domingo, 10 de maio de 2020

PATU



Patu é um homem honrado, inteligente e muito trabalhador, além de ser visto como um visionário. Seu maior hobby era criar, inventar objetos nos quais ele pudesse ajudar os outros de alguma forma. Ele criou uma luminária com sensor de sono, que funcionava assim: se o sono chegar então o sensor é ativado e a luz da luminária, que é própria para estudar durante a noite vai diminuindo aos poucos até apagar-se por completo. Ele funciona a base da energia elétrica e pilha. Ele criou esta luminária inspirado nos filhos Wilma e Valter, os mais estudiosos de seus cinco herdeiros, e eles passavam a noite estudando em uma luz ruim para a visão. Então com essa criação eles estudavam até o sono chegar, pois Patu sabia o quanto uma noite de sono com qualidade trazia benefícios para a saúde e teriam maior proveito na escola no dia seguinte.
Patu é um homem de pele escura, olhos cor de mel, forte, muito alto, cabelo raspado, ele é visto como a cara do pai, Sr. Ronaldo. Um senhor robusto, sisudo, que reclamava de tudo e somente a mãe de Patu o suportava.  D. Esmeralda era uma mulata, de cabelos cacheados com algumas mechas grisalhas devido à idade, altura mediana, quadris largos; porém, seu sorriso, simpatia, paciência e meiguice que cativavam a todos, especialmente fez seu marido apaixonar-se logo que a viu sorrindo e conversando com as amigas na praça. Ela era a única pessoa capaz de fazer Sr. Ronaldo sorrir e ser bem humorado, mas quando ele estava mal-humorado ela simplesmente o ignorava, pois com os trinta e cinco anos de convivência ela descobriu que quanto mais reclamava do mau humor dele, mais insuportável ele ficava.
Patu trabalhava numa fábrica de brinquedos, e quando podia comprava uns para seus filhos com preço de custo, e os fazia muito felizes. Eles diziam muito orgulhosos que o pai deles era muito legal e que trabalhava num lugar que fazia brinquedos. Patu era apelido que sua mãe lhe dera quando ele era garotinho e tudo ele chamava de patú, e ele gostou, fazendo com que todos o chamem assim.  Seu nome é Pedro Lucas.
Pedro foi casado por dezesseis anos com Isabela, a idade hoje de Wilma, esta tinha doze anos no dia do acontecido; sua mulher faleceu com infarto, e ninguém sabia de seu problema cardíaco até então. Foi num sábado de manhã em que Wilma, a filha mais velha, estranhou sua mãe não ter levantado ainda, pois já passavam das oito horas, e ela era a primeira a levantar mesmo no fim de semana. Após fazer e servir o café para os irmãos mais novos, ela foi ver o que aconteceu com sua mãe. Quando chegou próximo a cama dos pais, Wilma viu que ela estava caída no chão, e já estava um pouco fria; não havia respiração, então Wil saiu chorando e gritando seu pai que estava no quarto das criações, pois sempre madrugava quando tinha alguma inspiração. Quando se aproximou do pai ela o abraçou e chorava compulsivamente. Depois de se acalmar um pouco conseguiu falar aos soluços.
_Pai, a mamãe morreu.  Vamos comigo, por favor.
 Ela saiu puxando-o pela mão.  Quando ele viu sua mulher ali caída no chão e já sem vida não queria acreditar. Ele a amava tanto que se perguntava olhando para cima:
_Por que Senhor?
Começou a chorar abraçado a sua filha e pensando: Como vou dar conta de cinco crianças? Eu não vou conseguir. Ela era minha mulher, amiga, minha confidente, e a melhor mãe que eu poderia encontrar para meus filhos. Não é justo que Wilma tome essa responsabilidade; ela é tão jovem, e tem tanto para aproveitar, mas enquanto não encontro alguém para ajudar vou precisar dela. Ele se afastou dela e enxugando as lágrimas da filha e olhando nos seus olhos ele disse:
_Wil, meu amor, eu sei que não é sua responsabilidade, você é tão jovem e precisa aproveitar a vida, mas agora enquanto não conseguimos alguém para cuidar dos seus irmãos vou precisar da sua ajuda. Você pode cuidar deles quando não estiverem na escola? Perdoe-me por pedir isto, mas preciso contar contigo, incluindo agora para contar-lhes sobre sua mãe.
Ela voltou a abraçar seu pai forte e disse-lhe:
 _Não precisa me pedir perdão, pai. Eu entendo que será uma fase muito difícil para todos nós. Sentirei muita saudade dela. Conte comigo, vou te ajudar sempre. Eles são meus irmãos, e eu sou a mais velha, então é minha obrigação cuidar deles. Vamos lá contar para eles, depois precisa resolver tudo sobre o velório, enterro, avisar meus avós, chamar o padre... Enfim, seu dia será bem cheio; enquanto isso eu cuido deles. Você comeu alguma coisa?  Não pode passar mal agora, por favor, pai.
_Primeira coisa, não é sua obrigação cuidar deles só por ser a mais velha; segundo- Obrigada por ser essa filha tão compreensiva e boa pra todos nós. Eu te amo muito. Ah! E terceiro, eu comi sim antes de vocês acordarem. É que você sabe como eu sou, detesto bagunça, então arrumei tudo. Vamos contar para as crianças.
Foi um momento doloroso e de muito choro.  Uns abraçaram Wilma, outros corriam para o pai e agarraram-no chorando. 
Quando vieram buscar o corpo de sua mãe, ela levou os irmãos para os fundos da casa para não verem uma cena tão triste, e evitar uma confusão. Última coisa que seu pai precisava lidar agora era com mais problemas. Ele havia escolhido a roupa que fazia sua mulher ficar linda: um vestido longo de mangas curtas, cor bege, decote distinto, pois ela iria gostar de estar bem naquele momento e discreta como sempre foi.
Foi um dia muito pesado, era como se tivesse caído um temporal, vindo de uma nuvem negra sobre a vida deles. Após o enterro, a mãe de Isabela foi passar uns dias com os netos, e assim aliviar um pouco a vida de Wilma; além de desfazer-se das coisas da filha na casa, pois manter tudo só aumentaria a dor de todos. Ela preservaria ali apenas as fotos de Isa para as crianças não se esquecerem do rosto da mãe deles, nem seu genro.
Dona Estela não era a favor do relacionamento de Isa com aquele rapaz tão simples e fantasioso, mas sua filha bateu o pé e disse aos seus pais que Pedro Lucas era o amor de sua vida, que se não fosse para estar com ele que preferia tornar-se freira. Isabela era uma mulher doce, mas possuía personalidade marcante; era discreta no jeito de agir, de se vestir;  odiava se expor ao ponto de não possuir nenhuma rede social ; era também sensata e muito inteligente. Ela sabia que o sonho de sua mãe era que ela se casasse e lhe desse netos, então D. Estela acabou concordando, e em questão de oito meses eles se casaram em uma capela próxima a casa de Isabela e a comemoração foi um almoço para a família e padrinhos.  A intenção era construir a casa dos sonhos, com um quintal grande para as crianças brincarem e para o casal poder socializar; uma casa com quatro quartos, sendo um para o casal, outros dois para o casal de filhos que planejavam ter, e outro para hóspede. Eles sequer imaginavam que ao invés de um casal viriam três crianças inesperadas, mas muito bem-vindas e amadas, sendo três meninas e dois meninos gêmeos: Wilma, Paloma, Ingrid, Samuel e Saulo.
O tempo foi passando e a dor diminuindo, mas as lembranças permaneciam.  Wilma colocou uma fotografia de sua mãe na sala de estar e contava histórias engraçadas, marcantes que viveram com ela, já que é mais velha e se lembrava de mais coisas para contar aos seus irmãos. Eles amavam ouvi-la contar sobre Isa.
D.Estela passou quinze dias com eles, mas precisava voltar para casa, pois tinha compromissos inadiáveis em sua cidade, em Florianópolis-SC. Eles moravam em Canoinhas-SC, quase quatrocentos quilômetros de distância do resto da família, pois precisavam de um lugar com ar mais puro, e com vários lugares para visitar. Os gêmeos tinham bronquite e não aguentavam mais ter que levá-los ao hospital com crises morando na capital.  
O final de ano foi muito difícil para todos, especialmente para Patu, que tem sentido tão solitário desde a partida de sua mulher. Ele sonhava com ela e chorava todas as noites de saudade, a solidão estava levando-o para a escuridão.
Ele não pensava em arrumar uma nova esposa, e se ela não gostasse de seus filhos? Eles eram prioridade em sua vida. Ele havia abandonado as invenções- dizia que não tinha inspiração para criar nada e ficava no quarto pensando em Isa, ou assistindo jornal, futebol, pelo menos a tv  estava ligada. Patu havia perdido o brilho nos olhos e o sorriso alegre nos lábios, sua vida era trabalhar e cuidar dos filhos, mas estava sério- assim como o pai. Wilma e seus avós estavam preocupados com ele.

2 comentários:

Seu comentario é importante para mim..

DIA DIFÍCIL

 Hoje está tão difícil.  Só queria desaparecer, evaporar como fumaça, e parar de dar trabalho. E ao mesmo tempo eu me sinto tão egoísta.  Te...