uma limpeza interior.

Ela ainda precisava resolver outro problema que a inquietava. Sô partiu para a casa onde nasceu, pois sentia que necessitava recuperar o pouco vínculo que tinha com sua família e tentar se aproximar mais deles.

Quando chegou na antiga casa onde viveu por vinte e dois anos era como se nunca tivesse morado ali, e tudo parecia tão estranho. O quarto onde dormia foi transformado em "quarto da bagunça,"portanto, ela iria dormir no sofá.

 A aproximação não foi fácil, e ela precisou se desculpar por nunca ter voltado ali desde que se mudou, mesmo tendo uma distância de apenas trezentos quilômetros, já que não era a distância física que a manteve longe dali, mas sentir-se longe deles no coração; pediu perdão por não ter mantido tanto contato e que estava ali para resgatar um vínculo que mal tinham e também se desculpou por ter ido embora contra a vontade deles, mas seu futuro não estava naquela cidade. Ela disse que queria ter uma família de verdade; daquela que conversa a mesa sobre as coisas do dia, da vida; que eles eram uma família e precisavam ser unidos.

_Mãe, eu te perdoo por nunca ter me dito que me amava ou não ter me abraçado com carinho. Espero que a gente consiga se aproximar como mãe e filha, antes que seja tarde. Eu sei que você também não teve isso, mas podemos mudar nossa relação. 

Então Sô correu e abraçou sua mãe que surpresa não teve nenhuma reação, mas logo a abraçou e choraram. 

_Pai, me perdoa se te decepcionei por ter ido embora contra sua vontade. Eu te amo e te respeito, admiro muito. 

Ela então o abraçou e ele ficou travado, pois não era acostumado esse tipo de carinho e a abraçou em um abraço frouxo sem dizer uma palavra.

Ela percebeu que o vínculo com ele seria mais difícil. Era preciso paciência, mas não desistiria.

_Tony, eu sei que nosso pai é seu exemplo,seu herói, mas você não precisa seguir a risca, você pode ser melhor. Você é novo pra ser tão grosseiro e sistemático,mas eu te amo independente. Eu só quero o melhor pra você, quero ser mais próxima,quero ser sua amiga.

 Ela o abraçou forte e ele a abraçou na mesma intensidade e deu-lhe um beijo na cabeça e disse que apesar de serem tão diferentes, ele também a amava. 

Ela estava feliz pelo progresso que fizeram, mas sabia que essa proximidade não acontece da noite para o dia e voltaria mais vezes para vê-los e se unirem mais.

Seu ex-namorado percebeu que ela estava diferente e passou a visualizar o que ela postava sem dizer nada, pois quando chegou a sua casa e não a viu, nem nada dela ali, seu ego fê-lo procurá-la. Aquilo passou a incomodá-la e decidiu bloqueá-lo em suas redes sociais, bloqueou e apagou seu número no telefone.

 Não o queria em sua vida, mas era grata pelos bons momentos que passaram juntos e pela lição que tirou: Não era melhor que ninguém e passou a tratar melhor as pessoas; e não aceitaria ser tratada como foi, só merecia o melhor.

 Ela sentiu orgulho de si mesma e um sorriso apareceu em seu rosto, pois uns meses atrás ela teria fantasiado que ele ainda gostava dela e que poderiam voltar, mas agora é só o ego dele falando mais alto. Sophia não é mais a pessoa que era antes, e se sentia feliz por isso.

O seu parceiro de dança, Eustaquio; um rapaz gentil; gato; engraçado; um bom dançarino e colecionava selos, daqueles temáticos de aves, etc. E um dia mostrou-lhe quando a chamou para sair. Ela ficou surpresa e encantada, pois nem sabia que as pessoas ainda colecionam coisas, ainda mais sendo tão jovem. Eles começaram a passar mais tempo juntos além do curso de dança, porém ela não queria compromisso sério e foi sincera com ele, porque precisava de um tempo para si mesma antes de se envolver com alguém.

_Eu entendo linda, pois eu também não quero me envolver com ninguém agora.

Eles então se beijaram e tiveram uma deliciosa noite.

Os ritmos preferidos dela são o tango, forró e a salsa, mas já sabe dançar bem quase todos os ritmos que vem aprendendo. Outra habilidade que Sophia aprendeu sobre si mesma; dançar.

Ela estava se sentindo realizada, pois passou a se amar de verdade; seu trabalho estava dando o lucro esperado, dançava e se exercitava ao mesmo tempo, o que a deixava com um lindo corpo; e ficando com um cara bacana. Sua amiga estava indo tão bem quanto ela e curtiam plenas as baladas.

Sophia e Analiz tiraram uma bela lição disso: Vale muito a pena investir em si mesma e amar-se primeiramente antes de tudo.

 

 

 

 

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

INGENUIDADE

 Hoje me sinto em suspenso. 

E não é sentimento de felicidade.

Um misto de culpa, de raiva por tamanha ingenuidade.

Às vezes é difícil descrever nossos próprios sentimentos.

Quero ser mais esperta.

Ser ingênua só me põe em enrascada.

Eu sei que essa sou eu, ingênua, amigável, que gosta de deixar as pessoas bem.

Preciso ser melhor sem mudar a essência. 

Como fazer isso?

Ao mesmo tempo que não paro de pensar nos detalhes de tudo;

Sou grata a Deus por não ser boba demais.

Na vida tudo te deixa uma lição. 

E se for um pouco esperto nunca mais  cometerá o mesmo erro.

Passando a me amar, me aceitar como sou e aprendendo que cada erro que cometo é um aprendizado. 

Não sou perfeita nem preciso ser.

Tenho qualidades e defeitos, assim como você.

A ingenuidade faz parte do que sou.

Já não sei se é qualidade ou defeito.

As coisas simplesmente são como devem ser.

sábado, 10 de outubro de 2020

Mundos de Wesley


MUNDOS DE WESLEY

 

Eu sou Wesley e moro em Manaus. Trabalho como qualquer um, mas quando preciso descansar a mente, esquecer dos problemas eu vou para a floresta. 

Eu sou filho e neto de índios, então meus avós me ensinaram a andar no meio daquelas árvores; daquela vegetação fechada e que quase não dá para ver a luz do sol; me ensinaram sobre ervas que curam, como usá-las e quais devo me manter longe; aprendi como me defender de animais e como sobreviver sozinho no meio da mata.

 Meus pais morreram de febre amarela  logo que chegamos à cidade. Foi muito difícil e tive que aprender a língua daquelas pessoas tão diferentes no idioma, cultura, pois só sabia a língua da tribo. Sofri muito e fui bastante discriminado até conseguir entrar naquele novo mundo para mim,  conseguir confiar e conquistar a confiança de um novo povo era um desafio. Era como se eu estivesse me preparando para o que viria.

Em um feriado prolongado decidi ir para a floresta ver meus avós, a tribo e passear na floresta. O pessoal da tribo, especialmente meus avós, o cacique e a curandeira ficaram muito felizes em me ver.

 Caminhando, me desviando dos galhos, cuidando para não ser picado por cobras, aranhas ou outros insetos eu adentrava a mata com a tranquilidade de quem conhecia tudo com a palma da mão, até encontrar uma árvore diferente, com tronco grosso, de um marrom acinzentado, folhas  de  um verde esmeralda e  bem pequenas, umas frutas vermelhas que lembravam uma maçã, e parecem ser tão suculentas que com a luz do sol cintilam e me seduzem para prová-las  co. Eu pego e dou uma mordida, é mesmo muito suculenta e de um sabor agridoce que me deixa em êxtase, a ponto de sair dali e "viajar" para outro mundo.

Um lugar em que tudo parece conto de fadas, com gnomos de orelhas grandes e pontudas construindo casas, elas eram todas coloridas; outros trabalhavam maravilhosos jardins plantando flores de todos os tipos, com tamanhos, cores diferentes e me mostravam como a diversidade é bonita. As mulheres ficavam com seus vestidos de camponesas sentadas a porta de suas casas e se abanando com leques enquanto conversavam entre si. Crianças brincavam felizes na rua, que mais parecia um calçadão, pois ali não havia outros meios de transporte além de caminhar. Era tudo tão em paz, mas havia tanta vida através das inúmeras cores. Não havia calçada, era tudo um piso dourado como ouro, tudo era impecavelmente limpos, bem cuidado. As vozes eram suaves, ninguém dava gargalhada alta ou gritava. Os animais passeavam livremente, os pássaros voavam com uma liberdade que eu não tinha visto, exceto na floresta. Eu me imaginei se conseguiria morar ali, tenho minhas dúvidas, aquilo logo me deixaria entediado. Será que tudo deveria ser daquele jeito e estávamos vivendo de maneira errada? Eu refleti sobre isso. Eu perguntei a uma senhora se eles não tinham problemas ali, pois tudo parecia tão perfeito. Ela me olhou com um sorriso acolhedor já sem dentes e disse que todos têm problema, mas eles se ajudavam e logo era resolvido. Eles não pareciam se estressar, ficar nervosos com nada.  Eu conversei com uns gnomos que trabalhavam e cantarolavam alegremente. 

Imaginava que tinha passado um longo tempo ali, mas quando de repente voltei a floresta  parecia que não tinha passado nem uma hora ali. E voltei para a tribo me sentindo diferente, como se eu fosse outra pessoa, porém no mesmo corpo de sempre.

No outro dia parecia que tudo se repetia, menos o local onde fui parar.

Eu chego a um castelo medieval, onde as roupas e fala das pessoas pareciam com os filmes que eu já tinha assistido; eu estava ali ou achava que estava. Era tudo muito real. Uma mulher de cabelo claro, olhos de uma cor lilás chega até mim e me pergunta o que faço ali, que o rei me procurava. Era como se eu já fizesse parte daquilo por anos, mas não conhecia ninguém. Eu a segui até o rei, ela também era uma súdita e me disse no caminho que se chamava Joana e a sua função no castelo era ver se os outros estavam fazendo tudo certo. O rei brigou comigo. "Onde estava?eu te procurei por toda manhã. Preciso que sele o meu cavalo. Quero dar um passeio." Pedi perdão pela ausência, e segui a procura de um cavalo que não sabia qual era. Joanna me mostrou o cavalo, embora ela parecesse estranhar de eu não ter reconhecido o bendito cavalo. Eu o selei e avisei ao rei que estava tudo pronto para seu passeio. 

Algum tempo depois...

Eu precisei vestir a armadura para enfrentar um monte de guerreiros adversários que resolveram invadir o reino. Confesso que um pavor tomou conta de mim, pois nunca havia lutado com ninguém ou usado espada;  muito menos fazendo parte de uma tropa de guerreiros medievais lutando pra proteger o reino. Eu não sabia montar direito, então acabei caindo e rolando pela pequena colina, e felizmente não cheguei a me machucar muito.  Assim que parei de descê-la, eu já me encontrava na floresta mais uma vez, mas a verdade era que eu queria ver Joana de novo. Agora não sei como voltar lá.

Passei dois dias sem comer a fruta e refleti muito sobre como eu voltaria àquele mundo e como trazê-la para a minha realidade. Eu estava dividido; e se eu a trouxer para cá, mas ela não gostar e quiser voltar para o mundo em que conhece?Como faço agora? Devo ir para lá e ficar para sempre?

Minha avò chegou a mim e perguntou o que estava acontecendo, pois eu estava mais centrado, menos ansioso, mais sorridente, gentil e prestativo. Eu fingi que estava ofendido, mas no fundo eu sabia que estava certa. Eu costumava ser egoísta e ansioso demais, muito sério. A verdade era que eu só esperava que fizessem tudo por mim e para mim, entretanto, o contrario nunca acontecia.

Eu desconversei e sai de perto.

Então voltei à floresta, mas eu não queria ir para outro mundo, só iria por a cabeça no lugar. Um longo tempo se passou e acabei adormecendo embaixo de uma árvore qualquer; quando dei por mim eu estava em um rancho com alguns cavalos de inúmeras raças diferentes. Eu me olhei assustado e pensando como tinha ido parar ali, já que não tinha comido a fruta. Um homem de barba me chamou pelo nome, como eu já trabalhasse ali e me pediu para colocar água, comida e para escovar os que estavam no estábulo. Eu entrei desconfiado, pois nunca tinha feito isso antes, e se me mordessem ou me dessem coice?Nenhum fez nada comigo e consegui cuidar deles. Um estava agitado e pedi ajuda, mas um dos homens que cuidava deles disse que o cavalo gosta de passear todos os dias naquele horário. Sai o puxando, no entanto o cara na hora que me viu disse: parece que nunca andou em um cavalo, deixa de ser medroso, sele e monte nele, cavalgue até ver que ele está cansando, e então volte. No começo foi difícil, eu nunca tinha montado e tive medo de cair, mas no meio do caminho eu já cavalgava como um bom cavaleiro. Eu senti um profundo orgulho de mim mesmo cavalgando daquela forma e passeamos muito. Voltamos, pois Wenk estava cansado, então o cobri com a manta para não se sujar; limpei o estábulo e fui tomar um banho, apareço de repente nu na floresta. E agora?Como chegarei assim na tribo? Minha vò me dará um grande sermão. Eu resolvi dormir no meio da floresta, porém esfriou demais, então peguei umas folhas de taioba e improvisei uma roupa. Felizmente quando cheguei lá todos já tinham ido dormir e descansar para o dia seguinte. Entrei na minha oca de palha, vesti uma roupa decente e dormi me perguntando o que estava acontecendo comigo. Uma viagem surreal, enigmática como todas as outras.

No dia seguinte eu voltei à floresta e lá eu fechei os olhos desejando muito encontrar Joana, eu pensei , será que funciona?E não funcionou; portanto, eu comi a fruta e fiquei muito feliz quando me deparei com Joana depois de poucos minutos. Eu queria puxá-la e levá-la embora dali comigo. Eu sentia que existia algo forte entre nós e não apenas atração. Eu e Jo conversávamos muito quando jà tínhamos feito nossos trabalhos e ela me contou sobre sua infância.

 Ela è filha de uma das súditas, Ana, a mais próxima da rainha, entretanto, a outra súdita que fingia ser amiga da mãe dela, e que no fundo sentia profunda inveja da proximidade daquela mulher com a rainha Mari; acabou roubando Joana e a levou para um casebre longe do reino, assim achariam que alguém de fora a tivesse roubado. Ela levava uma vida tranquila, sem sentimento algum de culpa. A mãe de Joana contou à rainha o que houve aos prantos. Mari mandou vasculhar todo o reino e a garotinha não foi encontrada. Ana ficou tão triste que adoeceu,visto que ela havia perdido o marido há pouco tempo por causa de um golpe de espada no peito e agora sua filha desapareceu. A pobre mulher ficava pensando o que tinha feito para merecer tanto sofrimento. No seu leito de morte, a sua falsa amiga disse-lhe próximo ao ouvido que ela havia roubado o bebê, e que Ana já tinha tudo sendo amiga da rainha, não precisava de filhos; ela sim merecia um filho que nunca poderia ter. Ela arregalou os olhos com a confissão e sem forcas para reagir faleceu sem marido e sem a filha.

Aquela megera ia ao casebre ver a menina já crescida e só deixava dois pedaços de pão e dois copos de água até o dia seguinte; no entanto, quando a menina era pequena ela a tratava como princesa e ensinou-lhe tudo que sabe hoje; enquanto isso a menina deveria deixar tudo limpo, além de costurar a roupa e fazer compotas com as frutas que trazia. Quando Joana já tinha idade suficiente para ir ao reino, ela inventou que a menina era sua sobrinha e que passaria a morar com ela, pois a mãe da garota tinha morrido. Aquela mulher a fez chamá-la agora de tia, não mais de mãe. Joana ficou confusa, mas obedeceu e sua vida continuou do mesmo jeito de antes, só que agora sua “tia” não teria que andar tanto para levar comida e água para ela às escondidas.

Quando Joana fez dezoito anos, sua “tia” contou-lhe toda a verdade, pois não lhe interessava continuar com aquela mentira; a menina havia se tornado uma pedra em seu caminho. O rei e a rainha já tinham morrido e agora quem reinava era o príncipe, o qual não conhecia a história. Desde então ela estava sozinha e precisava se virar para viver. Sua tia morreu de um mal súbito alguns dias depois que contou tudo para Joana. Aquela menina tinha um coração tão bondoso que ficou triste pela mulher, pois boa ou mà, ela que a havia criado todo aquele tempo.

Quando soube de tudo a minha vontade era colocá-la em meus braços e niná-la como se faz com um bebê; queria que se sentisse segura e em paz; mas não podia, eu então a abracei forte.  Sabia o que era se sentir sozinho, sem pai nem mãe; um garoto que precisou ser emancipado aos quinze anos, pois queria viver na cidade. E mesmo eu tendo meus avòs, nunca è a mesma coisa. Eu também lhe contei minha historia e nos abraçamos mais uma vez compartilhando a dor um do outro e chorando. Eu fiquei ainda mais apaixonado por aquela mulher e ela por mim.

Eu a chamei para ir embora dali e viver uma nova história:

_Joana, vem comigo, vamos viver nosso amor longe daqui, venha conhecer meu mundo.

Ela me olhou como se fosse louco, e até parecia que eu estava, mas eu a amava e a queria comigo.

Eu a beijei na esperança de que sumíssemos dali juntos, mas nada aconteceu. Os lábios mais delicados e suaves que já havia beijado.

Ela me afastou e me chamou de louco e disse que se eu realmente a amasse, que ficasse ali com ela.

Eu tentei varias vezes voltar para meu mundo e nada. Eu tinha uma vida fora daquele mundo em que eu me encontrava, mas mal sabia eu que se beijasse alguém de outro mundo ficaria por lá. Bateu um grande desespero mesmo estando ao lado do meu amor. E agora, como faço para sair daqui?Pensei, pensei e nenhuma idéia vinha.

No outro mundo sua avò percebeu que o neto havia sumido, ela tomou um chá revelador com suas ervas misteriosas para ter alguma revelação sobre o neto. Ela sentiu uma fraqueza tão grande que desfaleceu na hora. Como em um sonho ela via o neto em um castelo, com roupas estranhas e uma jovem loira, delicada e de olhos de cor lilás, ela os viu se beijando e ouviu uma voz profunda dizer-lhe: ele comeu uma fruta (mostrou a fruta vermelha), ele agora só sai de lá por seu intermédio. Você precisará fazer um feitiço contrário. Eu te direi o que deve fazer e cada socada no pilão que der para transformar tudo em pó, mais ele se afastará daquele mundo, só tem um problema; ele está apaixonado por aquela garota e ela não pode vir pra cá. Se ele decidir ficar lá, nunca mais conseguirá voltar, e se decidir voltar, nunca mais encontrará a garota. Agora acorde e faca o feitiço. Sua avò acordou e começou a pegar lascas do tronco da árvore da fruta mágica, sementes de frutas como tucumã, buriti, e também grãos. Ela pegou várias coisas e colocou no pilão, com o qual começou a socar, socar e socar.

Enquanto isso, no mundo estranho

Que estranho, estou sentindo que sou puxado por uma forca tão grande que não consigo descrever, ele pensou...  Sinto-me sendo puxado para trás. E Joana me perguntando aonde eu ia, se não a amava mais.

_Wesley, decida, você quer ficar comigo ou quer ir? Sinto você angustiado ficando aqui. Se for, nunca mais me procure.

Eu pensei rápido e decidi ir embora. Aquilo tudo não tinha a ver comigo, mesmo eu a amando.

_Espero que me perdoe meu amor. Eu sempre te amarei, mas não pertenço a este mundo.

Eu fui embora dali com lágrimas nos olhos. Ela virou de costas para mim, e percebi que chorava.

 E fui puxado para meu mundo de um modo abrupto. Cheguei fraco e no chão próximo da minha avò que me abraçou.

 _Você está de volta meu neto, que bom. Aqueles mundos estão com portões fechados para você agora.

Nunca mais eu voltei à floresta nem a ver a minha Jo. Agora è seguir minha vida. Foi uma estranha, mas indescritível aventura que me transformou em outro homem.

 

 

 

 

 

 

DIA DIFÍCIL

 Hoje está tão difícil.  Só queria desaparecer, evaporar como fumaça, e parar de dar trabalho. E ao mesmo tempo eu me sinto tão egoísta.  Te...