Francine
é uma menina que diz o que pensa sem filtro nenhum.
Uns
acham que ela é autêntica.
Outros
dizem que ela é grosseira quando começa com sua sinceridade em alguns momentos
cruel.
Ela
é conhecida entre suas amigas como a barraqueira.
Na
verdade, nem liga; afinal este é seu jeito e não pensa em mudar.
Francine
sempre foi uma garota que não aceitava injustiças e desrespeito, nem com ela,
nem com os outros.
Se
precisasse ela partia pra briga mesmo, “ia pro braço”. As únicas pessoas com
quem ela tentava ser mais paciente era com os idosos. Fran não faltava com
respeito por mais errados e grosseiros que fossem. Se caso ocupassem o lugar de
um idoso, ou deficiente, ou uma mulher com criança no colo ela já ia gritando.
_Oh
sem noção, essa pessoa precisa sentar, você não desconfia não? Levanta daí,
folgado (a). E começava a discussão.
Ela
era uma mulher sensível e chorava quando assistia a um filme, novela, via
pessoas dormindo na rua, ou uma criança triste, mas é muito briguenta e dizia o
que pensava sem se colocar no lugar do outro.
Um
dia, quando estava de boa lendo um livro na praça, ela conheceu Gael, um
homem simples, estilo rústico, apesar de ser atraente, ele se aproximou e puxou
conversa.
Ela
foi sincera e disse:
_Olha,
eu estou lendo e não estou a fim de papo.
_Agora
descobri porque está aqui sozinha lendo, é grossa que nem uma porta.
Ela
se sentiu ofendida e começou a esbravejar com ele.
Ele
simplesmente deu as costas para ela, e colocando um fone de ouvido Gael saiu
deixando-a falar sozinha. Fran ficou p... da vida. Seu rosto ficou corado pela
ira que tomou conta dela.
Ela
pensou: como ele ousa virar as costas para mim? Ele sequer discutiu comigo.
Quem ele pensa que é para me ignorar dessa forma?
Gael
tinha sido contratado pelos amigos de Fran para mostrá-la que sinceridade em
excesso e ser tão reativa como era, nem sempre é a melhor atitude. É preciso
ser sincero sim, mas também é necessário ter jeito para falar sem magoar, mesmo
quando a pessoa precisa ouvir umas verdades. Contar uma mentirinha leve às
vezes só para fazer alguém se sentir bem faz parte; e também ter sensibilidade
para saber quando reagir ou não. Seus amigos frequentemente sentiam vergonha
quando saiam com ela e a amiga fazia barraco_ o que fez com que alguns deles se
afastassem dela. Eles admiravam suas qualidades, mas a maneira de ela usar
essas qualidades deixavam as pessoas que a amavam constrangidas.
Francine
passou a se sentir solitária após quase todos os seus amigos se afastarem, e
ela não entendia o porquê. Gael voltou a aparecer enquanto ela chorava olhando
para o horizonte e tentando entender a razão do afastamento. Ele ofereceu-lhe
um lenço e ela riu entre lágrimas.
_Quem
anda com lenço no bolso? Obrigada.
_
De nada. Nunca se sabe quando vou precisar usá-lo. Por que está triste
assim?Posso te dar um abraço?
Ela
se aconchegou nele, e ele a enlaçou em seus braços sentindo o perfume do cabelo
dela, e ela sentiu o cheiro suave, porém másculo do desodorante em sua camisa.
_Eu
estou me sentindo tão triste, sozinha, pois praticamente todos os meus amigos
sumiram. Eu não sei o que houve. Desculpe o desabafo, nem sei seu nome, nem
você sabe o meu.
Eu
me chamo Francine, e você?
_Mesmo
triste ainda assim é um prazer conhecê-la Francine. Eu sou Gael. Aquele dia
você estava arisca.
_Vai
começar? Vou embora então.
_Olha,
desculpe Francine, talvez você devesse conversar com seus poucos amigos.
Eles podem dar a resposta que procura. Eu sou um homem simples, mas sempre fui
educado e não pretendia te chatear ou irritar.
_Você
está me chamando de mal- educada?Eu só sou sincera, digo na cara o que penso,
sem rodeios. Você nem me conhece.
_A
vida não é assim. Você é uma mulher bonita, me parece ser inteligente,
interessante, por isso tinha tantos amigos, deve ter muitas qualidades, e
gostaria de ser teu amigo se você deixar; no entanto, sinceridade sem filtro
não é algo bom, afasta as pessoas. O importante não é sempre o que diz, mas
como diz a verdade. Procure seus amigos e descubra porque sumiram.
E
saiu depois de dar um beijo em sua cabeça.
Fran
ficou sem reação e ligou para sua melhor amiga, Lisandra.
_Amiga,
preciso conversar com você. Posso ir aí agora?
_Pode
vir, Fran.
Meia
hora depois ela bate a porta de Lisa.
Elas
se abraçam e Fran começa a chorar e dizer que não entende porque seus amigos
sumiram e sua amiga disse:
_Miga,
desculpe o que vou dizer, é que seu jeito reativo, explosivo em todos os
lugares nos envergonha, sua sinceridade às vezes cruel acabou afastando não só
seus amigos, mas também familiares. Você tem muitas qualidades, e por te amar
eu digo que você precisa rever seu jeito de falar, além de sua maneira de
mostrar a pessoa incrível que é.
_Eu
sou sincera sempre, e tento defender o que acredito.
_Eu
sei, miga. Eu te disse que você é incrível, o problema é o jeito que você demonstra
isso. Eu nunca deixaria de ser tua amiga.
_O
cara que eu conheci me disse isso, que meu jeito afasta as pessoas. Ele é
bonito, se chama Gael. Vou procurar meus amigos, pedir desculpas e dizer que
vou tentar mudar. Obrigda miga, por sua amizade e lealdade. Vou mudar meu
jeito. Você vai ver. Eu amo você. Elas se abraçaram novamente.
Ela
descobriu que os amigos haviam contratado Gael para mostrar porque eles se
afastaram. Ela ficou muito irritada no início por terem feito aquilo com ela, mas
se controlou, pediu desculpas aos amigos e foi embora depois de pegar o contato
do novo amigo.
Ela
nem acreditou que conseguiu se controlar, mas ela pretendia mudar. Fran sabia
que essa mudança não é fácil. Mudar quem ela sempre foi e se tornar alguém
melhor seria um grande desafio; reconquistar seus velhos amigos; deixar de envergonhá-los;
reaproximar dos seus irmãos, pais. E começou a conhecer melhor Gael.
Francine
estava no processo de mudança e estava gostando de saber que ela pode melhorar
sempre. Todos estão vendo as mudanças e se reaproximando.