quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

DECISÃO

 

Justine estava sentada à beira de um abismo, onde um córrego corria lá embaixo como uma linha entre muros altos de pedras. Uma paisagem de tirar o fôlego.Enquanto olhava para o horizonte e os pés balançavam no ar, as lágrimas vinham aos seus olhos e deixavam sua visão um pouco turva pelas emoções ali contidas. As memórias da infância e adolescência surgiam como um enxame de abelha a perturbá-la.

Há um ano sua vida não tem feito mais sentido e ela procurou aquele lugar tão lindo como fonte de coragem para fazer o que seria o melhor para ela. Justine estava em um dilema entre tentar mais uma vez e lutar ou dar a chance para si mesma de acabar com todo seu sofrimento que parecia não ter fim.

Justine estava desempregada há uns meses e era humilhada pela família desde que se entende como gente, pois a viam como fracassada; não podia realizar o sonho de ser mãe; não tinha mais amigas, já que o ex-marido a afastou de todas. Ele era um homem violento, muito ciumento e embora ele tivesse todos esses defeitos, ela se via dependente dele. Ele se cansou dela  dela um dia e a deixou em frangalhos.

Que motivação ela teria para querer seguir em frente?Ela pensava consigo mesma; ou ao menos pensava que estes pensamentos vinham dela.

Justine só via a escuridão que tomava conta de sua alma e não suportava mais viver sob o mesmo teto da família. Era como se estivesse em um filme de terror o tempo todo. Eles a faziam de empregada e batiam nela; sua mãe a odiava de forma fulminante. O pai tinha abusado da filha na adolescência e a mãe a fazia usar roupas velhas, feias para o marido não desejá-la mais. A mãe morria de ciúmes do marido. Justine estava muito magra e nem se sentia um ser humano, sentia-se pior do que o lixo que jogava fora pela manhã. O cachorro Bob, seu único amigo, era mais bem tratado do que ela. Aquela jovem já havia pensado em se prostituir para conseguir um dinheiro e sair dali, mas sua mãe dizia que nem para vender o corpo ela servia, um canhão daqueles e ria. Tudo aquilo entrava nela como algo verdadeiro e ali se firmava, enquanto sua alma se afundava mais e mais em algo sombrio. Ela tinha conseguido sair escondida e correu para aquele abismo,  talvez sua única saída.

Entretanto, nada estava perdido. Sempre há um pingo de esperança, por menor que seja. Seu coração ainda pulsava forte quando pensava em fugir da casa, da cidade. Era um resquício de fé, esperança que ali restavam e que a fazia sorrir. Ser livre era seu maior  ou único sonho.

Ela ouviu alguém gritando seu nome, era Jordana, sua melhor amiga na infância e adolescência. Ela soube que Justine tinha sido deixada pelo marido e foi procurá-la em casa, mas a mãe dela disse que a amiga não estava e então foi para o lugar favorito delas para conversarem em paz na adolescência.

Jordana, o que faz aqui? Como me encontrou? Ela olhava para a amiga com cara de espanto e até certo alívio. No fundo, ela não queria fazer aquilo, mas não via jeito de sua vida mudar, então quando Jordana apareceu foi como um pequeno bálsamo e alegria para sua alma. Algo que ela não sentia há um longo tempo.

Elas contou sua vida, então Jordana decidiu levá-la para casa da mãe em outra cidade. A amiga merecia recomeçar a vida e ela ajudaria no que fosse possível. Ela levou Justine até sua casa, onde a fez tomar um  bom banho, deu-lhe algumas peças de roupa que havia separado para doação, que felizmente caiam bem na amiga. Elas então partiram para a casa da mãe de Jordana.

Justine nunca mais voltou, nem olhou para trás. Esperava um novo destino que escreveria com ajuda de Jordana. Ela estava grata a Deus por não ter feito nada contra si mesma e por ter colocado um anjo que a tirou da escuridão em que se encontrava. 

Justine agora parecia uma outra mulher, até ganhou um pouco de peso, arrumou trabalho como faxineira, se cuidava mais. Ela estava feliz e emitia agora uma luz  interior, uma alegria que antes desconhecia. Ela descobriu que tinha valor, é bonita e que não devemos nunca desistir.  Às vezes é muito difícil continuar, tem momentos que é quase impossível, porém sempre tem a esperança de que tudo pode mudar e que não está sozinha(o). 

 

 

 

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