quarta-feira, 20 de maio de 2020

EMILY SENDO ELA MESMA


Emily é uma moça doce, simpática e muito delicada; além de linda.
Quando ela estava com seus quinze anos ela tinha um admirador que vivia aos seus pés desde os dez anos, o Raul. Um rapaz agora com dezessete anos; magro, queixo quadrado, olhos puxados, de altura mediana.
A verdade é que todos começavam a comentar sobre ela não falar dos rapazes, nunca ter comentado sobre quem era o gatinho que ela gosta. Um dia Raul fez a proposta de ficar com ela na frente da escola, assim ele realizaria seu sonho de beijá-la e ela não seria mais falada por todos. Preservaria sua imagem. Ela disse que iria pensar e que daria a resposta no dia seguinte.
No dia seguinte ela disse que ficaria com ele e só dessa vez. Ela não era a fim dele, mas era a única opção por enquanto.
Emily foi com a calça jeans, a blusa do uniforme, uma sandália de salto médio e grosso, um batom rosa claro, olhos delineados. Ele chegou com uniforme, um perfume másculo e muito gostoso, barba feita, gel no cabelo. Ele estava lindo. Chegou nela, deu-lhe um beijo no rosto e depois  disse no seu ouvido.
_Obrigada por me dar essa chance. Vou ser um príncipe pra você.  Acariciou o rosto dela olhando em seus olhos quando devagar foi aproximando o rosto do dela até os lábios deles se encontrarem. Foi um beijo bom, eles se beijaram por um tempo e todos que viam comentavam e a rapazes gritavam, assobiavam. Ela parou e foi embora para o banheiro antes da aula para se recompor. Ela gostou do beijo dele, mas nada além disso. Não havia desejo, emoção, nada da parte dela e Emily estranhou. Foi o dia mais feliz para ele. Raul realizou seu sonho depois de cinco anos esperando aquele beijo acontecer. Depois daquele dia ninguém mais comentava que ela não gostava de meninos. Se aquele comentário chegasse aos ouvidos dos seus pais estaria lascada. Eles criticavam, não aceitavam de jeito algum alguém que gostasse de outra pessoa do mesmo sexo.
Porém, um dia uma de suas amigas, a Suzana; de pele morena, cabelo alisado até a altura dos ombros chamou-a para estudar em sua casa, pois Emily era muito boa em história e Suzana precisava de nota para passar na matéria.
Chegando lá Emily se deparou com a amiga com short bem curto e um top branco, devido o calor que fazia. Ela estava com uma pantacourt  e camisetinha rosa, cabelo amarrado. Ela estranhou o que sentiu. A filha de um casal que não aceitava as diferenças achou a amiga sexy e estava atraída, sentiu vontade de tocá-la, beijá-la, mas tentou tirar aqueles pensamentos de sua cabeça. Eu devo estar doida. Ela pensou.
Durante os estudos tudo correu normal até Suzana chamá-la para conhecer seu quarto. Ela não sabia o que fazer, mas foi. O quarto tinha uns posters de homens bonitos e sem camisa pregados na parede, cheio de pelúcias sobre a cama, e uma foto dela sobre a cabeceira. Su queria saber mais como era o beijo de Raul, se ele beijava bem, se tinha pegada, essas coisas. Ela precisou inventar um pouquinho. E aquele último rapaz com quem você ficou. Você gosta dele?
_Ah não. O Caio nem beija bem, além de não ter pegada nenhuma. Dava até sono, menina. Ela era bem experiente, ao contrário de Emily, que o único com que ficou foi Raul.
_Vamos dar uma volta? Cansada de ficar em casa.
_Tá bom. Vamos sim.
_Blza. Vou só trocar de roupas e a gente vai. Minha mãe não me deixa sair assim.
Emily tentou sair do quarto para dar privacidade a amiga, mas ela não deixou. E tirou o top, colocando então um sutiã e uma t-shirt com estampa de Frida Kahlo, tirou o short mostrando um bumbum enorme e colocou uma saia um pouquinho acima dos joelhos, mas folgada. Isso tudo quase matou Emily. Ela não tirou os olhos do corpo de Suzana e sabia que aquilo era estranho. Seu corpo reagiu vendo aquela moça tão bonita quase sem roupa perto dela e não entendia o que estava acontecendo. Quando a amiga acabou de se arrumar a chamou e Emily tomou um susto. A amiga riu dela e saíram.  Suzana tirou 9,5 na prova e conseguiu passar.
Quando ela foi estudar com Vanessa foi diferente. Ela também estava de short, mas não tão curto e blusa tomara que caia. Emily estava com um vestido azul claro na altura dos joelhos. Ela chamou Emily para conhecer seu quarto depois de fazerem o trabalho de Geografia em dupla. Chegando lá ela viu um quarto sem nenhuma decoração diferente; só a cama, guarda-roupa e criados mudos onde ficava um livro sobre vampiros, seu abajur e um porta- retrato da família dela.  Quando Emily estava olhando a foto, Vanessa se aproximou e tocou o rosto da amiga que virou para ver o que estava acontecendo, então Vanessa a beijou de uma vez com receio de que  não tivesse mais coragem se demorasse para tomar atitude; e também por medo de que Emily a rejeitasse. De início ela achou estranho, de olhos abertos, até entregar ao beijo. Foi totalmente diferente do beijo com Raul. Ela sentiu muita coisa dessa vez. Foi bem melhor, pois ela sentiu atração e se entregou de verdade.
No entanto, se culpava muito porque não queria nem imaginar o que seus pais fariam ou falariam. Elas passaram a ficar escondidas, e Emily começou a frequentar mais o quarto de Vanessa durante as tardes, e estava gostando muito, apesar da culpa corroê-la por dentro. Ela sabia que a amiga não queria compromisso e isso a afligia ainda mais. Se ela tivesse uma namorada talvez fosse mais fácil contar aos pais, ela pensava.
Um dia ela escreveu uma carta aos pais contando-lhes que ela havia se descoberto, que ela descobriu que gostava de meninas, que se sentia atraída por elas, que até tinha ficado com um menino, mas que não sentiu nada.  Ela pediu desculpas por dizer algo que não gostariam de ouvir, mas que também não pediu para ser diferente das  outras meninas da sua idade. Eu amo vocês. E deixou a carta dentro de um envelope sobre a cama deles e foi para a escola. Quando ela voltou estava um rebuliço, uma choradeira, uma gritaria. Ele quis bater nela quando entrou na sala, mas sua mãe não permitiu. Emily começou a chorar, pois não pretendia causar tudo aquilo. Seu pai a pôs de castigo, queria mudar de cidade. Ele dizia estar imensamente envergonhado. O que falariam dele?
_Assim que acabar o semestre você vai pra casa de sua avó. Diga  pra ela que na capital você vai ter estudo melhor. Eu não quero que descubram quem você é.
_Mas pai, eu não escolhi ser assim. Sou como qualquer garota, só não sinto atração por meninos, assim como elas. Eu não quero ficar longe de vocês.
_Não tem mais conversa. Até lá você só vai pra escola e direto pra casa. Entendeu?
_Sim  senhor. Ela chorava, mas precisava entender a posição deles. Emily sabia que não seria fácil.
Emily foi pra casa da avó uns meses depois e seu pai sequer se despediu dela. Sua mãe deu um abraço rápido chorando.
Eles a emanciparam. Foi uma decisão difícil pros pais, mas eles não queriam se sentir mais envergonhados com ela sob a responsabilidade deles. Ela foi e se matriculou na escola. Era ela e sua avó, que felizmente não era chata, nem mandona.
Em fevereiro ela começou o primeiro ano, e na sua turma ela conheceu Brenda. Ela contou-lhe porque foi para a capital e emanciparam-na. Elas ficaram amigas e a intimidade entre elas só aumentava. Na verdade Emily sente grata aos pais por ter mandado ela pra lá, pois se sente livre pra ser quem é. Ela continua a mesma pessoa de antes; a aluna dedicada; e uma boa neta. Infelizmente seu pai não fala com ela, apenas sua mãe e corta seu coração está situação.
Emily espera que um dia seu pai possa aceitá-la por ser como é, e  voltarem a ser uma família. Que não seja tarde demais.

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