Eu sou Wesley e moro em Manaus. Trabalho como qualquer um, mas quando preciso descansar a mente, esquecer dos problemas eu vou para a floresta.
Eu sou filho
e neto de índios, então meus avós me ensinaram a andar no meio daquelas
árvores; daquela vegetação fechada e que quase não dá para ver a luz do sol; me
ensinaram sobre ervas que curam, como usá-las e quais devo me manter longe;
aprendi como me defender de animais e como sobreviver sozinho no meio da mata.
Meus
pais morreram de febre amarela logo que chegamos à cidade. Foi muito
difícil e tive que aprender a língua daquelas pessoas tão diferentes no idioma,
cultura, pois só sabia a língua da tribo. Sofri muito e fui bastante
discriminado até conseguir entrar naquele novo mundo para mim, conseguir
confiar e conquistar a confiança de um novo povo era um desafio. Era como se eu
estivesse me preparando para o que viria.
Em um
feriado prolongado decidi ir para a floresta ver meus avós, a tribo e passear
na floresta. O pessoal da tribo, especialmente meus avós, o cacique e a
curandeira ficaram muito felizes em me ver.
Caminhando,
me desviando dos galhos, cuidando para não ser picado por cobras, aranhas ou
outros insetos eu adentrava a mata com a tranquilidade de quem conhecia tudo
com a palma da mão, até encontrar uma árvore diferente, com tronco grosso, de
um marrom acinzentado, folhas de um verde esmeralda e bem
pequenas, umas frutas vermelhas que lembravam uma maçã, e parecem ser tão
suculentas que com a luz do sol cintilam e me seduzem para prová-las co.
Eu pego e dou uma mordida, é mesmo muito suculenta e de um sabor agridoce que
me deixa em êxtase, a ponto de sair dali e "viajar" para outro mundo.
Um lugar em
que tudo parece conto de fadas, com gnomos de orelhas grandes e pontudas construindo
casas, elas eram todas coloridas; outros trabalhavam maravilhosos jardins
plantando flores de todos os tipos, com tamanhos, cores diferentes e me
mostravam como a diversidade é bonita. As mulheres ficavam com seus vestidos de
camponesas sentadas a porta de suas casas e se abanando com leques enquanto
conversavam entre si. Crianças brincavam felizes na rua, que mais parecia um
calçadão, pois ali não havia outros meios de transporte além de caminhar. Era
tudo tão em paz, mas havia tanta vida através das inúmeras cores. Não havia
calçada, era tudo um piso dourado como ouro, tudo era impecavelmente limpos,
bem cuidado. As vozes eram suaves, ninguém dava gargalhada alta ou gritava. Os
animais passeavam livremente, os pássaros voavam com uma liberdade que eu não
tinha visto, exceto na floresta. Eu me imaginei se conseguiria morar ali, tenho
minhas dúvidas, aquilo logo me deixaria entediado. Será que tudo deveria ser
daquele jeito e estávamos vivendo de maneira errada? Eu refleti sobre isso. Eu
perguntei a uma senhora se eles não tinham problemas ali, pois tudo parecia tão
perfeito. Ela me olhou com um sorriso acolhedor já sem dentes e disse que todos
têm problema, mas eles se ajudavam e logo era resolvido. Eles não pareciam se
estressar, ficar nervosos com nada. Eu conversei com uns gnomos que
trabalhavam e cantarolavam alegremente.
Imaginava
que tinha passado um longo tempo ali, mas quando de repente voltei a
floresta parecia que não tinha passado nem uma hora ali. E voltei para a
tribo me sentindo diferente, como se eu fosse outra pessoa, porém no mesmo
corpo de sempre.
No outro dia
parecia que tudo se repetia, menos o local onde fui parar.
Eu chego a
um castelo medieval, onde as roupas e fala das pessoas pareciam com os filmes
que eu já tinha assistido; eu estava ali ou achava que estava. Era tudo muito
real. Uma mulher de cabelo claro, olhos de uma cor lilás chega até mim e me
pergunta o que faço ali, que o rei me procurava. Era como se eu já fizesse
parte daquilo por anos, mas não conhecia ninguém. Eu a segui até o rei, ela
também era uma súdita e me disse no caminho que se chamava Joana e a sua função
no castelo era ver se os outros estavam fazendo tudo certo. O rei brigou
comigo. "Onde estava?eu te procurei por toda manhã. Preciso que sele o meu
cavalo. Quero dar um passeio." Pedi perdão pela ausência, e segui a
procura de um cavalo que não sabia qual era. Joanna me mostrou o cavalo, embora
ela parecesse estranhar de eu não ter reconhecido o bendito cavalo. Eu o selei
e avisei ao rei que estava tudo pronto para seu passeio.
Algum tempo
depois...
Eu precisei
vestir a armadura para enfrentar um monte de guerreiros adversários que
resolveram invadir o reino. Confesso que um pavor tomou conta de mim, pois
nunca havia lutado com ninguém ou usado espada; muito menos fazendo parte
de uma tropa de guerreiros medievais lutando pra proteger o reino. Eu não sabia
montar direito, então acabei caindo e rolando pela pequena colina, e felizmente
não cheguei a me machucar muito. Assim que
parei de descê-la, eu já me encontrava na floresta mais uma vez, mas a verdade
era que eu queria ver Joana de novo. Agora não sei como voltar lá.
Passei dois
dias sem comer a fruta e refleti muito sobre como eu voltaria àquele mundo e
como trazê-la para a minha realidade. Eu estava dividido; e se eu a trouxer
para cá, mas ela não gostar e quiser voltar para o mundo em que conhece?Como
faço agora? Devo ir para lá e ficar para sempre?
Minha avò
chegou a mim e perguntou o que estava acontecendo, pois eu estava mais
centrado, menos ansioso, mais sorridente, gentil e prestativo. Eu fingi que
estava ofendido, mas no fundo eu sabia que estava certa. Eu costumava ser egoísta
e ansioso demais, muito sério. A verdade era que eu só esperava que fizessem tudo
por mim e para mim, entretanto, o contrario nunca acontecia.
Eu
desconversei e sai de perto.
Então voltei
à floresta, mas eu não queria ir para outro mundo, só iria por a cabeça no
lugar. Um longo tempo se passou e acabei adormecendo embaixo de uma árvore
qualquer; quando dei por mim eu estava em um rancho com alguns cavalos de
inúmeras raças diferentes. Eu me olhei assustado e pensando como tinha ido
parar ali, já que não tinha comido a fruta. Um homem de barba me chamou pelo
nome, como eu já trabalhasse ali e me pediu para colocar água, comida e para
escovar os que estavam no estábulo. Eu entrei desconfiado, pois nunca tinha
feito isso antes, e se me mordessem ou me dessem coice?Nenhum fez nada comigo e
consegui cuidar deles. Um estava agitado e pedi ajuda, mas um dos homens que
cuidava deles disse que o cavalo gosta de passear todos os dias naquele
horário. Sai o puxando, no entanto o cara na hora que me viu disse: parece que
nunca andou em um cavalo, deixa de ser medroso, sele e monte nele, cavalgue até
ver que ele está cansando, e então volte. No começo foi difícil, eu nunca tinha
montado e tive medo de cair, mas no meio do caminho eu já cavalgava como um bom
cavaleiro. Eu senti um profundo orgulho de mim mesmo cavalgando daquela forma e
passeamos muito. Voltamos, pois Wenk estava cansado, então o cobri com a manta
para não se sujar; limpei o estábulo e fui tomar um banho, apareço de repente
nu na floresta. E agora?Como chegarei assim na tribo? Minha vò me dará um
grande sermão. Eu resolvi dormir no meio da floresta, porém esfriou demais,
então peguei umas folhas de taioba e improvisei uma roupa. Felizmente quando
cheguei lá todos já tinham ido dormir e descansar para o dia seguinte. Entrei
na minha oca de palha, vesti uma roupa decente e dormi me perguntando o que
estava acontecendo comigo. Uma viagem surreal, enigmática como todas as outras.
No dia
seguinte eu voltei à floresta e lá eu fechei os olhos desejando muito encontrar
Joana, eu pensei , será que funciona?E não funcionou; portanto, eu comi a fruta
e fiquei muito feliz quando me deparei com Joana depois de poucos minutos. Eu
queria puxá-la e levá-la embora dali comigo. Eu sentia que existia algo forte
entre nós e não apenas atração. Eu e Jo conversávamos muito quando jà tínhamos feito
nossos trabalhos e ela me contou sobre sua infância.
Ela è filha de uma das súditas, Ana, a mais próxima
da rainha, entretanto, a outra súdita que fingia ser amiga da mãe dela, e que
no fundo sentia profunda inveja da proximidade daquela mulher com a rainha Mari;
acabou roubando Joana e a levou para um casebre longe do reino, assim achariam
que alguém de fora a tivesse roubado. Ela levava uma vida tranquila, sem
sentimento algum de culpa. A mãe de Joana contou à rainha o que houve aos
prantos. Mari mandou vasculhar todo o reino e a garotinha não foi encontrada. Ana
ficou tão triste que adoeceu,visto que ela havia perdido o marido há pouco tempo
por causa de um golpe de espada no peito e agora sua filha desapareceu. A pobre
mulher ficava pensando o que tinha feito para merecer tanto sofrimento. No seu
leito de morte, a sua falsa amiga disse-lhe próximo ao ouvido que ela havia
roubado o bebê, e que Ana já tinha tudo sendo amiga da rainha, não precisava de
filhos; ela sim merecia um filho que nunca poderia ter. Ela arregalou os olhos
com a confissão e sem forcas para reagir faleceu sem marido e sem a filha.
Aquela megera
ia ao casebre ver a menina já crescida e só deixava dois pedaços de pão e dois
copos de água até o dia seguinte; no entanto, quando a menina era pequena ela a
tratava como princesa e ensinou-lhe tudo que sabe hoje; enquanto isso a menina
deveria deixar tudo limpo, além de costurar a roupa e fazer compotas com as frutas
que trazia. Quando Joana já tinha idade suficiente para ir ao reino, ela
inventou que a menina era sua sobrinha e que passaria a morar com ela, pois a mãe
da garota tinha morrido. Aquela mulher a fez chamá-la agora de tia, não mais de
mãe. Joana ficou confusa, mas obedeceu e sua vida continuou do mesmo jeito de antes,
só que agora sua “tia” não teria que andar tanto para levar comida e água para
ela às escondidas.
Quando Joana
fez dezoito anos, sua “tia” contou-lhe toda a verdade, pois não lhe interessava
continuar com aquela mentira; a menina havia se tornado uma pedra em seu
caminho. O rei e a rainha já tinham morrido e agora quem reinava era o príncipe,
o qual não conhecia a história. Desde então ela estava sozinha e precisava se
virar para viver. Sua tia morreu de um mal súbito alguns dias depois que contou
tudo para Joana. Aquela menina tinha um coração tão bondoso que ficou triste
pela mulher, pois boa ou mà, ela que a havia criado todo aquele tempo.
Quando soube
de tudo a minha vontade era colocá-la em meus braços e niná-la como se faz com
um bebê; queria que se sentisse segura e em paz; mas não podia, eu então a
abracei forte. Sabia o que era se sentir
sozinho, sem pai nem mãe; um garoto que precisou ser emancipado aos quinze anos,
pois queria viver na cidade. E mesmo eu tendo meus avòs, nunca è a mesma coisa.
Eu também lhe contei minha historia e nos abraçamos mais uma vez compartilhando
a dor um do outro e chorando. Eu fiquei ainda mais apaixonado por aquela mulher
e ela por mim.
Eu a chamei
para ir embora dali e viver uma nova história:
_Joana, vem
comigo, vamos viver nosso amor longe daqui, venha conhecer meu mundo.
Ela me olhou
como se fosse louco, e até parecia que eu estava, mas eu a amava e a queria
comigo.
Eu a beijei
na esperança de que sumíssemos dali juntos, mas nada aconteceu. Os lábios mais
delicados e suaves que já havia beijado.
Ela me
afastou e me chamou de louco e disse que se eu realmente a amasse, que ficasse
ali com ela.
Eu tentei
varias vezes voltar para meu mundo e nada. Eu tinha uma vida fora daquele mundo
em que eu me encontrava, mas mal sabia eu que se beijasse alguém de outro mundo
ficaria por lá. Bateu um grande desespero mesmo estando ao lado do meu amor. E
agora, como faço para sair daqui?Pensei, pensei e nenhuma idéia vinha.
No outro
mundo sua avò percebeu que o neto havia sumido, ela tomou um chá revelador com
suas ervas misteriosas para ter alguma revelação sobre o neto. Ela sentiu uma
fraqueza tão grande que desfaleceu na hora. Como em um sonho ela via o neto em
um castelo, com roupas estranhas e uma jovem loira, delicada e de olhos de cor
lilás, ela os viu se beijando e ouviu uma voz profunda dizer-lhe: ele comeu uma
fruta (mostrou a fruta vermelha), ele agora só sai de lá por seu intermédio. Você
precisará fazer um feitiço contrário. Eu te direi o que deve fazer e cada
socada no pilão que der para transformar tudo em pó, mais ele se afastará
daquele mundo, só tem um problema; ele está apaixonado por aquela garota e ela
não pode vir pra cá. Se ele decidir ficar lá, nunca mais conseguirá voltar, e
se decidir voltar, nunca mais encontrará a garota. Agora acorde e faca o feitiço.
Sua avò acordou e começou a pegar lascas do tronco da árvore da fruta mágica,
sementes de frutas como tucumã, buriti, e também grãos. Ela pegou várias coisas
e colocou no pilão, com o qual começou a socar, socar e socar.
Enquanto
isso, no mundo estranho
Que
estranho, estou sentindo que sou puxado por uma forca tão grande que não
consigo descrever, ele pensou... Sinto-me
sendo puxado para trás. E Joana me perguntando aonde eu ia, se não a amava
mais.
_Wesley,
decida, você quer ficar comigo ou quer ir? Sinto você angustiado ficando aqui.
Se for, nunca mais me procure.
Eu pensei
rápido e decidi ir embora. Aquilo tudo não tinha a ver comigo, mesmo eu a
amando.
_Espero que
me perdoe meu amor. Eu sempre te amarei, mas não pertenço a este mundo.
Eu fui
embora dali com lágrimas nos olhos. Ela virou de costas para mim, e percebi que
chorava.
E fui puxado para meu mundo de um modo
abrupto. Cheguei fraco e no chão próximo da minha avò que me abraçou.
_Você está de volta meu neto, que bom. Aqueles
mundos estão com portões fechados para você agora.
Nunca mais
eu voltei à floresta nem a ver a minha Jo. Agora è seguir minha vida. Foi uma
estranha, mas indescritível aventura que me transformou em outro homem.
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