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EPISÓDIO
Neste último episódio contarei sobre a
história de Kiara: sua vida longe da cidade em que nasceu e das pessoas que
ama.
Kiara viajou por dias até chegar numa cidade
do interior do Acre. Ela não tinha nada, nem um lugar para dormir. Quase todo o
dinheiro que as meninas lhe emprestaram ela gastaria para alugar um lugar para
morar e tentar sobreviver enquanto não arrumava um trabalho. Kiara pretendia
arrumar um serviço, mas por enquanto sem carteira assinada para o ex não
acha-la tão rápido se caso a procurasse.
Ela felizmente conseguiu um emprego como
garçonete numa lanchonete bem simples.
Kiara falava com as amigas pelo menos uma vez
por semana e sentia muita falta delas. Obviamente que ela mudou de número para
ele não ter mais o contato dela.
Kia estava deitada em seu quarto cansada e
com saudade das amigas, do pai de sua irmã quando ouve alguém esmurrando
a porta do seu flat e gritando por socorro. Seu coração quase saiu pela boca de
susto, foi a mil na hora. Ela imaginou que ele tivesse descoberto seu
esconderijo. Será que suas amigas contaram onde ela estava? Não podia ser.
Ela abriu a porta com as mãos tremendo de
medo. Era uma mulher fugindo de alguém e estava machucada, chorando e entrou
assustada na casa de Kiara. Simony contou toda sua história e ela se viu
no lugar daquela moça tão jovem. Por pouco ela não passou pelo que Simony
passou, mas ambas sofreram as mesmas agressões verbais; foram humilhadas;
aprisionadas por homens que no início se mostraram príncipes e que um tempo depois
se transformaram em monstros cruéis. A diferença entre elas é que Kiara não
amava Ricardo. O que a mantinha com ele era sua insegurança, a fragilidade
emocional. Felizmente ela conseguiu fugir antes que algo pior acontecesse como
aconteceu com a moça.
Já a jovem se declarava apaixonada, que amava
seu namorado e não tinha coragem de denuncia-lo nem deixa-lo. No fundo, Kiara
achava que a moça sentia mais medo da solidão, ou sofria de algum tipo de
dependência financeira ou emocional.
Maitê ligou para ela e contou que viu
Ricardo com outra de mãos dadas.
_Você está livre daquele crápula, miga. Você
já pode voltar. Sinto tanta falta sua.
_ Obrigada Mai, pela notícia. Respirei
aliviada agora. Sinto pena da outra moça, mas não pretendo voltar ainda miga.
Eu também não tenho dinheiro pra voltar, nem pra devolver o que tomei
emprestado pra vocês.
Quando eu tiver grana eu compro passagem e
volto nem que seja só a passeio. Não sei se esse lugar aí ainda me pertence, se
me sentirei em casa de novo. Espero que me entenda.
_ Claro que entendo. Você mudou, amadureceu
aí, né? Agora esquece nosso dinheiro, nem lembrava mais disso. Amo você miga.
Espero que venha logo.
Elas conversaram mais um tempo e desligaram.
Kiara ligou denunciando o namorado de Simony
anonimamente. Ela sabe que a moça ficaria com raiva, mas era para o bem dela.
Ela precisava se livrar dele e aprender a se amar, se conhecer de novo e saber
a força, a coragem que há dentro dela.
A polícia chegou, viu as marcas no rosto
dela, no braço e o prendeu. Simony implorou para não levá-lo, mas a
denuncia tinha fundamento e o levaram embora. Ela chorava de forma desesperada.
_ O que farei agora? Não vivo sem ele. Ela
correu pra casa de Kiara e contou o ocorrido.
_ Eu ouvi a polícia chegando. Espero que me
perdoe, mas eu o denunciei, você não merece passar por isso. Eu nem sei se você
o ama ou é carência, dependência emocional dele.
Você conseguirá viver sem ele, vai se
conhecer, se amar primeiro, arrumar um serviço e se você vir que ainda o ama e
que quer ficar com ele, aí será um direito seu e respeitarei sua decisão.
Simony deu um tapa em seu rosto.
_Você não tem o direito de decidir minha
vida, Kiara. Me faz um favor? Esqueça que eu existo. Você não sabe o que
é amar alguém. Você mesmo disse que não amava seu ex. Obrigada por se preocupar
comigo, mas sei me cuidar sozinha. Adeus.
Kiara tinha feito a sua parte. Tinha feito o
que queria que tivessem feito por ela se ficasse na situação da moça.
Ela voltou a se concentrar no seu trabalho e
procurar por outro melhor, e quando arrumou um emprego de secretária numa
clínica de imagem ela saiu da lanchonete deixando as portas abertas. Todos
gostavam dela e ela era grata pela oportunidade que lhe deram quando precisou.
Kiara foi juntando dinheiro e pagando as contas, aluguel, ia sobrevivendo até
juntar dinheiro suficiente para devolver às meninas e voltar a sua cidade natal
nas próximas férias.
Ela voltou a sua cidade no ano seguinte, e
quando viu as meninas que foram buscá-la no aeroporto; pois tinha encontrado
uma grande promoção aérea no site de ida e volta; foi uma alegria que não
conseguia conter no peito. Elas se abraçaram muito, choraram de
felicidade. Ela contou sobre como era viver no Acre; suas belezas; o povo de
lá; contou sobre Simony, que continuou visitando o namorado na cadeia até que
ele saiu e continuou machucando-a, mas Kiara não se intrometeu mais, a moça fez
sua escolha.
Ela se encontrou com Ricardo num dia em que
estava passeando sozinha. Ele continuava com o mesmo jeito sedutor e charmoso,
mas aquilo não mexia mais com ela. Ele a cumprimentou normalmente e disse que
ela não tinha mudado nada, e perguntou se tinha voltado pra ficar.
_Não. Essa cidade não tem mais a ver comigo,
eu amo umas pessoas que moram aqui, mas só. Tchau Ricardo. E saiu sem olhar pra
trás.
Ela continuava magra, alta, cabelos ruivos na
altura do ombro e sardenta. Era fisicamente a mesma que saiu dali, entretanto,
por dentro tudo mudou.
Ela encontrou a mãe e a irmã, e elas estavam
sozinhas, sem emprego e dependendo de ajuda. Surpreendentemente a trataram bem
e pediram perdão por tratá-la tão mal. Que a vida delas havia mudado muito e
pra piorar a irmã de Kiara tinha engravidado de um cara pobre, sem coragem pra
trabalhar, e que não assumiria a criança.
Kiara convidou-as para passar um tempo com
ela no Acre. Se não gostassem, que aí poderiam voltar. Sua única preocupação
era como pagar as passagens delas, já que havia devolvido o dinheiro pras
meninas.
_ Olha, vocês pensam e me dizem a decisão de
vocês. Precisamos arrumar dinheiro para as suas passagens.
Ela havia perdoado as duas e todos que
zombavam dela. Esse tempo afastada foi muito bom para rever seus sentimentos e
exercitar o perdão, paciência e amor próprio. Ela se sentia mais segura e em
paz com seu corpo.
Elas resolveram fazer um bingo com direito a
comes e bebes. Elas tinham uns objetos de valor como: pratos de porcelana,
faqueiro, jogo de jantar; e com o dinheiro dos ingressos para participarem do
bingo, das comidas e bebidas elas compraram as passagens e partiram. Foi bom
para Kiara ter voltado e visto como tudo mudou e que ali não era mais seu
lugar; ter reencontrado as amigas, se divertido como antes; e ter levado pra
longe sua mãe e irmã junto com ela. Seu cachorrinho Smart havia morrido e ela
chorou muito quando soube.
Ela hoje trabalha e arrumou serviço na
lanchonete para as duas enquanto seu sobrinho não nasce. A relação entre elas
melhorou muito e as ofensas, humilhações acabaram. Infelizmente ela não pôde
ver o homem que considerava seu pai, pois ele havia casado com outra mulher e
se mudado para Toronto, no Canadá. Ela falava com ele pelo direct no Instagram
e ele parecia feliz lá e também contente por ela.
Ela ainda não encontrou alguém que realmente
amasse, tocasse seu coração e que a fizesse querer construir uma família. Tudo
tem seu tempo. Ela agora está tranquila ficando só e curtindo sua própria
companhia, e também das hóspedes. Não é fácil. Tem hora que dá vontade de
xingar, bater, mandar embora, mas ela respira fundo, sai de casa por um tempo
pra não fazer besteira e lembra: Elas são minha família.
Maitê já está noiva de Pedro e casarão no
próximo ano, já planejando ter filho daqui dois anos. Kiara e Elis serão suas
madrinhas.
Pedro incentivou Mai estudar astronomia à
distância.
_Como nunca pensei nisso antes, meu bem? Eu
precisava ter te encontrado para abrir meus olhos para novas possibilidades e não
desistir do que quero. Obrigada.
Maitê tem estudado o curso dos seus sonhos
enquanto se prepara para o casamento. Eles irão morar na casa de Pedro para
economizar com aluguel.
Elis não pensa em casar no papel, nem na
igreja, muito menos Diogo. Eles estão felizes só morando juntos. Quanto a
filhos eles ainda não decidiram se querem ter um dia.
Enquanto isso Diogo trabalha como marceneiro,
profissão também do seu pai, e Elis Eloá conseguiu um papel de coadjuvante numa
peça que vai estrear. Ela está tensa e muito entusiasmada.
A estreia da peça foi mais do que esperava,
recebeu muitos elogios e lá estava sua família, incluindo Diogo; Maitê e Pedro.
Ela ficou muito emocionada, pois além da apresentação, das pessoas queridas presente,
Kiara ligou para ela e a parabenizou pela conquista.
_Obrigada Kia. Queria tanto que estivesse
aqui para me ver no palco, miga. Obrigada por estar aqui mesmo a distancia.
Maitê apareceu, cumprimentou Kia e as duas disseram em uníssono para a amiga. Amamos
você. Saudades... E riram juntas.
A comemoração após a peça teve direito a
champanhe e muita alegria.
As três amigas fizeram a promessa de que só a
morte acabará com a amizade delas, e que seriam amigas até debaixo d'agua.
Espero que tenham gostado do fim da série.
Desculpem-me se ficou muito extenso o último episódio, mas sempre tudo acontece
no último capítulo, não é mesmo?