segunda-feira, 18 de maio de 2020

DÉBORA E JEANE

Débora é uma garota valente, que ama viver e que já passou por muita coisa na vida.  Ela te contará sua história.
Como já sabem eu sou Débora, eu tenho 22 anos de idade e já fui operada desde o nascimento. Eu nasci com uma pequena cardiopatia, mas até aí tudo bem. Após uns dez dias minha mãe, Jeane, me levou para casa. Fomos recebidas por meus avós, tios. Foi uma alegria só. Minha mãe me contou que todos queriam me pegar no colo, que eu estava linda com um macacão vermelho e uma faixa na cabeça da mesma cor, era carequinha e fofa.
 Infelizmente  eu não conheço meu pai. Minha mãe foi numa balada com as amigas dela, que chamo de tias, e nisso elas beberam muito, então minha mãe acabou transando com um cara no carro dele, mas não lembra do seu nome nem aparência, nem sabe como encontrá-lo, e esse cara é o meu pai. A verdade é que nem pretendo procurar por ele.
Minha avó me disse que minha mãe sossegou depois que engravidou, que não bebia mais, nem fumava; trabalhava duro para pagar aluguel e tudo mais; conversava comigo na sua barriga. Apesar de ela não ter planejado a gravidez, ela estava feliz em ser mãe, e ia fazendo o enxoval do bebê aos poucos. Ela morava e cuidava de tudo sozinha. Mãe escolheu o nome: se fosse uma menina chamaria Débora, e se fosse menino seria Ricardo.
Eu vim ao mundo com saúde, apesar da cardiopatia que logo se resolveu.
Ela me colocou na creche, pois precisava trabalhar. Quando estava com seis anos comecei a sentir dores nos pulsos e tornozelos. Ela me levou ao médico, pois as dores só pioravam. Eu mal conseguia andar e chorava quando tentava. O ortopedista me avaliou e encaminhou-me para a reumatologista infantil.
_É algo sério, doutor?
_ Eu não sei ainda, mãe, mas encaminharei para um especialista, pois ela está apresentando sintomas reumáticos.
_Ok doutor. O senhor pode me dizer se tem cura?
_Olha mãe, cura não tem, mas tem tratamento que pode diminuir as sequelas e dores.
Foram meses agonizantes com muita dor até sair a consulta para a reumatologista. Quando felizmente chegou o dia nós fomos a consulta. Dra. Elis me avaliou aferindo pressão arterial, vendo como estavam os pulmões e tocando, mexendo com cada articulação e comecei a chorar, pois parecia que tudo doía: punhos, tornozelos, joelhos, então andar estava praticamente impossível. Meu avô que me levava no colo aos lugares; em casa mãe me ajudava a andar, ou me carregava nos seus braços forçando sua coluna quando eu sequer conseguia pisar no chão. Felizmente eu era miúda e leve. A médica pediu os exames para confirmar antes de dar o diagnóstico, mas já sabia o que era e pediu urgência no resultado, e encaminhou-me para a fisioterapia. Eu não era mais a criança alegre de antes. Tentava ser forte por mãe, mas estava muito difícil fingir que estava bem.
Eu sentia dor, e não queria fazer os exercícios. Eu chorava para não ir, mas sabia que era preciso, apesar de ser doloroso. Quando saiu o resultado dos exames confirmou que tenho Artrite Idiopática Juvenil, e a reumato entrou imediatamente com a medicação de efeito rápido para controlar a crise. Depois entraria com outra medicação e o tratamento se iniciou. Com o passar dos dias as dores passaram como mágica e  voltei a ser a garotinha feliz de antes.
A doença trouxe dores, enrijecimento das articulações, desgaste... Enfim, precisei passar recentemente por cirurgia nos joelhos, pois nem andava mais por causa do desgaste ( antes eu era muito nova, eles se recusavam por causa de crescimento, idade). Além de precisar de massagens, gelo, repouso quando a crise ataca. Hoje eu consigo contornar a doença, fiz amigos com o passar dos anos; mais virtuais do que reais, mas são bons amigos.
 Tento levar a vida o mais normal que posso, apesar dos limites. Dizem que sou uma cozinheira de mão cheia, mas sei la, só faço com amor... Mãe adora provar minhas comidas, e diz que eu a superei. Exageraada. Hahaha... Minha mãe tem muito orgulho de mim e sinto isso, por tudo que passei e ainda passarei. Hoje eu sorrio mais, saio para me divertir, apesar de não aguentar ficar muito tempo em pé. Eu trabalho como caixa no supermercado e não é fácil às vezes ter que trabalhar com dor, mas não dá para viver de licença, nem ficar reclamando, né? Eu cozinho e danço no tempo livre. São minhas paixões e pretendo fazer gastronomia para aprender mais.
  Eu ainda não beijei ninguém e penso se um dia isso acontecerá, pois também tenho sonhos e desejos como a maioria das mulheres: namorar; casar; ter filhos, nem que eu precise adotar por causa dos remédios que tomo e são muito fortes. Eu quero ser mãe.
Mãe trabalha como garçonete num restaurante, iniciou o curso de biomedicina, pois eu a incentivo a correr atrás dos seus sonhos. Tenho orgulho danado dela. Ela sente o coração  cortado quando me vê sentindo dores e se sente impotente. No entanto, ela fica feliz por me ver voltar alegre depois dos encontros com minhas amigas.
Ela até pensa em abrir o coração para um novo relacionamento, pois desde que nasci ela namorou apenas uma vez por pouco tempo (o cara era até legal, mas folgado e não curtia trabalhar...eu hein. Ela merece mais), porém tem medo de me deixar  deprimida por não ter um namorado como minhas amigas tem, umas até se casaram. Sinto-me como um obstáculo em sua vida, apesar de ela dizer que sou tudo para ela. Sou sua prioridade, sempre fui e sempre serei, mas me pergunto se ela está feliz. É tudo o que me interessa.

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