sexta-feira, 27 de novembro de 2020

INVERNO SOLITÁRIO

 

Em um sábado de inverno rigoroso eu estava saindo tarde do trabalho; já que saio às dez da noite, e por morar no subúrbio eu não sabia como chegar a minha casa. Eu não tenho carro ou moto e o ônibus não passa mais nesse horário por aqui. Já passou da meia-noite e não sei se ainda tem táxi rodando, mas vou tentar.

Eu liguei e nenhum taxista estava disponível. Então resolvi sair caminhando e o frio fazia os meus lábios tremerem, ficarem roxos. Eu me sentia congelando, embora usasse roupas para me aquecer.

Do nada aparece um carro cinza, com vidros bem escuros; o que tornava impossível eu ver alguém ali dentro. Ele estava andando bem devagar em minha direção, e ao invés de correr, eu simplesmente parei e esperei eles abaixarem o vidro para assim eu ter a chance de pedir uma carona. Eu deveria estar com bastante  medo de morrer de hipotermia ali sozinho.

Um homem alto e muito forte sai do carro encapuzado, todo vestido de preto, e  parecia bem misterioso de cabeça baixa. Pra completar todo o mistério ele segurava um taco de beisebol em uma das mãos enluvadas. Naquela rua escura, com a lâmpada acesa de apenas um poste, um arrepio percorreu toda minha espinha, pois quando aquele homem se dirigiu a mim eu tentei correr, mas era tarde demais...

(Narrador) 

Um rapaz o encontrou caído na calçada, onde se encontrava extremamente machucado e desacordado, porém vivo. Ele então ligou para o SAMU; achou o celular do homem no bolso da calça dele; ligou para o número com o nome de Amor e contou-lhe o que tinha visto. Na carteira encontrou um documento com o nome de Marcos André.  

A mulher de Marcos André já tinha ligado inúmeras vezes e chamava até cair na caixa postal, ela estava desesperada em casa. Quando o moço ligou e contou sobre o marido ela sentiu um pouco de alívio em ter alguma notícia, mesmo que fosse tão ruim. 

Depois de uns vinte minutos a ambulância chegou e o levou para o hospital, com o rapaz o seguindo de carro.

Eu acordei depois de um dia e todo entubado, pelo que me contaram; visto que fiquei inconsciente depois de tanto apanhar, sem saber o porquê daquela violência toda. Os médicos disseram à minha esposa que foi sorte eu ter sobrevivido, pois me bateram demais.

Depois de uns dois dias no hospital eu assisti ao jornal, no qual uma das notícias era sobre um homem grande que saía em um carro cinza procurando pessoas solitárias andando nas ruas com pouca luz para bater até a morte. Havia mais de cinco vítimas hospitalizadas; e as duas outras infelizmente não resistiram. O homem pelo jeito não estava sozinho no veículo, já que estava no banco do passageiro. Só que a polícia ainda não tinha conseguido capturá-los, nem descobrir as identidades deles. 

A pergunta que não quer calar é:Por que eles faziam isso com pessoas que andavam sozinhas nas ruas? Será que teria um mandante por trás disso, além dos que estavam no carro? Várias questões surgiam em minha cabeça e me veio a idéia de me vingar quando saísse daquele leito. Eu não tinha forças sequer para falar; portanto, eu precisava me recuperar bem e fazer o que tinha de ser feito.

No entanto, eu não imaginava o que iria acontecer com a minha vida quando eu saísse dali. Eu descobri que o homem atingiu uma das minhas vértebras e me tornou paraplégico, mas eu já suspeitava que algo estava estranho com o meu corpo.

Uma revolta começou a percorrer todo o meu ser. Não era justo. E perguntava para Deus:

_ Por que eu? Sempre fiz tudo certo; trabalhava que nem burro de carga, mal via meus filhos durante a semana. Eu saía cedo de casa e só voltava a noite, mas não tão tarde como naquele dia. E agora? Será que minha mulher ainda vai me querer? Será que me tornarei um peso para ela, se me aceitar? Como vou satisfazê-la?Será que serei homem de novo?Eram tantas questões em minha mente.E como vou brincar com meus filhos? É um adeus ao futebol com os meus amigos aos sábados?

Quando o médico foi ao meu quarto e estávamos sozinhos, eu falei com ele todas as minhas preocupações. Ele disse que iria me encaminhar para um psicólogo do hospital que estava acostumado com essas questões e que poderia me ajudar.  Eu não queria demonstrar minhas fraquezas para um estranho, mas era melhor do que falar com minha mulher. Aquilo tudo estava me torturando. 

Depois de algumas cirurgias e uma árdua recuperação depois de uns quatro meses eu estava pronto para voltar para casa.

Eu nem acreditava que estava vivo e voltando para casa. Minha mulher tinha mandado tirar os dois degraus e fazer uma rampa para eu poder entrar com a cadeira de rodas. Eu agora já estava conseguindo empurrá-la sozinho. Eu queria o máximo de autonomia que conseguisse. 

A terapia e a reabilitação me ajudaram a aceitar e adaptar a minha nova realidade. Foi muito esforço e suor para estar onde estou; então agora eu preciso fazer academia para não perder o que consegui em força muscular dos braços e pernas. As primeiras rodinhas entraram primeiro na sala e com isso as lágrimas rolaram em meu rosto quando vi a faixa de bem-vindo e meus filhos me esperando ansiosos.  Foi um momento de emoção para todos.

 Foi muito choro de gratidão por estar na nossa casa, com minha família e bem, mesmo depois de tudo que passei. Apesar disso, aquele senso de justiça; ou melhor, sede de vingança ainda corria em minhas veias.

Eu procurei manter contato com as outras duas vítimas, pois os dois homens mais velhos não resistiram aos graves ferimentos. No entanto, os sobreviventes não queriam se vingar, apenas procuravam por paz e viverem como antes. Eles queriam o impossível: esquecer que aquilo aconteceu.

Entretanto, eu não desisti de vingar, eu precisava fazer justiça por mim e por aqueles que morreram. Eu vou procurar a polícia e propor de eu ser a isca deles para pegar aqueles caras. Minha mulher não concorda e morre de medo que eu morra dessa vez. Eu os amo muito, mas preciso fazer isto para sentir paz.

No dia seguinte.

Eu fui até a delegacia e conversei com o investigador do caso, porém ele me chamou de louco e mandou eu ficar fora disso, que resolveriam aquilo de modo profissional e com cautela. Eles tinham descoberto que os caras já tinham feito aquilo em outra cidade, e eram perigosos, que precisavam tomar muito cuidado.  

Eu fui embora e resolvi  cuidar do caso sozinho. Eu contratei um detetive para investigá-los. Eu precisava saber para onde iam depois que batiam nas pessoas. Tirar fotos deles. Eu precisava do maior número de informações possível, antes de tomar qualquer atitude. Eu voltei a trabalhar como serralheiro enquanto o investigador fazia seu trabalho; afinal, eu tinha uma família e precisava pensar noutra coisa.

 Depois de quinze dias ele me trouxe tudo que eu precisava, então resolvi ir ao local informado pelo detetive, e lá havia vários homens armados conversando em frente a um galpão, e esperei até o homem grande sair, então atirei nele com um rifle que atingiu seu braço. Meu primo e eu saímos de lá às pressas e levei as informações até a delegacia, mas antes um dos caras nos seguiu até entrarmos em um beco, o carro tem uns furos de bala que pagarei depois, e o cara nos perdeu de vista. Meu primo disse que foi a maior aventura da vida dele.  Ficamos presos por dois dias por não obedecer as ordens da polícia e querer fazer justiça com as próprias mãos. Eles finalmente prenderam todos e descobrimos que eram pagos porque estavam fazendo caridade em acabar com a solidão daquele povo.

 A verdade era que o chefão deles passou anos vivendo solitário na rua e durante o inverno quase morria de tanto frio, por pouco ele não tirou a própria vida para sair daquela situação,mas mudou de ideia e disse que se um dia fosse rico faria uma caridade tirando a vida de pessoas que eram solitárias como ele nas ruas durante a madrugada. Após ficar rico com o tráfico ele contratou aqueles homens e realizou a sua missão. Eles foram julgados a 20 anos de prisão. 

Eu agora estava em paz e feliz com minha família. Houve justiça. Eles agora estavam onde deveriam estar. 


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