sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

JORDANA


Cara, tenho pensado tanto em minha vida ultimamente: os erros, acertos, arrependimentos, medos… Mas vou voltar uns anos para vocês entenderem melhor, só não me julguem, ou julguem se quiserem, só eu sei porque fiz tais escolhas. Sou Jordana, moro numa cidade grande; e sim, estou na faixa dos trinta e tantos.

Aproximadamente uns dez anos atrás…

Eu sempre fui uma mulher extrovertida; brincalhona; aconselho minhas amigas sempre que me procuram, mesmo sem muita experiência no quesito amor, relacionamentos. Embora eu seja expansiva, como disse antes; o que eu achava que atrairia os homens, por eu ter um bom senso de humor, ser leve e tal, isso afasta os caras, pois acham que estou dando em cima de todo mundo, que sou  muito dada; ou simplesmente encontrei os caras errados. O que é muito injusto, já que sempre soube me comportar bem, me impor. Eu sei o que quero, e sempre valorizei muito a pessoa com quem me relaciono, até demais, pelo que percebi. Fazia o que podia pra agradá-lo. Hoje acho que usavam meu jeito de ser como desculpa para me deixarem; ou me fazerem de boba, brincavam com meus sentimentos. Eu ficava deprimida por uns dias, claro. Eu chorava, tomava sorvete, como nos filmes, e depois bola pra frente. Então me cansei desse ciclo interminável, e resolvi ficar um tempo sozinha. Eu queria aproveitar minha vida de solteira saindo com minhas amigas; fiz o que tinha que fazer, no sentido de cumprir meus objetivos de vida, no entanto, a carência bateu a minha porta, pra dizer a verdade, ela estava esmurrando a porta. Fazia um ano que eu não ficava com ninguém, e eu tinha a necessidade de sentir o toque de uma pessoa em meu rosto, ficar de mãos dadas, ficar abraçada, etc. Esse etc deu calor só de imaginar... Enfim, por causa dessa carência, entrei numa gelada.                                          Um dia fui almoçar com Carina, e estava com uma rasteira de pedraria, uma calça pantalona azul marinho, uma camisa verde água com as mangas dobradas, um colar alongado, um coque, brincos bem pequenos, e uma leve cor nos lábios. Tinha saído há pouco tempo do consultório para conversar com minha amiga. Eu sou terapeuta de casais, pois depois de aconselhar tanto as amigas, percebi que era isso o que eu queria fazer como profissão, e amo. Alguns dias são difíceis, pois nada é perfeito.                           Eu notei que um homem não parava de me olhar, e ás vezes nossos olhares se cruzavam. Ele parecia ser mais baixo do que gosto, mas ele tinha um charme, um olhar penetrante indescritíveis. Algumas vezes eu sentia percorrer um arrepio pelo meu corpo. Ele levantou de sua mesa e quando achei que estava indo embora, aquele homem estava se direcionando para a nossa mesa. Eu estava nervosa, e nem escutava o que minha amiga dizia, ela então percebeu algo estranho quando ele nos cumprimentou. Eu gaguejei um pouco de tão nervosa que estava, e me odiei por isso. Ele se apresentou e disse que se chamava Alexandre, perguntou se podia se sentar conosco, mas Carina disse que não o conhecia, e precisava conversar comigo. Eu quis matá-la na hora, no entanto, eu entendi. Ele tinha o cabelo curto e espetado, mas com as laterais num grisalho sexy, uma voz grave, em um tom baixo, que prefiro nem pensar. Ele me deixou um bilhete escrito em um guardanapo o seu telefone, dizendo o horário disponível, e com um sorriso malicioso olhou fixamente para mim com aqueles olhos castanhos, mas com cor de folha seca, e piscou. Quase caí da cadeira. Que homem era aquele? Fiquei sem palavras, mas dei um sorriso malicioso em troca. Ele se despediu e saiu do restaurante. Aquele cara me deixou hipnotizada, ao ponto de esquecer minha expansividade, e que minha amiga estava ali na minha frente. Nenhum homem havia flertado comigo daquela forma. Os que conheci eram tão diretos que dava preguiça. Eu acordei do transe com a bufada que Carina deu ao perceber que eu estava flutuando, nem a ouvia.                                     “Amiga do céu, o que aconteceu aqui? Você parece que ficou em transe por causa dele. Você o conhecia?” “Que nada, moça. Nunca o tinha visto antes, mas não parava de me olhar da mesa dele, e tem algo que não sei explicar, me deixou arrepiada, tremendo. Ninguém nunca flertou comigo daquele jeito. Acho que vou ligar pra ele."                                   Você tem certeza? E se ele for casado?” “Nada a ver, amiga”. “Ele não precisa usar aliança pra ser casado, e você sabe.” “Eu sinto que ele é solteiro, miga. Não seja neurótica. Sei que se preocupa comigo, mas sei me cuidar.” Descobri que quando estamos fascinadas (os) com alguém, nós ficamos surdas (os) pro que nos falam e sentimos. Nossas defesas, precauções vão pro espaço.  O medo de perder todas aquelas sensações tão gostosas era enorme. Será que é a carência? Não ouvimos nada além de nossas emoções, as reações de nosso corpo, os hormônios gritando: EU QUERO ELE (A) AGORA! Após me despedir de minha amiga, eu voltei ao consultório, porém, mal consegui me concentrar nas sessões. E assim que a última sessão acabou eu mandei uma mensagem para ele:”Oi Alexandre, sou Jordana, do restaurante.” Ele me ligou na hora, e conversamos por uma hora, e pensa numa conversa que fluía. Eu voltei a ser a mulher que sou, e ele é calmo, educado, mas alegre, sabe brincar e provocar de um jeito que formava um turbilhão aqui dentro, meu rosto corava. Ele disse que amou meu jeito expansivo (meu eu sabotador disse na minha cabeça: “vamos ver até quando, né? Os outros diziam isso e sumiram com uma semana ou duas”, procurei esquecer isso e me concentrar no cara), e disse que tenho um sorriso lindo. Ele realmente sabia o que dizer pra me deixar mais encantada, e louca pra estar nos braços dele o quanto antes. A gente marcou de se encontrar em um restaurante e fui com um vestido amarelo, que numa pele negra fosca, a cor se destacou bastante; um conjunto de calcinha e sutiã de renda branco; um sapato de salto alto e fino nude; maquiagem leve; cabelo com os cachos definidos dando volume; um perfume levemente adocicado e marcante. Eu estava simplesmente me achando linda. Quando cheguei ao restaurante ele já me esperava, e ao me ver seus olhos brilharam, seu olhar foi de cima a baixo me analisando, e parecia maravilhado. Eu corei na hora. Ele estava com uma calça cinza, uma camisa de manga comprida de um amarelo mais claro, com um blazer de um xadrez cinza e discreto, tinha feito a barba e o perfume. Aquele cheiro de frescor e meio amadeirado, que quando se aproximou para nos cumprimentarmos quase o agarrei e funguei seu pescoço ali mesmo, mas calma, eu me contive.                  A conversa, assim como no telefone fluiu muito, e eu não queria ir pra cama com ele aquele dia, mas estava difícil resistir, especialmente depois do beijo, uma química no beijo que me deixou sem ar, nossos peitos arfavam. Ele sussurrou no meu ouvido com a respiração ofegante “na sua casa ou na minha?” “Ainda não. Hoje vamos cada um pra sua casa”. “Eu não gosto de joguinhos, sei que você quer tanto quanto eu.” “Eu não estou de joguinho, não tenho paciência pra isso. Eu só quero te ver de novo outras vezes, e tenho receio que se acontecer hoje não terei mais notícias suas depois.” “Hmm… achei que confiasse mais no seu taco pra saber que depois de hoje eu não iria deixar de te procurar.” Eu quase caí na lábia daquele ‘safado’, aquela sua provocação eu vi como desafio, e ao contrário do que pensam, eu não cedi e fui para casa depois de uns beijos deliciosos. E se ele não me procurar mais, vou ficar chateada, porque ele tem uma ‘pegada’ forte, mas pelo menos saí da seca de dar uns bons beijos. Não consegui dormir naquela noite imaginando o que poderia ter acontecido, e cheguei no trabalho acabada na manhã seguinte, mas disfarcei o que pude, meus pacientes precisavam de mim. Carina me deixou mensagem para saber se liguei para ele e lógico que disse o que houve. Ela ficou chocada que eu resisti e não dormi com ele. me conhece há anos, e sabe como sou fogosa, mas eu não quis mais repetir meus erros. Na verdade, eu nem esperava receber notícias dele de novo, já que ele deve ter achado que fiz joguinho. Sei que ele não é os outros caras, que não deveria comparar, mas eu não queria correr o risco, e pela atitude dele de me perguntar em que casa iríamos, acho que não passaria de uma noite, e estou cheia de ter um cara para uma noite, ou uma semana. Eu me perguntei se estava agindo certo, e apesar da consciência estar tranquila, a insegurança me atormenta. Dois dias depois recebi uma ligação dele me chamando para conversarmos, e marcamos para nos encontrarmos às 7 em uma praça, onde tem uma feira. Eu vesti um vestido acinturado, e ao mesmo tempo soltinho de linho na cor palha , fiz um rabo de cavalo alto, coloquei umas argolas não muito grandes, uma sapatilha, um perfume frutado, pra dar mais frescor, pois estava tão quente aquele dia. Ele chegou depois de mim, e estava com uma camiseta polo branca, uma bermuda caqui e um sapatênis branco sem meia, sem falar no seu perfume indescritível, que me enlouquece. Ele estava um gato! Nós falamos sobre aquele dia, a gente se conheceu mais um pouco, no entanto, ele sempre me deixa na incerteza se o que diz é verdade, ou só fala aquelas coisas para me seduzir, ele parece o cara ‘perfeito’, e sei que esse homem não existe. A conversa com ele flui tão bem, não sinto vergonha de ser eu, mas e se…?Fomos para seu carro, ele me encostou no poste e me beijou; e quando me beija eu esqueço de tudo. Embora eu tenha incerteza sobre ele, seus beijos, nossa química, seu cheiro, seu jeito de conversar, estavam me deixando envolvida, não sei quanto tempo mais eu conseguiria resistir. Se na cama formos como no beijo, com certeza eu apaixonarei. Como vou descobrir se o que diz é verdade, ou não? Isso me angustia, então resisti a mais um encontro e fomos embora. Saindo do encontro fui à casa de Carina, e mesmo eu sendo a psicóloga, ela é a mais sensata das amigas para aconselhar quando preciso. Eu contei à ela como ele me fazia sentir, meu receio, e ela me aconselhou resistir ao máximo, e pegar o nome completo dele para investigarmos. "Ele me disse que era policial, mas que raramente ia para a rua, pois fazia trabalho burocrático."                        Jô, faz o seguinte: faz mais perguntas sobre o trabalho dele, qual delegacia ele trabalha, se é especializada em algo, tipo investigação, ou é só prender gente que furta, pergunte mais sobre a família dele, quanto tempo saiu da casa dos pais, se tem filhos, ou foi casado, esse tipo de coisa básica, mas espere um dia ou dois, só mande uma mensagem hoje dizendo que espera ter outro encontro com ele logo e deseja boa noite.” “Será que ele não vai desconfiar se eu fizer muitas perguntas? Não serei muito invasiva? Eu tentei fazer umas perguntas pessoais, e ele esquiva.” "Isso é estranho, Jô, mas faça essas perguntas, e se for o caso apareça de surpresa no trabalho dele depois de descobrir onde trabalha, e veja a reação dele.” E se ele não gostar? Ele é reservado, miga.” “ou está escondendo algo, né?” Eu viro os olhos. “ olha a neurótica em ação.” “não sou neurótica, só estou preocupada com você, e estranhando ele se esquivar das perguntas pessoais. E outra, se você não estivesse desconfiada não me procuraria, não se sentiria angustiada.” "Você tem razão, não quero me envolver mais com ele tendo essas dúvidas na cabeça e coração. Vou fazer o que disse. Obrigada, Ca.” Eu enviei a mensagem para ele, passei na feira, comprei um caldo de cana, pastel, mingau de milho verde e fui pra casa. Eu adoraria ter alguém para  comermos juntos, dormirmos de conchinha, mas já que não tenho, eu como enquanto assisto a um filme de romance e vou dormir.                                                         No dia seguinte eu ligo pra ele e conversamos um pouco, e sempre que tenho oportunidade lhe faço as perguntas que minha amiga me sugeriu, mas ele sempre esquivava, mudava de assunto. Quando lhe perguntei em que delegacia trabalhava, ele falou por alto, e como sempre fui boa de direção eu lembrei em que bairro ficava e me dirigi pra lá na hora do meu almoço, e dele também. Quando perguntei seu nome a um dos policiais, ele me olhou desconfiada e perguntou: "por que quer falar com ele?" "eu sei que ele está na hora do almoço, por isso vim aqui pra ter algumas informações sobre ele, que sempre se esquiva quando lhe faço uma pergunta mais pessoal. Você pode me ajudar?"  "você tem uma foto dele pra eu ver se é o mesmo cara que trabalha comigo?" "claro, tenho uma que tiramos ontem." E quando eu lhe mostrei ele ficou tenso.   "Moça, eu não deveria te falar sobre meu colega, mas não acho justo você ser enganada. Ele é casado há vários anos, tem uma família. Não sei o que ele disse a você, mas você deveria cair fora enquanto não está apaixonada, ou você já está?" "Moço, não entendi, ele sempre se encontra comigo à noite. Muito obrigada mesmo por me dizer a verdade. Não me apaixonei ainda e estava desconfiada o suficiente para  não me envolver intimamente com ele. Ele estava perfeito demais, dizia tudo o que eu queria. Por favor, não conte pra ele que vim aqui." "homens sabem como dar uma boa desculpa quando querem aprontar, e você fez bem em pesquisar antes. E se mais mulheres fizessem isso antes de se apegarem, elas não cairiam em golpes, nem sofreriam tanto. Espere um segundo." Ele foi e buscou a foto de Alexandre com a esposa e filhos, com um sorriso radiante. Eu nunca me senti tão tola, ridícula e grata a Deus por ter colocado um homem bom ali e que me disse a verdade sobre aquele canalha. " Obrigada mais uma vez." "Fique tranquila, não direi nada a ele." Tchau.                                                                               Estou tão decepcionada comigo mesma. É triste saber que quase caí na dele por causa da carência, e alívio ao pensar que foi um livramento eu saber a verdade antes de me entregar totalmente pra ele, então eu o bloqueei.   Foi uma decisão difícil, pois há muito tempo não encontrava um cara com uma química como tive com ele, mas procurava uma conexão emocional também, e isso eu nunca teria com ele. E me fechei de novo para o amor, e agora nem a carência me faria ficar com mais alguém. Vou focar em mim. Carina me ligou e conversamos por  um tempão, ela me deu o maior apoio moral e comecei a me sentir melhor.                                 Tinha algo que eu não esperava. Na verdade, nem pensei na possibilidade que ele me procuraria na internet, e quando cheguei ao consultório ele me esperava na recepção, quase caí de susto, meu rosto ficou sem cor na hora.  Ele percebeu, me ajudou a me sentar numa cadeira e me perguntou se eu estava bem. " Não, Alexandre, não estou bem. O que faz aqui? "Aline, pegue um copo de água na copa pra mim, fazendo o favor", "claro, doutora". Assim como você me pesquisou na internet pra saber onde eu trabalho, eu também fiz o mesmo e descobri que você é casado e tem filhos, canalha" falei isso baixo o suficiente pra Aline não ouvir e assim que tomei água  o encaminhei pra minha sala. Eu só tinha paciente dali dez minutos. " você falou sobre nós pra Aline?" "Não, ela tentou especular, mas eu só disse que era um colega da faculdade e que passei pra dar um oi. Fiz mal?"   "Não , tá tudo bem. Só queria entender. por que não me disse a verdade? Eu tinha o direito de saber e escolher se queria me tornar sua amante, ou cair fora." " você já escolheu cair fora, Jordana. Eu fiquei com medo que você reagisse mal, e vejo que soube sozinha e reagiu sumindo, me bloqueou. Eu esperava mais maturidade de você." Hahaha. Mais maturidade? Sério? Você é ridículo, Alexandre." "Você toparia ser minha amante se você soubesse por mim, e não pela internet?" "Talvez... eu não sei, mas vi que não posso confiar em você, e o que quero você nunca me daria. E pensando melhor agora olhando pra você, não, eu não seria sua amante, não faria isso com sua esposa. Nossos beijos, nossa química foi maravilhosa, mas preciso e mereço mais que só noites calientes. Agora vá  cuidar do seu casamento e me esquece. Adeus, Alexandre." Quando ele saiu da sala sem dizer uma palavra, e de cabeça baixa, Aline entrou e pelo jeito que me olhou percebi que ouviu tudo atrás da porta. " O que foi, Aline?" "Nada, doutora, é que se a química de vocês era tão boa, por que não transou com ele pra ver se só o beijo era bom? Eu teria ido até os finalmente, e ele é gato. " "Porque eu sentia um alerta que havia algo de errado nele,  pois era muito perfeito pro meu gosto, dizia tudo o que uma mulher quer ouvir, eu não sentia espontaneidade nele, sinceridade, era só mais um cara a fim de sexo, e eu não quero só isso, encerrei o ciclo. Cansei desse tipo de cara, Aline. Avise-me assim que o paciente chegar.  Deixe-me sozinha, por favor. Terminei de tomar minha água e refleti sobre nossa conversa, mandei uma mensagem pra Carina dizendo que ele veio aqui, e que mais tarde eu daria os detalhes. Conheço minha amiga, deve estar se roendo de curiosidade. Eu rio sozinha quando Aline diz que o paciente chegou. Então,  eu me posiciono e começa mais um dia de trabalho.         Fui fazer um curso para me especializar mais na área, estudar pra ocupar a mente, e talvez preencher algo que está vazio aqui dentro, só não consegui ainda. Eu voltei a sair com as meninas, ou passar um tempo com meus tios que me criaram como filha, quando eu tinha um pouquinho de tempo.                                        Esqueci de dizer, minha mãe morreu quando nasci, e meu pai me deixou com a irmã da minha mãe, e nunca mais eu soube dele, nem quero saber. Eu dou valor a quem me deu e  me dá amor até hoje. Eu fiz muita terapia antes de decidir ser terapeuta e conseguir perdoa-lo, não permanecer com essa mágoa que me consumia e o sentimento de rejeição da única pessoa que deveria me amar e cuidar de mim, mas não quero vê-lo.                                                                     Carência? Claro que sinto... Eu sinto falta dos beijos, dos toques no rosto, carícias, palavras de amor, não sou de ferro. Mas decidi que vou seguir em frente com minhas coisas: trabalho, estudo, curtindo as pessoas que amo...  Não vou me deixar levar por conversa ou olhar que arrepia, não quero mais sofrer. Eu sinto falta de um relacionamento de verdade; um que dure por anos, não só umas semanas. Quem sabe um dia eu vá me curar de verdade, e perder o medo de cair numa furada?  Claro que vários  caras se mostram interessados, mas nenhum me toca de verdade, nem me faz sentir aquele frisson.             Só espero que não demore muito, pois o tempo está passando como um raio. Eu permaneço sendo a Jordana expansiva, alegre, que ama viver e ajudar, ou seja, amando ser eu mesma.  




 


domingo, 15 de dezembro de 2024

MAIS UM FIM DE ANO

 

Mais um fim de ano chegando.


O tempo tem passado tão rápido, embora uns meses para muitos pareceu durar uma eternidade.


E é tão louco, porque às vezes perdemos a noção de que dia da semana estamos. 


Que dia é hoje? É o que mais ouvimos.


O dia é quarta, e quando nos damos conta já é sexta.


Sábado e domingo passam como um raio, e logo começa mais uma semana.


Ficamos até na dúvida se algo aconteceu esse ano, ou ano passado. 


Mais um natal chegando: casas decoradas, luzes piscando, compras de presentes... 


Isso traz vida à cidade e alegria, ânimo nas casas para prepararmos a chegada do Salvador em nossos corações.


Festas, confraternizações, amigos secretos, programas especiais na tv...


Isso nos faz esquecer um pouco da tragédia do Sul; da violência que assistimos; dos problemas diários, e das dores interiores.


E o mais importante: Natal é o nascimento de Cristo. 


Embora muitos se esqueçam:


É por Ele que esperamos.


 É Ele que nos dá força para nos levantarmos todos os dias.


 Ele nos dá esperança de um próximo ano melhor, de sermos pessoas melhores.


Damos graças por tudo de bom que recebemos; e pelos livramentos que Ele nos dá mesmo sem sabermos.


Nem sempre agradecer é fácil quando perdemos as pessoas que amamos, e as dificuldades que tivemos.


Às vezes é difícil até ter fé diante de tudo isso.


Superamos tantas coisas que pensamos que não conseguiríamos.


Tivemos coragem de nos desafiar, de irmos além; de procurarmos ajuda quando não damos conta sozinhos.


E nos orgulhamos por cada conquista.


Época de resoluções; esperança; fé; agradecimentos à Deus; e reunir com as pessoas que amamos, seja família ou amigos.


Isso tudo é o que vale a pena.






  

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

A MENINA DE ONTEM E A MULHER DO FUTURO

 Revisando alguns textos e poemas me fez refletir.

Será que realmente eu amei algum dos caras que me inspiraram a escrever todas aquelas coisas?

Será que era amor, ilusão, carência,  romantismo, ou falta de amor próprio que me fez aceitar tantas migalhas e  achar que era muito?

Ou tudo isso junto?

Meu senso de merecimento  é tão baixo assim?

Isso entristece meu coração. 

A época era diferente, eu sei.

 Não tinha a tecnologia; nem os pensamentos, ou as atitudes de agora.

 Independente de orientação sexual.

A gente acreditava até em príncipe encantado; em relacionamento pra vida toda; em amor puro, sincero, romântico...

 Não era só uma atenção intensa, um interesse que te faz acreditar que agora vai dar certo; ouvir frases como eu te amo; você  é especial; você é diferente, até levar você pra cama e depois sumir, "esfriar" contigo.

Hoje tudo é tão fugaz, rápido como  a internet.

E com  o interesse de qual bem vai adquirir no término.

É até chocante pensar numa coisa dessas.

Desanima pensar em se relacionar ultimamente, ou no futuro.

Quando achava que amava e  que era correspondida, colocava todo meu coração, meu sentimento mais sincero e puro, tudo no papel. 

Era tudo tão real, bonito.

Por mais ingênuo e diferente que pareça hoje, até mesmo pra mim.

Não quero mais aceitar tudo só pra estar com alguém, pra não ser deixada.

Não quero  amanhã fazer mais do que devo, implorar por atenção só pra ser lembrada, notada por quem eu gosto, e ele nem aí.

É humilhante demais, e há uns dias percebi isso.

Se um dia me relacionar, a cabeça e as atitudes serão diferentes.

Porque eu não serei mais aquela menininha de umas décadas atrás.


sábado, 31 de agosto de 2024

A DOR POR TRÁS DO RISO

 

Está tão difícil viver hoje em dia.

Já houve várias guerras no Brasil, no mundo e estão havendo, na verdade.

E não quero menosprezar nada. 

Quem sou eu pra fazê-lo?

 Eu estou bem longe de saber o que aquelas pessoas passaram, passam, ou suas famílias. 

Há vários tipos de lutas por aí.

A luta interior que ocorre dentro de nós mesmos é tão tensa.

Às vezes até pior do que a que temos todos os dias no trabalho, em casa...

Tudo dói. Parece que tem algo tão pesado sobre os ombros.

E me pergunto: até quando essas dores vão permanecer?

Cada pessoa tem suas dores, pesadelos que muitas vezes passam pra problemas físicos. 

Será o peso da armadura que "vestimos" para nos protegermos de mais dores? 

Não dá pra imaginar que por trás de um sorriso, uma risada alegre há uma dor profunda, perdas, traumas e um peso imensurável sobre si mesmo.

Tem horas que me pergunto se sou fraca, se não estou fazendo tempestade em copo d'água com meus problemas.

Há tantas pessoas em situações bem piores do que a minha. 

Pedir, procurar ajuda é ato de grande coragem. 

Se sentir que precisa, que não suporta a armadura peça ajuda pra tirar.

 Você consegue superar e sair forte. 






domingo, 14 de julho de 2024

TANTOS PORQUÊS

 Você me faz pensar sobre tantas coisas:

Tantos porquês.

Por que acha que não merece ser bem tratada? 

Por que você não consegue se acolher?

 Acolher aquela menina que está aí dentro. Ela precisa de você.

Por que não consegue perdoar-se?

Por que é carinhosa, cuida dos outros e não de você?

Por que se trata como sua maior inimiga?

Por que  você cobra tanto de si mesma, e é tão dura contigo?

Por que não acredita nas pessoas quando falam bem de você?

 Você desconfia delas, mas acreditaria se falassem mal.

Por que você permite que as pessoas te desrespeitem, e falem coisas ruins pra você?

Eu sinceramente não sei dar essas respostas, e isso me angustia.

Eu sei que eu não tenho culpa da deficiência.

Ela foi consequência da Artrite Juvenil, da demora do diagnóstico.

Mas por que isso tudo que disse  antes aconteceu por causa dela?

Eu nem sei dizer desde  quando começaram esse maus tratos comigo mesma, esse "auto-açoitamento", essa permissividade que só tem me magoado. 

Dizer NÃO, falar o que sinto e penso é quase uma tortura.

Permitir ser vulnerável  é um desafio enorme para mim.

É tão exaustivo ter que ser forte o tempo todo.

A única coisa que me pergunto é:

 Por que não comecei a me cuidar antes?

 E olha que já  tive oportunidades e não aproveitei.

Baixíssima autoestima; timidez/ solidão; rejeição dos caras... Com certeza tudo colaborou.

Por que deixei chegar ao ponto que estou hoje?

De parecer que  tenho "TOC", de sentir necessidade de controlar tudo à minha volta, de sentir útil às pessoas a minha volta, competente o tempo todo no trabalho.

Ansiedade que não passa, parece que só aumenta.

Não paro de me comparar e isso me deixa triste.

A comparação faz detestar a mim mesma, não aceitar o meu corpo, minhas limitações, mesmo depois de tantos anos.

A gente se xinga, fica com raiva de si mesma, e por que não dizer, de Deus também?

Isto abala a fé, que nem sei se tenho mais.

Falar que é só parar  de se cobrar,de  se comparar, que tem que não sei o quê, isso é fácil. 

Tudo é um processo.

39, 20, 10 anos... Não vão mudar da noite pro dia.

É preciso começar a querer mudar:

não permitindo os pensamentos negativos, auto cobrança, desrespeito dos outros... 

Um dia de cada vez,como diz minha amiga.

Se você está começando a fazer tudo que eu disse no por quê...?além da necessidade de controlar tudo, procure ajuda..

 Você não tem que chegar aonde cheguei. 

É um sofrimento desnecessário, se você pode se cuidar antes.


sábado, 25 de maio de 2024

JULIANA


 Romário é sempre brincalhão, porém, gentil, educado com todos: sejam eles pacientes, colegas ou médicos. Como nunca percebeu ou sentiu um clima entre eles, então Juliana prefere ficar na dela, esperando uma atitude dele. Ela nunca foi de sair com vários caras, e admirava, ou invejava as meninas que eram mais ousadas, que chegavam nos homens, que ficavam de forma casual. Ju sempre gostou de algo mais sério, no entanto, seus relacionamentos nunca duraram muito, seja por imaturidade, apego muito rápido, insegurança dela; ou irresponsabilidade afetiva, falta de interesse em compromisso, grosseria da parte deles. Algo que ela não admitia, por isso admirava tanto o jeito de Romário, além do sorriso branco, seu perfume que dava vontade de agarrá-lo e ficar cheirando o pescoço o tempo todo, mas precisava me controlar, por isso evitava ir à área de atendimento. Um hábito constante em sua vida: conter-se.   

A vida de Juliana baseia-se em: trabalhar; cuidar dos pais (o que pode levar muito tempo do dia dela); manter a casa arrumada; fazer comida; ter paciência; ficar de olho em tudo; e pagar as contas. Ela se sentia sem motivação, entediada, pode-se dizer que se sentia infeliz.

Para os colegas de Juliana, sua vida era maravilhosa, pois não era casada, nem tinha filhos. Era como se não tivesse problemas na vida, e que só eles tinham contas a pagar. Quem dera, ela pensava. Aquela mulher desistiu de gastar sua energia tentando mostrar aos outros que sua vida estava longe de ser perfeita, e que seus gastos eram tão grandes quanto os deles. Não valia a pena ficar falando, então dava seu sorriso amarelo para evitar mais conversa fiada. 

Um dia foi à casa de Diana, onde conheceu Jean, o cunhado de sua amiga, e percebeu uma troca de olhares entre eles. Jean sempre dava um jeito de se aproximar dela e puxava assunto, a provocava. Ele era engraçado, mas não era daquele tipo de cara que quer ser engraçado à todo custo, e acaba se tornando insuportável.  Ela se perguntou por que não conhecê-lo melhor, ver o que ele quer. Romário não faz nada e ela já estava cansada de esperar. Aquele rapaz era mais baixo do que o último rapaz com quem saiu. Aparentava ser mais novo, no entanto, ele teve a atitude de lhe pedir o número de telefone. Assim que ela foi embora da casa de Diana ele ligou e conversaram por umas horas. A conversa fluía tão bem, ela se sentia à vontade com ele, e assim seguiu uma rotina: eles passaram a conversar todos os dias depois que Juliana ia descansar em seu quarto, enquanto ele jantava, ou se deitava no sofá para conversarem, pois chegava tarde do trabalho. Jean era tratorista numa fazenda e morava também com os pais. Ela percebeu nele um homem bem humorado, correto, e muito sério nos seus valores. Ela começou a esquecer de Romário.

Romário, porém, começou a notar que Juliana estava diferente, e a ouviu falar sobre outro rapaz com uma colega e sentiu ciúmes, além do ego ferido. 

Ele começou a se aproximar mais dela, elogiá-la, e apesar de ser educada ao agradecer, Ju foi direta quando percebeu a intenção dele e disse lhe:

_Romário, eu estou conhecendo uma pessoa. Eu te esperei por muito tempo, mas como não tomou nenhuma atitude, então segui em frente. Quando você deveria ter feito o que está fazendo não fez. Cansei.

Ele perguntou se estava namorando, e ela lhe disse:_ Por enquanto estamos nos conhecendo, e não temos pressa. 

_Podemos ser amigos, pelo menos, Juliana?

_Por que agora, Romário? Acho melhor deixarmos como estava. Tchau.

Ele ficou cabisbaixo por dias e pensava como podia ser tão idiota por perder uma mulher como ela. Ela não lhe deu esperança alguma, nem sua amizade queria. E agora ficaria chupando dedo.

As conversas estavam ficando cada dia melhores. Jean era um homem tímido, respeitador e também brincalhão quando conhecia melhor a pessoa, o que a deixava encantada. Ela se perguntava quando ele a chamaria pra sair. 

Jean finalmente criou coragem para convidá-la para sair e os dois foram a um parque de diversões. 

Ele a encorajou a andar com ele na montanha russa pela primeira vez, enquanto o carrinho subia ele segurava a mão dela, mostrando-lhe apoio.

Ju conseguiu se abrir com ele e lhe contou como se sente sobrecarregada, o quanto é exaustivo manter tudo em ordem, estar sempre no controle, ser forte o tempo todo. Algo dentro dela dizia antes de ela falar para não fazer aquilo, que parecer vulnerável poderia fazê-lo perder a admiração, interesse por ela. Ela ficou em silêncio por uns minutos, bem reflexiva se falava ou não. Tudo estava tão bom, não queria que se afastasse dela, como os outros fizeram. No entanto, ela sentia que suas emoções estavam para explodir a qualquer momento.

_Ei, Ju, está tudo bem? Ficou quieta de repente. Ele a olhou nos olhos e viu angústia. A primeira atitude que teve foi abraçá-la com força, protegê-la, seja lá do que fosse.

Ela, no entanto, não resistiu e desabou, chorava nos braços dele compulsivamente. Depois de se acalmar,  muito envergonhada pediu desculpas.

_Desculpa, Jean, não deveria ter estragado nosso passeio, a gente estava se divertindo. Não sei por que fui tão fraca e desabei assim. 

Ele colocou o dedo em seus lábios a silenciando.

_Você não precisa se desculpar por isso, e nem estragou nosso passeio, que pra mim, está perfeito, Ju. Eu vi angústia em seus olhos, e mesmo sem saber o que estava acontecendo, eu senti que você precisava daquele abraço e fiz. 

Ela deu seu melhor sorriso para agradecer e contou como se sente, e que não poderia ser assim, que estava pensativa, pois não sabia se deveria contar-lhe sobre seus sentimentos, incluindo sobre como se sentia quando conversava com ele. Algo dentro dela dizia que se falasse ele se afastaria, perderia a admiração por ela.

_Ju, espero que saiba que nem sempre podemos ouvir nossa voz interior, ela pode nos sabotar e muito. Eu sou sim, dez anos mais novo que você, mas eu nunca seria infantil ao ponto de me afastar de uma mulher como você, só por me mostrar quem realmente é, e expor suas emoções, que eu percebi que é difícil pra você. Eu realmente agradeço por confiar em mim. Eu sinto do  mesmo jeito sobre você e não, não perdi a admiração por você, ao contrário, ela aumentou, pois não quero uma mulher forte, heroína o tempo todo, é chato pra dedéu. Eles riram. Eu estarei sempre com você, se quiser. Eu estou louco pra te beijar, mas antes disso quero ser teu amigo, que possamos ser nós mesmos um com o outro.

Ela não pensou duas vezes e o beijou. Ele foi bem receptivo e o beijo foi indescritível.

Ele a pediu em namoro e passou a ajudá-la cuidando dos pais dela quando estava de folga, ou eles iam a casa dele passar um tempo com a família daquele rapaz. Ás vezes ela levava os pais dela também e passavam horas muito boas juntos. Os pais dele receberam-na tão bem e não ligaram para a diferença de idade deles. A mãe dele disse que Jean sempre foi maduro para a idade dele desde pequeno, e se ele a escolheu era porque viu que era a mulher certa. E pelo que tinham conversado, ela percebeu que o filho estava certo.

Juliana ligou para Daiana e disse que estava namorando Jean, e a amiga ficou muito feliz por ela. Juliana estava só há tanto tempo, e mesmo com a cuidadora para ajudar a cuidar dos pais, percebia o quanto estava solitária e precisava de apoio. Daiana se sentia uma péssima amiga, às vezes, por ficar em sua casa cuidando de tudo e não ir ajudar Ju, mas cuidar de um lar, e de uma família era bem cansativo. Ultimamente a única coisa que queria era deitar e dormir depois de fazer tudo. Ela sabia que não era desculpa, mas não tinha energia nem pra sair de casa. Daiana disse isso a Ju uma vez como se sentia, a amiga a abraçou, compreendeu e nunca a julgou ser mà amiga por isso, pois ela também não tinha energia pra nada. Quando a cuidadora não ia ao fim de semana, ou por algum motivo importante, sua rotina virava do avesso, ela pensava que iria ficar louca. A sua sorte é que várias vezes podia contar com a vizinha, Joana, que a ajudava durante a semana, ou se saía com Jean. Aquela senhora sabia o quanto era difícil pr’aquela moça fazer tudo sozinha e a admirava. Ela via o quanto Ju precisava de um descanso, e por isso fazia companhia aos pais dela.

Apesar de Jean fazê-la muito feliz, ela precisava de mais, pois ele não podia ser o único meio de se sentir feliz, realizada. Ju não estava feliz em seu trabalho, precisava se descobrir: saber o que queria pra vida dela, aonde quer chegar, do que gostava, pois tem feito tudo tão no automático nos últimos anos, que esqueceu de si mesma. Ela resolveu então tirar um fim de semana pra si mesma, longe de todos e de tudo que a preocupava, então pediu a chácara de Daiana emprestada para passar um momento sozinha e refletir, se autoconhecer. Foram dois dias muito intensos, reflexivos e ela resolveu que procuraria outro emprego, enviando vários currículos online, e que faria aula de violão em casa, assim, ela poderia estar atenta ao país dela. Violão é um instrumento que ela sempre gostou do som, e admirava quem tocava bem. Ela só ficava ansiosa se daria conta de tudo. Ju estava tensa, temerosa, pois não sabia como Jean reagiria ao lhe contar sobre suas reflexões e decisões. Ele a abraçou e disse-lhe que ajudaria, que ela não estava só, e que queria vê-la feliz. Ela ficou tão comovida com a reação dele que seus olhos derramaram as lágrimas mais felizes que ela já derramou em toda sua vida. Antes eram lágrimas de medo, solidão, e tristeza, por causa dos relacionamentos anteriores.  Aquele homem em sua frente, com os olhos brilhando e o sorriso iluminado olhando pra ela era realmente o amor da sua vida, e não abriria mão da relação que eles têm. Ela sabia que futuramente se casariam, era o destino deles.  

Juliana amava trabalhar com pessoas, embora muitas vezes elas podiam estressá-la com o número de problemas que lhe traziam, além da grosseria, incompreensão, e raramente era ríspida com algum paciente. Suas colegas sempre diziam que ela era muito paciente, que não sabiam como ela conseguia. Simplesmente queria atender ás pessoas como ela gostaria de ser atendida, com boa vontade, interesse e resolver tudo que estava ao seu alcance. No entanto, Ju não quer mais trabalhar na área da saúde, era muito desgastante e triste, sombrio.

Passaram-se seis meses até conseguir uma entrevista e depois várias outras empresas entraram em contato e após oito meses ela conseguiu um novo trabalho para lidar com as relações de trabalho em uma empresa de publicidade. Foi muito bom mudar de ares, mas ao mesmo tempo, era bem difícil para ela sair de um lugar em que aprendeu tanto, passou doze anos, conviveu com colegas que considerava tanto, outros nem tanto; um lugar em que fez amizade com vários pacientes, e sentiria saudades, mas precisava seguir em frente. Foi um dia de muita emoção para todos: muitas lágrimas, abraços, bilhetes cheios de carinho e amor, embora despedida nunca seja fácil.

Achou que era só isso? Aquela nova versão de Juliana queria se superar, então começou fazer uma pós-graduação nos fins de semana, na área em que começou a trabalhar.  

Ela estava tão ansiosa e com medo de não ser bem-vinda, de ser ignorada, de tratarem-na mal, mas quando o diretor a apresentou aos outros seus receios caíram por terra, e todos foram educados, gentis com ela. O coração dela bateu aliviado.

 Sua vida estava mais corrida do que nunca, e apesar de quase não conseguir ver Jean, quando estavam juntos viviam momentos únicos. Ela estava se sentindo realizada, bem consigo mesma. Ele estava tão feliz por tê-la em sua vida que lhe pediu em casamento com um anel simples de ouro, mas que tem economizado por alguns meses para comprar. O amor deles era profundo, sincero e estavam preparados para enfrentarem tudo juntos. Eles sabiam que o casamento não é um mar de rosas, que tem mais desafios do que momentos bons, que é preciso respeito, admiração, ceder, perdoar, ter paciência, diálogo e companheirismo para o amor durar e o carinho permanecer até que a morte os separe. Eles não estavam romantizando o amor, eles ouviram tanto os conselhos da mãe de Juliana e dos pais de Jean, que estavam cientes sobre o que é casamento e mesmo assim estavam dispostos a tudo.

Um ano depois do pedido eles se casaram e foi algo simples, pois casaram no civil, e na igreja foi algo bem mais barato e discreto do que os casamentos de hoje em dia. Porém, havia muita gente celebrando com eles. Houve um almoço com pratos que o casal amava, como uma deliciosa macarronada com molho branco e molho vermelho, um pernil assado, de entrada patê com torrada, petiscos como presunto, queijo, azeitonas, e um delicioso bolo de sobremesa, além de sucos e refrigerantes já que o casal não bebe bebida alcoólica. Juliana e Jean ajudaram a mãe dele nos preparativos na chácara, até a mãe de Ju ajudou no que podia, como cortar verduras e legumes para a comida. A festa tinha muita música e alegria.

 A vida a dois teve muitos percalços, como a morte do pai de Ju, uma perda muito dolorosa pra ela, visto que era muito apegada a ele,embora não a reconhecesse mais, a infância e adolescência dela era muito marcada pela presença e carinho dele. A descoberta da diabetes na mãe de Jean, que precisou cortar ou reduzir várias coisas na alimentação, como massas e doces também foi alvo de preocupação para todos, pois sabiam os problemas que ela causa se não é controlada. 

Apesar de tudo isso e dos desafios de trabalhar, estudar, cuidar da casa, de Jean, ela estava feliz com suas conquistas.  E mesmo que se preocupe com sua mãe morando só, ela liga sempre, e a visita, já que sua mãe não quis sair de casa. Ju e Jean decidiram esperar mais uns anos para crescer a família. Enfim, a vida dela não é perfeita, mas está na busca constante de ser uma versão melhor de si mesma todos os dias. 

 

 

sábado, 11 de maio de 2024

ESPERANÇA EM MEIO AO CAOS

 É triste ver o sofrimento de tanta gente.

Quase um estado inteiro devastado pela chuva.

Chuva que causa dores pelas perdas de pessoas que amam; pelos bens materiais que conquistaram com o suor do trabalho.

Por não saberem para onde vão voltar quando todo o caos acabar.

É igualmente triste ver pessoas que se dizem "seres humanos" se aproveitando do sofrimento alheio pra roubar, invadir casas... É injusto e cruel.

Mas tudo tem um "lado bom".

Temos visto a compaixão, a preocupação com o outro. Tantas pessoas querendo ajudar, seja  aqui no país ou fora dele. 

Parece que o ser humano ainda tem esperança. 

Não é um caso perdido. 

Pessoas ruins e boas, disso é feito o mundo. 

Só devemos orar pelas pessoas do Rio Grande do Sul e ajudarmos como temos feito até agora. 

É disso que precisam...

 Terem esperança, e saberem que não estão sozinhos pra conseguirem se reerguer depois de tudo que estão passando.


JORDANA

Cara, tenho pensado tanto em minha vida ultimamente: os erros, acertos, arrependimentos, medos… Mas vou voltar uns anos para vocês enten...