segunda-feira, 25 de maio de 2020

JOÃO, O CRIADOR DE ESTORIAS


João um dia estava em sua casa e completamente entediado com a tv e o celular, ele descobriu sua nova distração diante da janela da sala de estar em sua casa; ela dava de frente para a rua. Ele ficava observando quem passava na rua de paralelepípedos e imaginava seus nomes, histórias de vida... E se distraia bastante criando personagens diante do que via. Era uma rua movimentada com uma ladeira, na qual passava muita gente_ Ele mora perto de um mercado municipal ( este era um ponto turístico dali) em uma cidade no interior de Minas Gerais. Ele fez disso um hábito e sempre apareciam novas pessoas para ajudá-lo a usar sua criatividade.
Num desses dias passou uma mulher que aparentava uns quarenta anos, com alguns bobs no cabelo, blusa sem manga, bermuda, chinelos e cheia de sacolas nos braços, óculos de armação quadrada e escura ( ele lhe deu o nome de Adélia), descendo a rua da casa dele. Ele já imaginou aquela mulher levando os ingredientes para fazer um feijão tropeiro com torresmo, arroz branco soltinho, uma salada de alface e tomate para receber umas visitas para o jantar. Uma mulher que gostava de arrumar-se, pois viu um batom claro quando ela virou o rosto na sua direção de um modo sonhador, e suas unhas estavam pintadas de pink. Ele a imaginou vestindo um vestido floral midi de alças largas, cabelo liso após soltar os bobs e escová-lo.  Ela ficaria linda e perfumada com um batom vermelho escarlate nos lábios para celebrar seu próprio aniversário ou de um parente próximo. Ele a imaginou muito despachada, que ria alto, "ligada" no 220v pelo jeito apressado, mas cuidadoso ao descer a rua.
Ele criou outra possibilidade para aquela mulher:
Ela iria fazer uma feijoada para o almoço em família, mas a noite iria ao casamento de uma amiga ou outra festa só com o marido para curtirem o momento como casal, algo que eles não faziam a um bom tempo, deixando os filhos com um parente. "Adélia" tinha pintado as unhas, delineado as sobrancelhas e soltaria o cabelo mais tarde deixando-o liso e lindo; usaria um belo vestido longo verde claro; lábios num tom nude; com os olhos marcados e uma pele perfeita; saltos finos, afinal iria de carro.  Ela poderia ser uma mulher uma mulher agitada, ansiosa, entretanto tímida, discreta.
Para João existiam várias possibilidades para aquela mulher. Ela poderia ser uma dona de casa, mãe e esposa durante boa parte de sua vida, com filhos adolescentes; um marido que trabalha e quando chega a sua casa só quer deitar no sofá e assistir jornal, receber tudo nas mãos, pois sua única resposta é que está cansado, que trabalhou o dia todo; como se ela não tivesse feito nada.  Ela ali na sua frente aparentando cansaço, desamparo, porém ele sequer a nota.
Ou ela pode ser o tipo de mulher que trabalha o dia todo, assim como o marido, porém ele e os filhos participam das tarefas domésticas para não sobrecarregá-la. Eles ainda são um casal apaixonado, onde ele sabe quando ela está triste, ou feliz, angustiada... Enfim, ele a conhece profundamente e vice-versa.
Ou "Adélia" é como a maioria das mulheres modernas que tem dupla jornada. Ela trabalha fora, chega cansada em casa e não pode descansar porque precisa fazer janta e almoço pro dia seguinte; por roupa pra lavar; passar uma pilha de roupa a sua espera há dias; lavar louça; ensinar filho (a) tarefa da escola ou ajudá-lo (a) caso for algo difícil pra ele (a); ou brigar para abaixar o som; ou sair do celular, porque precisam estudar pra prova de amanhã; ou simplesmente para ficarem um tempo em família, conversarem. Ela mal senta no sofá para assistir sua novela ou programa de tv favorito e cai no sono de tão exausta; ou já vai pro quarto bem tarde depois de fazer tudo sozinha e desaba na cama com sua roupa de dormir surrada, deixando o marido na mão. Namorar só no fim de semana após uns copos de cerveja ou vinho pra relaxar, e olha lá quando ela não dá a desculpa que está com dor de cabeça apenas para conseguir descansar. "Adélia" não sente energia para fazer nada além de dormir.
Ele cria essas possibilidades e nos faz refletir sobre as escolhas que fazemos na vida, sobre comportamento e educação que damos aos filhos desde pequenos.
João passou a escrever as estórias que criava e publicou-as em um livro que fez um sucesso inesperado.

quarta-feira, 20 de maio de 2020

EMILY SENDO ELA MESMA


Emily é uma moça doce, simpática e muito delicada; além de linda.
Quando ela estava com seus quinze anos ela tinha um admirador que vivia aos seus pés desde os dez anos, o Raul. Um rapaz agora com dezessete anos; magro, queixo quadrado, olhos puxados, de altura mediana.
A verdade é que todos começavam a comentar sobre ela não falar dos rapazes, nunca ter comentado sobre quem era o gatinho que ela gosta. Um dia Raul fez a proposta de ficar com ela na frente da escola, assim ele realizaria seu sonho de beijá-la e ela não seria mais falada por todos. Preservaria sua imagem. Ela disse que iria pensar e que daria a resposta no dia seguinte.
No dia seguinte ela disse que ficaria com ele e só dessa vez. Ela não era a fim dele, mas era a única opção por enquanto.
Emily foi com a calça jeans, a blusa do uniforme, uma sandália de salto médio e grosso, um batom rosa claro, olhos delineados. Ele chegou com uniforme, um perfume másculo e muito gostoso, barba feita, gel no cabelo. Ele estava lindo. Chegou nela, deu-lhe um beijo no rosto e depois  disse no seu ouvido.
_Obrigada por me dar essa chance. Vou ser um príncipe pra você.  Acariciou o rosto dela olhando em seus olhos quando devagar foi aproximando o rosto do dela até os lábios deles se encontrarem. Foi um beijo bom, eles se beijaram por um tempo e todos que viam comentavam e a rapazes gritavam, assobiavam. Ela parou e foi embora para o banheiro antes da aula para se recompor. Ela gostou do beijo dele, mas nada além disso. Não havia desejo, emoção, nada da parte dela e Emily estranhou. Foi o dia mais feliz para ele. Raul realizou seu sonho depois de cinco anos esperando aquele beijo acontecer. Depois daquele dia ninguém mais comentava que ela não gostava de meninos. Se aquele comentário chegasse aos ouvidos dos seus pais estaria lascada. Eles criticavam, não aceitavam de jeito algum alguém que gostasse de outra pessoa do mesmo sexo.
Porém, um dia uma de suas amigas, a Suzana; de pele morena, cabelo alisado até a altura dos ombros chamou-a para estudar em sua casa, pois Emily era muito boa em história e Suzana precisava de nota para passar na matéria.
Chegando lá Emily se deparou com a amiga com short bem curto e um top branco, devido o calor que fazia. Ela estava com uma pantacourt  e camisetinha rosa, cabelo amarrado. Ela estranhou o que sentiu. A filha de um casal que não aceitava as diferenças achou a amiga sexy e estava atraída, sentiu vontade de tocá-la, beijá-la, mas tentou tirar aqueles pensamentos de sua cabeça. Eu devo estar doida. Ela pensou.
Durante os estudos tudo correu normal até Suzana chamá-la para conhecer seu quarto. Ela não sabia o que fazer, mas foi. O quarto tinha uns posters de homens bonitos e sem camisa pregados na parede, cheio de pelúcias sobre a cama, e uma foto dela sobre a cabeceira. Su queria saber mais como era o beijo de Raul, se ele beijava bem, se tinha pegada, essas coisas. Ela precisou inventar um pouquinho. E aquele último rapaz com quem você ficou. Você gosta dele?
_Ah não. O Caio nem beija bem, além de não ter pegada nenhuma. Dava até sono, menina. Ela era bem experiente, ao contrário de Emily, que o único com que ficou foi Raul.
_Vamos dar uma volta? Cansada de ficar em casa.
_Tá bom. Vamos sim.
_Blza. Vou só trocar de roupas e a gente vai. Minha mãe não me deixa sair assim.
Emily tentou sair do quarto para dar privacidade a amiga, mas ela não deixou. E tirou o top, colocando então um sutiã e uma t-shirt com estampa de Frida Kahlo, tirou o short mostrando um bumbum enorme e colocou uma saia um pouquinho acima dos joelhos, mas folgada. Isso tudo quase matou Emily. Ela não tirou os olhos do corpo de Suzana e sabia que aquilo era estranho. Seu corpo reagiu vendo aquela moça tão bonita quase sem roupa perto dela e não entendia o que estava acontecendo. Quando a amiga acabou de se arrumar a chamou e Emily tomou um susto. A amiga riu dela e saíram.  Suzana tirou 9,5 na prova e conseguiu passar.
Quando ela foi estudar com Vanessa foi diferente. Ela também estava de short, mas não tão curto e blusa tomara que caia. Emily estava com um vestido azul claro na altura dos joelhos. Ela chamou Emily para conhecer seu quarto depois de fazerem o trabalho de Geografia em dupla. Chegando lá ela viu um quarto sem nenhuma decoração diferente; só a cama, guarda-roupa e criados mudos onde ficava um livro sobre vampiros, seu abajur e um porta- retrato da família dela.  Quando Emily estava olhando a foto, Vanessa se aproximou e tocou o rosto da amiga que virou para ver o que estava acontecendo, então Vanessa a beijou de uma vez com receio de que  não tivesse mais coragem se demorasse para tomar atitude; e também por medo de que Emily a rejeitasse. De início ela achou estranho, de olhos abertos, até entregar ao beijo. Foi totalmente diferente do beijo com Raul. Ela sentiu muita coisa dessa vez. Foi bem melhor, pois ela sentiu atração e se entregou de verdade.
No entanto, se culpava muito porque não queria nem imaginar o que seus pais fariam ou falariam. Elas passaram a ficar escondidas, e Emily começou a frequentar mais o quarto de Vanessa durante as tardes, e estava gostando muito, apesar da culpa corroê-la por dentro. Ela sabia que a amiga não queria compromisso e isso a afligia ainda mais. Se ela tivesse uma namorada talvez fosse mais fácil contar aos pais, ela pensava.
Um dia ela escreveu uma carta aos pais contando-lhes que ela havia se descoberto, que ela descobriu que gostava de meninas, que se sentia atraída por elas, que até tinha ficado com um menino, mas que não sentiu nada.  Ela pediu desculpas por dizer algo que não gostariam de ouvir, mas que também não pediu para ser diferente das  outras meninas da sua idade. Eu amo vocês. E deixou a carta dentro de um envelope sobre a cama deles e foi para a escola. Quando ela voltou estava um rebuliço, uma choradeira, uma gritaria. Ele quis bater nela quando entrou na sala, mas sua mãe não permitiu. Emily começou a chorar, pois não pretendia causar tudo aquilo. Seu pai a pôs de castigo, queria mudar de cidade. Ele dizia estar imensamente envergonhado. O que falariam dele?
_Assim que acabar o semestre você vai pra casa de sua avó. Diga  pra ela que na capital você vai ter estudo melhor. Eu não quero que descubram quem você é.
_Mas pai, eu não escolhi ser assim. Sou como qualquer garota, só não sinto atração por meninos, assim como elas. Eu não quero ficar longe de vocês.
_Não tem mais conversa. Até lá você só vai pra escola e direto pra casa. Entendeu?
_Sim  senhor. Ela chorava, mas precisava entender a posição deles. Emily sabia que não seria fácil.
Emily foi pra casa da avó uns meses depois e seu pai sequer se despediu dela. Sua mãe deu um abraço rápido chorando.
Eles a emanciparam. Foi uma decisão difícil pros pais, mas eles não queriam se sentir mais envergonhados com ela sob a responsabilidade deles. Ela foi e se matriculou na escola. Era ela e sua avó, que felizmente não era chata, nem mandona.
Em fevereiro ela começou o primeiro ano, e na sua turma ela conheceu Brenda. Ela contou-lhe porque foi para a capital e emanciparam-na. Elas ficaram amigas e a intimidade entre elas só aumentava. Na verdade Emily sente grata aos pais por ter mandado ela pra lá, pois se sente livre pra ser quem é. Ela continua a mesma pessoa de antes; a aluna dedicada; e uma boa neta. Infelizmente seu pai não fala com ela, apenas sua mãe e corta seu coração está situação.
Emily espera que um dia seu pai possa aceitá-la por ser como é, e  voltarem a ser uma família. Que não seja tarde demais.

segunda-feira, 18 de maio de 2020

DÉBORA E JEANE

Débora é uma garota valente, que ama viver e que já passou por muita coisa na vida.  Ela te contará sua história.
Como já sabem eu sou Débora, eu tenho 22 anos de idade e já fui operada desde o nascimento. Eu nasci com uma pequena cardiopatia, mas até aí tudo bem. Após uns dez dias minha mãe, Jeane, me levou para casa. Fomos recebidas por meus avós, tios. Foi uma alegria só. Minha mãe me contou que todos queriam me pegar no colo, que eu estava linda com um macacão vermelho e uma faixa na cabeça da mesma cor, era carequinha e fofa.
 Infelizmente  eu não conheço meu pai. Minha mãe foi numa balada com as amigas dela, que chamo de tias, e nisso elas beberam muito, então minha mãe acabou transando com um cara no carro dele, mas não lembra do seu nome nem aparência, nem sabe como encontrá-lo, e esse cara é o meu pai. A verdade é que nem pretendo procurar por ele.
Minha avó me disse que minha mãe sossegou depois que engravidou, que não bebia mais, nem fumava; trabalhava duro para pagar aluguel e tudo mais; conversava comigo na sua barriga. Apesar de ela não ter planejado a gravidez, ela estava feliz em ser mãe, e ia fazendo o enxoval do bebê aos poucos. Ela morava e cuidava de tudo sozinha. Mãe escolheu o nome: se fosse uma menina chamaria Débora, e se fosse menino seria Ricardo.
Eu vim ao mundo com saúde, apesar da cardiopatia que logo se resolveu.
Ela me colocou na creche, pois precisava trabalhar. Quando estava com seis anos comecei a sentir dores nos pulsos e tornozelos. Ela me levou ao médico, pois as dores só pioravam. Eu mal conseguia andar e chorava quando tentava. O ortopedista me avaliou e encaminhou-me para a reumatologista infantil.
_É algo sério, doutor?
_ Eu não sei ainda, mãe, mas encaminharei para um especialista, pois ela está apresentando sintomas reumáticos.
_Ok doutor. O senhor pode me dizer se tem cura?
_Olha mãe, cura não tem, mas tem tratamento que pode diminuir as sequelas e dores.
Foram meses agonizantes com muita dor até sair a consulta para a reumatologista. Quando felizmente chegou o dia nós fomos a consulta. Dra. Elis me avaliou aferindo pressão arterial, vendo como estavam os pulmões e tocando, mexendo com cada articulação e comecei a chorar, pois parecia que tudo doía: punhos, tornozelos, joelhos, então andar estava praticamente impossível. Meu avô que me levava no colo aos lugares; em casa mãe me ajudava a andar, ou me carregava nos seus braços forçando sua coluna quando eu sequer conseguia pisar no chão. Felizmente eu era miúda e leve. A médica pediu os exames para confirmar antes de dar o diagnóstico, mas já sabia o que era e pediu urgência no resultado, e encaminhou-me para a fisioterapia. Eu não era mais a criança alegre de antes. Tentava ser forte por mãe, mas estava muito difícil fingir que estava bem.
Eu sentia dor, e não queria fazer os exercícios. Eu chorava para não ir, mas sabia que era preciso, apesar de ser doloroso. Quando saiu o resultado dos exames confirmou que tenho Artrite Idiopática Juvenil, e a reumato entrou imediatamente com a medicação de efeito rápido para controlar a crise. Depois entraria com outra medicação e o tratamento se iniciou. Com o passar dos dias as dores passaram como mágica e  voltei a ser a garotinha feliz de antes.
A doença trouxe dores, enrijecimento das articulações, desgaste... Enfim, precisei passar recentemente por cirurgia nos joelhos, pois nem andava mais por causa do desgaste ( antes eu era muito nova, eles se recusavam por causa de crescimento, idade). Além de precisar de massagens, gelo, repouso quando a crise ataca. Hoje eu consigo contornar a doença, fiz amigos com o passar dos anos; mais virtuais do que reais, mas são bons amigos.
 Tento levar a vida o mais normal que posso, apesar dos limites. Dizem que sou uma cozinheira de mão cheia, mas sei la, só faço com amor... Mãe adora provar minhas comidas, e diz que eu a superei. Exageraada. Hahaha... Minha mãe tem muito orgulho de mim e sinto isso, por tudo que passei e ainda passarei. Hoje eu sorrio mais, saio para me divertir, apesar de não aguentar ficar muito tempo em pé. Eu trabalho como caixa no supermercado e não é fácil às vezes ter que trabalhar com dor, mas não dá para viver de licença, nem ficar reclamando, né? Eu cozinho e danço no tempo livre. São minhas paixões e pretendo fazer gastronomia para aprender mais.
  Eu ainda não beijei ninguém e penso se um dia isso acontecerá, pois também tenho sonhos e desejos como a maioria das mulheres: namorar; casar; ter filhos, nem que eu precise adotar por causa dos remédios que tomo e são muito fortes. Eu quero ser mãe.
Mãe trabalha como garçonete num restaurante, iniciou o curso de biomedicina, pois eu a incentivo a correr atrás dos seus sonhos. Tenho orgulho danado dela. Ela sente o coração  cortado quando me vê sentindo dores e se sente impotente. No entanto, ela fica feliz por me ver voltar alegre depois dos encontros com minhas amigas.
Ela até pensa em abrir o coração para um novo relacionamento, pois desde que nasci ela namorou apenas uma vez por pouco tempo (o cara era até legal, mas folgado e não curtia trabalhar...eu hein. Ela merece mais), porém tem medo de me deixar  deprimida por não ter um namorado como minhas amigas tem, umas até se casaram. Sinto-me como um obstáculo em sua vida, apesar de ela dizer que sou tudo para ela. Sou sua prioridade, sempre fui e sempre serei, mas me pergunto se ela está feliz. É tudo o que me interessa.

quarta-feira, 13 de maio de 2020

EDUARDO E AS FLORES



Eduardo é um rapaz ruivo, com várias sardas e que sofreu muito na infância com os apelidos que lhe davam de água de linguiça, cenoura descascada, sem falar que comentavam e chamavam-no de menininha, só porque ele precisava ajudar seus pais no plantio de flores, especialmente as rosas, que exportavam para varias regiões do Brasil. No começo ele brigava, fazia de conta que não ouvia, mas aquilo o machucava por dentro, pois ele se sentia o único estranho dali. Depois que foi crescendo, ele passou a rir das brincadeiras deles, e disse:
_Podem rir e me zoar, mas sou eu que elas procuram para conversar e abraçar e reclamar de vocês, e dizem que  deveriam ser como eu, seus bobões... Hahahaha.
Charles, o rapaz mais popular tentou brigar com ele, mas Edu não entrava mais nas provocações infantis de Charles e o ignorou indo embora. Este era considerado o mais bonito, e com as roupas mais descoladas, da moda; no entanto, o garoto era muito convencido e não gostava nada de estudar. Seu foco era apenas chamar atenção.
Edu já estava no ensino médio quando descobriu que foi adotado aos dois anos, mas segundo Marcos e Paula,
 os pais biológicos tinham problema com o alcoolismo. Ele passou um tempo querendo saber mais sobre si mesmo, saber sobre suas raízes, mas viu que não valia a pena.  Ele tinha gratidão pela família que lhe deu tudo e mais do que merecia.
Eles eram um casal simples, trabalhadores, de bom caráter, honestos e lhe  passaram todos esses valores quando foi crescendo.
O casal já tentava ter um filho há cinco anos, fizeram alguns exames pelo SUS e descobriram que ela não poderia engravidar por causa de miomas, um ovário policístico. Ela então conversou com o marido:
_Marquinhos, cê sabe que não posso te dar um filho. Cê ainda quer ficar comigo? Eu te amo, mas não posso te forçar a nada. Vai doer ficar longe de você, mas respeitarei sua decisão.
_Cê tá doida Paula? Eu te amo também  e muito.Vamos enfrentar essa juntos. Vamos pensar em outro jeito de realizarmos esse sonho da gente ser pais?
Eles se beijaram e decidiram pela adoção.
No dia seguinte eles foram ao cartório para dar entrada no pedido para adotar uma criança, sem restrição de sexo, raça, cor, podiam até ser irmãos, desde que fosse no máximo duas crianças. A única restrição era que tivesse de dois a sete anos. Um ano e meio depois, Eduardo chegou na vida deles e foi amor a primeira vista. Um menino ruivo, de olhos castanhos, gordinho, serelepe e falante. Paula chegou até ele e perguntou seu nome e idade.
_Duado. E mostrou os dedos  que tinha dois aninhos. Ele a abraçou de repente, e foi o abraço mais sincero e gostoso que já recebeu na vida.
Eles decidiram que era ele, o filho que tanto esperavam. 
Paula perguntou se ele queria ir morar com eles. 
-Quelo. Ebaa.
Paula e Marcos levaram-no para casa. Tudo estava preparado para receber uma criança, o (a) filho(a) deles. O quarto estava decorado num tom neutro, pois não sabiam se viria um menino ou menina.
Eles eram rígidos, lhe davam limites, regras, tarefas para a idade dele, preparando-o para o futuro, além de dar-lhe muito carinho e amor.  Seus pais não tinham condições financeiras para mimá-lo com coisas materiais e caras. Eles se sacrificavam para dar-lhe bom estudo.
Passaram-se uns cinco anos, e finalmente o juiz deu a guarda definitiva para o casal, e saiu o registro com os nomes deles . Eles eram os pais de Eduardo Lucas Viçoso. Em comemoração, eles pintaram o quarto dele de azul e amarelo-as cores favoritas dele.
Edu estava com sete anos e começou a aprender cuidar das flores, rosas e gostar delas. Seus pais diziam que ele poderia ganhar dinheiro se cuidasse bem delas, se conversasse com carinho com elas, as flores ficariam ainda mais lindas.
Ele começou a receber uma pequena mesada por ajudá-los a cuidar do plantio.
Edu trabalha o dia todo e estuda a noite.
Edu tem as mãos "boas" para cultivar flores. Elas ficam mais viçosas, cores mais vibrantes e cheirosas com os cuidados dele e seu sonho é exportá-las para o resto do mundo.
Quanto a zoação dos amigos quanto à sua sexualidade ele não ligava, pois ficava com Emily há  alguns meses e se sente muito bem com ela, logo pensa em namorá-la; e mesmo se fosse homossexual, ele não teria problemas por isso, e  sabe que os pais estariam com ele sempre.
Edu deseja ser administrador de empresa para administrar a pequena empresa de plantio de flores da família, para ela se tornar uma empresa maior, exportar e trazer mais emprego na pequena cidade onde moram. Paula e Marcos estão muito orgulhosos do homem que Eduardo se tornou. Eles esperam que mais famílias  possam dar  oportunidades para crianças como Edu mostrarem do que são capazes, deixá-los sonhar e também terem os pés no chão quando preciso. Amor e confiança neles, é tudo que elas precisam.






domingo, 10 de maio de 2020

SEGUNDA CHANCE DE PATU


  D.Gertrudes trabalhava agora com eles, cuidando da casa, fazendo comida, olhando as crianças enquanto Wil estudava ou saia com amigas. Em um sábado a tarde D.Gertrudes já ia embora quando sua prima Isadora chegou chamando-a para irem ao supermercado juntas e colocarem os papos em dia. No entanto, quem abriu a porta foi Patu e os olhares deles se cruzaram; ele sentiu algo diferente, seu coração bateu mais forte depois de um ano após a morte de Isa. Porém, ele não queria aceitar aquele sentimento, sensação diferente, pois ele ainda amava sua mulher, era muito cedo, mas aquela mulher tinha mexido com seu coração.
Isadora é uma loira de cabelo curto, olhos esverdeados, alta, vaidosa e muito charmosa com seu jeito tímido. Ela tem uma menina de dois anos, fruto do seu relacionamento, ou aventura com um homem casado, que não assumiu nenhuma das duas. Ela havia se apaixonado pelo jeito brincalhão e ousado no jeito dele se aproximar dela e de continuarem ficando juntos, ela era muito romântica. Ele nunca lhe disse que era casado, pois sabia dos seus princípios sólidos, porém era muito ingênua e acreditava em tudo que ele lhe falava - o que fez com que ele se aproveitasse dela. A aventura que ela pensava ser um relacionamento acabou quando ela disse toda feliz que estava grávida dele.
Ele esbravejou, disse que ela estava louca, que certamente não era dele aquela criança, e que era casado com uma mulher maravilhosa, tinha dois filhos, portanto não deixaria sua família por causa de uma aventurazinha, que agora dizia estar grávida para prendê-lo. Ele a mandou esquecer-se dele e não procurá-lo nunca mais. Então jogou um dinheiro para ela tirar o bebê dizendo que não queria filho bastardo e foi embora sem olhar para trás.
Ela fechou a porta e desabou no chão chorando e se sentindo usada, com nojo dela mesma e correu para tomar banho, se limpar. Isadora estava com o coração despedaçado, culpando-se por ser uma burra de ter acreditado que um homem como ele se apaixonaria por ela, uma moça do interior: ingênua, simples, de família humilde, honesta. Isadora é uma linda mulher que chama atenção onde quer que vá, e com aquele homem não seria diferente. Ela , no entanto, era tão simples, que não ligava para seu exterior a ponto de valorizar apenas a aparência, ainda mais agora sabendo que tinha uma vida crescendo dentro dela. Isadora tinha apenas uma certeza, aquele bebê nasceria sendo apenas seu, pois a criança não tem culpa de ter um pai como aquele.
A vida de Patu e sua família passavam normalmente, e ele até voltou a inventar coisas, mas seu coração permanecia solitário e seus olhos não brilhavam como antes, nem seu sorriso tinha mais alegria. Às vezes sua mente vagava e vinha Isadora em seus pensamentos, ele até tentava afastar de sua mente, então a água gelada em sua cabeça conseguia levar pra longe aquela mulher dos seus pensamentos, mas não do coração, mesmo sem saber o nome dela.
Isadora também não parava de pensar naquele homem tão bonito, mas de olhos tristes. Ela sabia que ele se chamava Pedro, e que o chamavam de Patu.
Isa foi ao supermercado e quando estava indo pegar umas frutas esbarrou-se sem querer em Patu, que andava distraído. Ela se desculpou e os olhares se encontraram novamente, mas dessa vez houve uma conversa breve e alguns sorrisos.
Ela pensou que gostaria de cuidar daquele homem e tirar a tristeza do seu olhar. Ele mexia com o coração dela.
Ele pensava que não tinha visto uma mulher tão linda e encantadora, com um sorriso tão acolhedor, decidiu que queria vê-la mais vezes e convidou-a para sair no próximo sábado.
Isa aceitou e após se despedirem sem jeito ela mal conseguiu terminar suas compras e voltou para casa sonhadora e pensando o que vestiria. Ela estava empolgada por aquele encontro. Ela sabia que ele tinha filhos. Não seria nada fácil lidar com tantas crianças, e chegar assim de repente em suas vidas, mas por um homem como Patu ela seria capaz de arriscar e assumir uma grande família. Ela já ficou tão desiludida antes e não queria criar muita expectativa, mesmo sabendo que já estava criando.
O dia do encontro chegou, ele contou a Wilma que iria ao encontro, e por pouco não desistiu, Patu disse que não estava pronto- a verdade è que ele estava bem ansioso, pois há muito tempo não tinha um encontro. Sua filha disse que iria decepcionar a moça e pensaria mal dele, que deveria ser boa pessoa, pois ele era muito exigente e não escolheria qualquer uma. Ela ficou sabendo que Isadora tem uma filha pequena, e não ligou. O pai precisava se distrair e conhecer alguém para tirar a tristeza dos seus olhos e devolver um sorriso alegre àqueles lábios novamente.
O encontro foi numa pizzaria que ela não ia há muito tempo, mas que gostava muito.
Eles conversaram, ele falou um pouco de suas invenções, de seus filhos, no entanto Patu não è muito de conversar e prometeu a si mesmo que não ficaria falando de filhos, nem de sua falecida esposa, queria conhecer  mais profundamente aquela bela mulher.  Ela falou que era design de sobrancelhas e fazia depilação, pois fazer as mulheres se sentirem bem e bonitas a fazia se sentir também melhor consigo mesma. Eles jantaram, tomaram um delicioso vinho tinto e sorriam compartilhando uma cumplicidade nos olhares. Pedro a levou em casa caminhando, aproveitando uma deliciosa brisa enquanto conversavam- ela morava apenas duas quadras da pizzaria, e quase a beijou quando chegaram a casa dela. Porém, ele achou que estava cedo, visto que precisavam se conhecer melhor antes. Eles trocaram telefones.  Patu então agradeceu pela noite tão agradável, deu-lhe um beijo no rosto e foi embora.
Isadora mal dormiu durante a noite e quando conseguiu pegar no sono sonhou com ele, mas em seu sonho ele a beijava com paixão e por pouco eles não se amaram na sala, o despertador tocou. Ela acordou suada e molhada. Ele havia mandado uma mensagem: Bom dia Isadora (ele ainda não conseguia chamá-la por Isa, pois era o jeito que chamava sua mulher). Obrigada pela noite de ontem, há muito tempo não tinha um momento agradável assim.  Você estava muito linda. Beijo.
 Ela ficou muito feliz em receber aquela mensagem e respondeu-lhe:
Bom dia Pedro. Obrigada pelo elogio e pela noite especial que compartilhamos ontem. Eu simplesmente amei. Você estava muito elegante e cheiroso. Beijo.
Eles não disseram nada sobre os sonhos que tiveram na noite passada, sentiam que era muito cedo para chegar neste assunto, mas o desejo entre eles era inevitável.
 Os encontros foram ficando frequentes, e eles se sentiam confortáveis, seguros um com o outro até que num passeio a dois ele pediu-lhe em namoro dando-lhe um simples anel de compromisso dizendo que a amava muito. Ela emocionada disse que estava muito feliz e disse:
_È lógico que aceito ser tua namorada, Pê. Eu amo você também e muito.  Eles então se beijaram com os braços dele enlaçando sua cintura, enquanto os dela envolviam o pescoço dele.  
A família ficava maior a cada dia, pois Rebeca, a filha de Isadora, estava sempre na casa de Patu brincando com os gêmeos e Ingrid, de oito anos. Todos na casa gostavam dela.
Pedro se transformou em outro homem desde que Isadora começou a fazer parte de sua vida.  Os olhos dele começaram a brilhar novamente, ele voltou a rir e brincar com seus filhos, seu ânimo e disposição eram outros agora. Ele estava feliz e não pretendia perder aquela mulher. 
Isadora passou a acreditar no amor e estava muito feliz.
Dona Gertrudes estava torcendo pelo casal, pois sabia o quanto eles precisavam um do outro para se complementarem e serem felizes depois de tudo que passaram.

Eles tiveram discussões, passavam por momentos difíceis como a pneumonia grave de Samuel. Ele gripou e ela não passava, e o pediatra não havia pedido nenhum raio-X de tórax para ver como estava,só passava um xarope para tosse, e ele ficando cada vez pior, até que eles o levaram ao hospital com urgência, e depois de umas horas esperando na sala de espera ele foi atendido,fizeram um raio-x de tórax e descobriram a pneumonia já muito agravada. Ele precisou ser internado e passar vários dias no hospital enquanto não estabilizava sua saúde. Não foi fácil para Patu ter que lidar com tudo isso, mas felizmente Gertrudes e Isadora ajudavam-no a cuidar das crianças, da casa e de Samuel enquanto ele trabalhava.
Depois de uns dias no hospital Samuca recebeu alta e tudo voltou ao normal.
Eles se casarão em dois anos. A família está cada dia mais unida, apesar dos problemas cotidianos que aparecem. 
Patu redescobriu a felicidade nos braços de Isadora, mas Isabela estará sempre em seu coração e grato ao tempo que passaram juntos, pela família que construíram.

PATU



Patu é um homem honrado, inteligente e muito trabalhador, além de ser visto como um visionário. Seu maior hobby era criar, inventar objetos nos quais ele pudesse ajudar os outros de alguma forma. Ele criou uma luminária com sensor de sono, que funcionava assim: se o sono chegar então o sensor é ativado e a luz da luminária, que é própria para estudar durante a noite vai diminuindo aos poucos até apagar-se por completo. Ele funciona a base da energia elétrica e pilha. Ele criou esta luminária inspirado nos filhos Wilma e Valter, os mais estudiosos de seus cinco herdeiros, e eles passavam a noite estudando em uma luz ruim para a visão. Então com essa criação eles estudavam até o sono chegar, pois Patu sabia o quanto uma noite de sono com qualidade trazia benefícios para a saúde e teriam maior proveito na escola no dia seguinte.
Patu é um homem de pele escura, olhos cor de mel, forte, muito alto, cabelo raspado, ele é visto como a cara do pai, Sr. Ronaldo. Um senhor robusto, sisudo, que reclamava de tudo e somente a mãe de Patu o suportava.  D. Esmeralda era uma mulata, de cabelos cacheados com algumas mechas grisalhas devido à idade, altura mediana, quadris largos; porém, seu sorriso, simpatia, paciência e meiguice que cativavam a todos, especialmente fez seu marido apaixonar-se logo que a viu sorrindo e conversando com as amigas na praça. Ela era a única pessoa capaz de fazer Sr. Ronaldo sorrir e ser bem humorado, mas quando ele estava mal-humorado ela simplesmente o ignorava, pois com os trinta e cinco anos de convivência ela descobriu que quanto mais reclamava do mau humor dele, mais insuportável ele ficava.
Patu trabalhava numa fábrica de brinquedos, e quando podia comprava uns para seus filhos com preço de custo, e os fazia muito felizes. Eles diziam muito orgulhosos que o pai deles era muito legal e que trabalhava num lugar que fazia brinquedos. Patu era apelido que sua mãe lhe dera quando ele era garotinho e tudo ele chamava de patú, e ele gostou, fazendo com que todos o chamem assim.  Seu nome é Pedro Lucas.
Pedro foi casado por dezesseis anos com Isabela, a idade hoje de Wilma, esta tinha doze anos no dia do acontecido; sua mulher faleceu com infarto, e ninguém sabia de seu problema cardíaco até então. Foi num sábado de manhã em que Wilma, a filha mais velha, estranhou sua mãe não ter levantado ainda, pois já passavam das oito horas, e ela era a primeira a levantar mesmo no fim de semana. Após fazer e servir o café para os irmãos mais novos, ela foi ver o que aconteceu com sua mãe. Quando chegou próximo a cama dos pais, Wilma viu que ela estava caída no chão, e já estava um pouco fria; não havia respiração, então Wil saiu chorando e gritando seu pai que estava no quarto das criações, pois sempre madrugava quando tinha alguma inspiração. Quando se aproximou do pai ela o abraçou e chorava compulsivamente. Depois de se acalmar um pouco conseguiu falar aos soluços.
_Pai, a mamãe morreu.  Vamos comigo, por favor.
 Ela saiu puxando-o pela mão.  Quando ele viu sua mulher ali caída no chão e já sem vida não queria acreditar. Ele a amava tanto que se perguntava olhando para cima:
_Por que Senhor?
Começou a chorar abraçado a sua filha e pensando: Como vou dar conta de cinco crianças? Eu não vou conseguir. Ela era minha mulher, amiga, minha confidente, e a melhor mãe que eu poderia encontrar para meus filhos. Não é justo que Wilma tome essa responsabilidade; ela é tão jovem, e tem tanto para aproveitar, mas enquanto não encontro alguém para ajudar vou precisar dela. Ele se afastou dela e enxugando as lágrimas da filha e olhando nos seus olhos ele disse:
_Wil, meu amor, eu sei que não é sua responsabilidade, você é tão jovem e precisa aproveitar a vida, mas agora enquanto não conseguimos alguém para cuidar dos seus irmãos vou precisar da sua ajuda. Você pode cuidar deles quando não estiverem na escola? Perdoe-me por pedir isto, mas preciso contar contigo, incluindo agora para contar-lhes sobre sua mãe.
Ela voltou a abraçar seu pai forte e disse-lhe:
 _Não precisa me pedir perdão, pai. Eu entendo que será uma fase muito difícil para todos nós. Sentirei muita saudade dela. Conte comigo, vou te ajudar sempre. Eles são meus irmãos, e eu sou a mais velha, então é minha obrigação cuidar deles. Vamos lá contar para eles, depois precisa resolver tudo sobre o velório, enterro, avisar meus avós, chamar o padre... Enfim, seu dia será bem cheio; enquanto isso eu cuido deles. Você comeu alguma coisa?  Não pode passar mal agora, por favor, pai.
_Primeira coisa, não é sua obrigação cuidar deles só por ser a mais velha; segundo- Obrigada por ser essa filha tão compreensiva e boa pra todos nós. Eu te amo muito. Ah! E terceiro, eu comi sim antes de vocês acordarem. É que você sabe como eu sou, detesto bagunça, então arrumei tudo. Vamos contar para as crianças.
Foi um momento doloroso e de muito choro.  Uns abraçaram Wilma, outros corriam para o pai e agarraram-no chorando. 
Quando vieram buscar o corpo de sua mãe, ela levou os irmãos para os fundos da casa para não verem uma cena tão triste, e evitar uma confusão. Última coisa que seu pai precisava lidar agora era com mais problemas. Ele havia escolhido a roupa que fazia sua mulher ficar linda: um vestido longo de mangas curtas, cor bege, decote distinto, pois ela iria gostar de estar bem naquele momento e discreta como sempre foi.
Foi um dia muito pesado, era como se tivesse caído um temporal, vindo de uma nuvem negra sobre a vida deles. Após o enterro, a mãe de Isabela foi passar uns dias com os netos, e assim aliviar um pouco a vida de Wilma; além de desfazer-se das coisas da filha na casa, pois manter tudo só aumentaria a dor de todos. Ela preservaria ali apenas as fotos de Isa para as crianças não se esquecerem do rosto da mãe deles, nem seu genro.
Dona Estela não era a favor do relacionamento de Isa com aquele rapaz tão simples e fantasioso, mas sua filha bateu o pé e disse aos seus pais que Pedro Lucas era o amor de sua vida, que se não fosse para estar com ele que preferia tornar-se freira. Isabela era uma mulher doce, mas possuía personalidade marcante; era discreta no jeito de agir, de se vestir;  odiava se expor ao ponto de não possuir nenhuma rede social ; era também sensata e muito inteligente. Ela sabia que o sonho de sua mãe era que ela se casasse e lhe desse netos, então D. Estela acabou concordando, e em questão de oito meses eles se casaram em uma capela próxima a casa de Isabela e a comemoração foi um almoço para a família e padrinhos.  A intenção era construir a casa dos sonhos, com um quintal grande para as crianças brincarem e para o casal poder socializar; uma casa com quatro quartos, sendo um para o casal, outros dois para o casal de filhos que planejavam ter, e outro para hóspede. Eles sequer imaginavam que ao invés de um casal viriam três crianças inesperadas, mas muito bem-vindas e amadas, sendo três meninas e dois meninos gêmeos: Wilma, Paloma, Ingrid, Samuel e Saulo.
O tempo foi passando e a dor diminuindo, mas as lembranças permaneciam.  Wilma colocou uma fotografia de sua mãe na sala de estar e contava histórias engraçadas, marcantes que viveram com ela, já que é mais velha e se lembrava de mais coisas para contar aos seus irmãos. Eles amavam ouvi-la contar sobre Isa.
D.Estela passou quinze dias com eles, mas precisava voltar para casa, pois tinha compromissos inadiáveis em sua cidade, em Florianópolis-SC. Eles moravam em Canoinhas-SC, quase quatrocentos quilômetros de distância do resto da família, pois precisavam de um lugar com ar mais puro, e com vários lugares para visitar. Os gêmeos tinham bronquite e não aguentavam mais ter que levá-los ao hospital com crises morando na capital.  
O final de ano foi muito difícil para todos, especialmente para Patu, que tem sentido tão solitário desde a partida de sua mulher. Ele sonhava com ela e chorava todas as noites de saudade, a solidão estava levando-o para a escuridão.
Ele não pensava em arrumar uma nova esposa, e se ela não gostasse de seus filhos? Eles eram prioridade em sua vida. Ele havia abandonado as invenções- dizia que não tinha inspiração para criar nada e ficava no quarto pensando em Isa, ou assistindo jornal, futebol, pelo menos a tv  estava ligada. Patu havia perdido o brilho nos olhos e o sorriso alegre nos lábios, sua vida era trabalhar e cuidar dos filhos, mas estava sério- assim como o pai. Wilma e seus avós estavam preocupados com ele.

DIA DIFÍCIL

 Hoje está tão difícil.  Só queria desaparecer, evaporar como fumaça, e parar de dar trabalho. E ao mesmo tempo eu me sinto tão egoísta.  Te...